Míriam Leitão
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Míriam Leitão

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A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou ontem um projeto de lei que reduz a proteção ambiental em áreas não florestais, mas nem por isso menos importantes. Na prática a regra permite que campos nativos passem a ser considerados áreas rurais consolidadas e a serem exploradas. E isso pode ter um efeito devastador. Para se ter uma ideia os campos nativos representam quase metade do Pampa e do Pantanal, 9% do Cerrado.

Um agravante é o fato de que a discussão feita na CCJ tem caráter terminativo. Ou seja, pelo regulamento o projeto de lei pode não ser votado em plenário e ir direto ao Senado sem um debate mais amplo dos riscos que essas mudanças no Código Florestal Brasileiro poderão causar. Para que o tema tenha que ser submetido ao plenário da Câmara é preciso que haja um requerimento assinado por, ao menos, 10% dos parlamentares da Casa no prazo de até cinco sessões.

E é preciso entender que mesmo áreas não florestais são parte do ecossistema, quando são vegetação natural. E nos nossos biomas há esses campos gerais, campos de altitude e campos nativos que são vegetação natural e não pasto, como pode parecer para um olhar menos informado, e são importantes para o equilíbrio e para a diversidade dos biomas.

Fiz uma reportagem sobre o Pampa e a gente tinha que se abaixar para olhar no chão toda a biodiversidade presente ali. E é fundamental para o clima na região. O mesmo acontece no Cerrado, no Pantanal, na Caatinga, na Mata Atlântica. Não é por não ter árvore que não há diversidade naquela vegetação. Essa é primeira confusão que precisa ser desfeita.

A segunda é o fato de que há áreas que foram desmatadas, ou porque o proprietário não está respeitando a reserva legal ou porque ocupou a área pública. Eles querem que tudo seja considerado “áreas consolidadas”e destinadas à produção rural. Derruba a mata hoje, no ano que vem já estão dizendo que é consolidado, que está tarde demais para recuperar. Isso é uma balela, não se pode permitir que haja a convalidação desses crimes e nem, por outro lado, atacar esses campos naturais sem ouvir os especialistas.

Dados divulgados pelo Imazon mostram que 68% da área desmatada em fevereiro é privada ou sob diversos estágios de posse. O que é um sinal de alerta. Esses biomas são uma riqueza, um patrimônio brasileiro. E é preciso entender que eles estão interconectados, um depende do outro. A preservação de um protege o outro.

Essa, aliás, é mais uma matéria perigosa, defendida pela bancada ruralista. E eles estão atirando no próprio pé. Os últimos eventos, como as enchentes no Sul, mostraram que o agronegócio é um dos setores o mais expostos às mudanças climáticas pela própria natureza da atividade agrícola. No entanto, o segmento insiste em atacar o meio ambiente, colocando em risco a sua própria sustentabilidade futura. É incompreensível o volume de más ideias que o setor tem promovido.

Cada vez mais alternativas vem sendo desenvolvidas mostrando que o agronegócio pode avançar sem ameaçar o meio ambiente. E quando a gente fala de mudanças climáticas ainda não chegamos ao ponto de não retorno, então não podemos andar na contramão e flexibilizar regras que nos garantem a preservação de nossos biomas.

Há projetos muito interessantes, com financiamento do o BNDES com o Fundo Clima, investidores privados falando em regeneração, em reflorestar a Amazônia para cumprir a nossa meta de redução dos gases de efeito estufa e, ao mesmo tempo, proteger o sul da Amazônia, que tem sido a parte mais exposta do bioma, uma região onde já nos aproximamos muito do ponto de não retorno.

Mas não podemos nos concentrar só na Amazônia. Cerrado, Pantanal, Pampa, Caatinga, Mata Atlântica todos precisam ser protegidos e regenerados. É absurdo os ataques frequentes que surgem no Congresso Nacional.

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