Míriam Leitão
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Míriam Leitão

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Informações da coluna

Os planos de saúde querem colocar para dentro do sistema da saúde suplementar um mercado que estimam seja de 40 milhões de usuários de clubes de benefícios e cartões de desconto que oferecem acesso a consultas e exames. É isso que está por trás da ideia que volta a ser discutida da oferta de um plano exclusivo para consultas exames, chamado no passado de plano popular.

Na verdade, já existe regulamentação legal para plano de saúde sem cobertura para internação, eles são os chamados planos ambulatoriais e são ofertados, ainda que em pequeno número, no mercado. Esses planos, no entanto, garantem aos seus usuários, além de exames e consultas, o acesso a terapias - das banais fisioterapias aos tratamentos oncológicos, passando pelo atendimento a transtornos como TEA - e preveem também 12 horas de tratamento hospitalar em caso de urgência e emergência. É justamente as terapias e essa possibilidade de atendimento hospitalar que as operadoras querem tirar da frente para concorrer com o mercado de cartões de desconto em saúde.

Gustavo Ribeiro, presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), pegou a ponte a área de São Paulo para conversar com o blog no Rio, nesta quarta-feira, e garantiu que essa proposta não foi colocada à mesa na conversa com o presidente da Câmara, Arthur Lira, na semana passada, quando o setor se comprometeu, verbalmente, a interromper rescisões unilaterais de contratos, após os casos irem parar nos jornais e a ameaça de instauração de uma CPI no Congresso. Ribeiro explica, no entanto, que essa é uma das propostas que deve ser discutida à frente pelas operadoras com o Lira, que disse que ouviria conselhos de medicina e entidades de defesa dos consumidores sobre o setor.

Ribeiro alega que hoje esse mercado não é regulamentado, diferentemente do que acontece com o serviço prestados aos pouco mais de 51 milhões de usuários da saúde suplementar, e que entrada das operadoras nesse segmento traria mais segurança aos consumidores.

- O plano ambulatorial teve o custo inviabilizado pelas terapias. Hoje ele não tem um preço competitivo com o plano de referência que inclui o atendimento hospitalar. Quando a lei dos planos de saúde foi feita, em 1998, a realidade de terapias era outra, as tecnologias evoluíram muito e os custos também. O mundo mudou e o sistema precisa ser revisto. Hoje as 40 milhões de pessoas atendidas pelos cartões de desconto não podem abrir uma NIP (registro de queixas à ANS), não têm com reclamar e nenhuma regulamentação sobre o setor que as proteja - argumenta Ribeiro.

Gustavo Ribeiro, presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), diz que é preciso revisar a lei de planos de saúde: o mundo mudou — Foto: Divulgação
Gustavo Ribeiro, presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), diz que é preciso revisar a lei de planos de saúde: o mundo mudou — Foto: Divulgação

Uma questão que se impõe ao se discutir planos de saúde sem internação ou terapias é como seria a inclusão desses novos usuários da saúde suplementar ao retornar a fila do SUS para cirurgias e tratamentos. Passariam à frente dos brasileiros que não tem acesso sequer a esse plano básico? Retornariam ao fim da fila para repetir todo o processo de diagnóstico? Ribeiro não nega que essa é uma discussão válida, mas afirma que na prática, a fila do SUS já vêm sendo "furada" pelos usuários dos cartões de desconto.

- Não é coincidência que muitas clínicas estejam localizadas ao lado de hospitais públicos- diz o presidente da Abramge. E acrescenta: - Num plano de consulta e exames oferecidos pelas operadoras poderíamos pensar em alguma contrapartida, por exemplo, ao atendimento feito pelo SUS.

Ribeiro diz que não tem um modelo pronto para apresentar, mas afirma que a revisão da lei de planos de saúde precisa ser feita diante da mudança do cenário não só das tecnologias e do que isso envolve em custo de saúde, mas da própria realidade da população e toca em outro assunto espinhoso: o reajuste por faixa etária.

- Até ser promulgado o estatuto por idoso, as faixas etárias de reajuste iam até 80 anos. Se antecipou o reajuste para 59 anos, que poderia ser diluído por outras faixas, e isso acontece justamente quando a perspectiva de vida da população aumenta - pondera

O posicionamento do presidente da Abramge entra em rota de colisão com os representantes dos consumidores que alegam que os planos de saúde têm reajustes expulsórios de idosos e que justamente os mais velhos foram os mais afetados pelo cancelamento dos contratos. Nesta quinta-feira, o presidente da associação de planos de saúde vai receber na sede da entidade, em São Paulo, representantes de entidade de defesa dos consumidores para falar sobre o setor, o que é bom sinal, pois cada um do seu prisma tem a certeza de que o algo precisa mesmo mudar.

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