Malu Gaspar
PUBLICIDADE
Malu Gaspar

Análises e informações exclusivas sobre política e economia

Informações da coluna

Por Rafael Moraes Moura — Brasília

O advogado Cezar Roberto Bitencourt, que assumiu no início da semana a defesa do tenente-coronel Mauro Cid, já teve voos monitorados pelo ex-juiz federal Sergio Moro e foi rejeitado em 2008 em sua ofensiva para se tornar ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

O episódio foi um dos mais traumáticos da história do STJ: quando a Corte rejeitou, pela primeira vez na História, uma lista sêxtupla da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Bitencourt era um dos candidatos da entidade a uma vaga de ministro da cota da OAB em 2008, quando a votação aconteceu. Mas nenhum dos candidatos obteve o número mínimo de 17 votos necessários para figurar na lista tríplice que seria encaminhada para análise do presidente Luiz Inácio Lula da Silva – nem o advogado de Mauro Cid, que obteve apenas cinco votos.

“A lista foi rejeitada porque a OAB queria empurrar goela a baixo o Marcelo Galvão, filho do ex-ministro do STF Ilmar Galvão”, relembra um ministro do STJ, para quem o ato de nepotismo causou a indignação da Corte. “O problema com o Cezar Bitencourt tinha a ver com o fato de ele ser aposentado do Ministério Público e estar concorrendo na vaga da OAB e não na do MP”.

Outro ministro dá uma versão mais amarga para os fatos, apontando uma rejeição generalizada aos nomes da lista e ao comportamento do próprio advogado de Mauro Cid em particular, considerado “impulsivo”: “O Bitencourt é uma espécie de elefante numa loja de cristais.”

À época, o então presidente nacional da OAB, Cezar Britto, disse que o resultado provocou “perplexidade e indignação” e uma nova lista foi feita para análise do STJ. Para evitar constrangimento, os nomes dessa segunda lista foram submetidos previamente aos ministros.

Bitencourt já tinha, então, um histórico de confronto com o juiz Sergio Moro, que era então o titular da 2ª' Vara da Justiça Federal de Curitiba.

Em 2006, dois anos antes da rejeição da lista, Moro decretou a prisão preventiva de um doleiro na véspera de uma audiência e, para garantir o cumprimento da medida, determinou à Polícia Federal que monitorasse os voos dos advogados – no caso, de Bitencourt.

Rubens Catenacci era sócio de uma casa de câmbio denunciada por remessas ilegais de dólares para os Estados Unidos e respondia por crimes contra o sistema financeiro nacional.

Bitencourt foi monitorado, mas acabou conseguindo um habeas corpus para evitar a prisão do doleiro. Em 2008, o advogado utilizou o episódio do monitoramento dos voos para pedir que Moro fosse considerado suspeito no processo.

Para Bitencourt, a decisão de Moro escancarou “a obsessiva parcialidade” do juiz, que atingia pessoalmente a própria defesa do doleiro, “violando suas garantias constitucionais e atentando sua liberdade do exercício profissional”.

Apesar do apelo do advogado, o pedido foi negado pela Segunda Turma do STF, nos termos do voto do ministro Gilmar Mendes, que anos depois se tornaria o principal crítico de Moro no tribunal por conta da Lava-Jato.

Procurado pela equipe da coluna, Bitencourt ainda não se manifestou.

Mais recente Próxima Alexandre de Moraes e Toffoli travam duelo por seus candidatos a ministros do STJ