Merval Pereira
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Merval Pereira

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Merval Pereira

Participa do Conselho Editorial do Grupo Globo. É membro das Academias Brasileira de Letras, Brasileira de Filosofia e de Ciências de Lisboa.

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GERADO EM: 23/06/2024 - 04:30

Fortalecimento da direita e desafios para Lula no cenário político

A direita internacional se fortalece no confronto com a esquerda e o centro. Lula enfrenta desafios para encontrar um substituto, enquanto Bolsonaro busca acelerar a polarização. O PT depende de Lula, mas Haddad surge como uma possível alternativa. As eleições na França e nos EUA também influenciam o cenário político.

A careta que a primeira-ministra da Itália Geórgia Meloni fez ao ser cumprimentada pelo presidente francês Macron, e a conversa amistosa que ela teve com o presidente argentino Javier Milei, que por sua vez declarou ter amizade pelos Bolsonaro, mostra como a direita internacional sente-se à vontade no atual confronto com as forças do centro, e da esquerda, no mundo.

O ex-presidente brasileiro não hesitou em impor um candidato de extrema direita ao prefeito paulistano Ricardo Nunes, que tentou até o fim um companheiro de chapa menos bandeiroso, mas teve que ceder à força de Bolsonaro, que parece estar disposto a acelerar a polarização com Lula. Ricardo de Mello Araújo (PL), ex-coronel da Polícia Militar e ex-presidente da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), será seu companheiro de chapa, mesmo que sua escolha tenha irritado parte do MDB, partido do prefeito, e outros partidos da coligação.

Como a opção contrária viável é Boulos, do PSOL, nada deve acontecer que prejudique a campanha de Ricardo Nunes. A não ser que o eleitorado tenha uma reação tão forte que viabilize a candidatura de Tabata Amaral, do PSB. Ou divida a força da direita com outros candidatos menores, como Pablo Marçal, enfraquecendo o grupo.

Mas Bolsonaro está forçando a polarização no maior estado do país para dar uma demonstração de força, que pode também se transformar numa derrota. O presidente, por seu lado, está aceitando a provocação, considerando o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas como seu potencial adversário na campanha pela reeleição em 2026, e tomando o presidente do Banco Central Roberto Campos Neto como seu adversário ideológico.

A dificuldade de Lula é que ele não tem substituto na esquerda, e terá que ser candidato de qualquer maneira. A direita tem escolhas a fazer, mas a esquerda não. Os governadores de direita são competitivos, enquanto os líderes da esquerda dependem basicamente de Lula, não têm luz própria. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, poderia (ou poderá) ser esse substituto, mas o presente otimista não parece ser prenúncio de um futuro promissor.

Se não se confirmarem as expectativas negativas, Haddad poderá ser o substituto ideal para o PT, mas terá, como sempre, pressão contrária dentro do próprio partido. Só disputou a eleição de 2018 porque ninguém no partido acreditava em vitória com Lula na cadeia, ao contrário da direita, que cheira a vitória mesmo sem Bolsonaro na disputa, e possivelmente na cadeia. Seria preciso uma vitória econômica vigorosa para que o eleitor acreditasse que o PT, sem Lula, terá vida própria.

Mesmo Dilma, eleita por obra e graça de Lula, não se transformou em liderança eleitoral, e foi derrotada na eleição majoritária que disputou em Minas depois do impeachment. O PT tem a vantagem de ser um partido forte e organizado, mas por isso mesmo vive amarrado a seu único líder popular. Bolsonaro, que já foi de mais de uma dezena de partidos e não lidera nenhum, mesmo o PL em que está hoje, tem uma liderança pessoal, que independe da legenda onde esteja. Lula tem ainda um problema que não afeta Bolsonaro: não pode correr o risco de terminar sua vida pública, aos 80 anos, com uma derrota para a direita.

O PL é o maior partido do país hoje por culpa de Bolsonaro, mas tem Valdemar da Costa Neto no comando. Recebe todas as homenagens, inclusive a declaração pública de seu presidente de que quem determinará a chapa do PL na eleição presidencial será Bolsonaro. No meio dessa travessia, há a eleição na França, onde existem indicações fortes de que pode fracassar a manobra de Macron de antecipar as eleições depois da vitória da extrema direita na França na disputa pelo Parlamento Europeu, e dos Estados Unidos, que pode fortalecer mais ainda a direita internacional com a vitória de Trump e, na nossa região, dar ânimo para a direita.

Capa do audio - Momento da Política - Merval Pereira
Mais recente Próxima Momento de Lula é difícil