Malu Gaspar
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Informações da coluna

Por Malu Gaspar, Johanns Eller e Rafael Moraes Moura

A operação da Polícia Federal que prendeu nove integrantes da maior facção criminosa do país por planejar o sequestro do promotor Lincoln Gakiya, o ex-ministro da Justiça Sergio Moro e outras autoridades foi baseada no relato de um ex-membro da organização que se converteu em testemunha protegida, depois de ser ameaçado de morte por um de seus líderes.

Foi essa testemunha que, em fevereiro passado, contou a integrantes do Ministério Público de São Paulo que havia um plano em curso -- e forneceu os indícios que levaram a polícia a desbaratá-lo.

Entre as informações entregues à PF estão números de celulares e endereços de e-mail de integrantes da facção criminosa que tiveram o sigilo quebrado e passaram a ser monitorados.

Ao longo da investigação, os policiais também reuniram cadernos com anotações e a contabilidade da ação, fotos dos criminosos durante a preparação e até imagens produzidas por drones dos locais onde a quadrilha se escondia.

Essas provas foram incluídas pela juíza Gabriela Hardt, que substituiu Moro na Operação Lava-Jato em 2019, no despacho em que ela determinou a realização da operação.

A juíza liberou a decisão que até então era sigilosa para o acesso do público depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que é "visível que (a operação) é uma armação de Moro"

De acordo com a decisão, que teve o acesso liberado ao público nesta tarde, o atentado seria cometido por uma ala específica da facção criminosa conhecida como "restrita". A testemunha forneceu quatro números de telefones aos policiais e também endereços de emails.

No despacho, a juíza afirma que na análise de uma conta de e-mail analisada pela Polícia Federal, a Paixaomim2000@gmail.com, "foram verificados elementos que indicam a real existência de um plano de sequestro que envolve o senador Sergio Moro (União-PR).

Segundo a testemunha, o líder do plano era Janeferson Aparecido Mariano Gomes, conhecido na facção como Nefo, Artur ou Dodge.

Um dos celulares monitorados é de Aline Paixão, namorada de Janeferson, a quem cabia guardar os códigos usados pela facção para se referir à operação de sequestro (Flamengo), ação (Fluminense) e Moro (Tokio). Nos prints recolhidos pela PF, Aline e Janeferson se chamam de "amor".

“Os fatos investigados são de extrema gravidade, sendo que o êxito da empreitada criminosa comprometerá a paz pública e o próprio funcionamento do Estado”, observou a juíza Gabriela Hardt.

A magistrada também ressaltou que os investigados tinham grande influência dentro da facção criminosa, “reconhecidos pelo uso de meios violentos para consecução de seus interesses”, justificando a prisão temporária dos envolvidos para evitar “a destruição de provas, coação e até mesmo homicídio de testemunhas, bem como a impedir a fuga dos envolvidos, além de auxiliar a colheita de provas e interromper a continuidade das práticas delitivas.”

As mensagens interceptadas na investigação detectaram ainda que um dos contatos monitorados fez um “relato detalhado” de um clube chamado Duque de Caxias, localizado no bairro Bacacheri, em Curitiba - onde está situada a seção eleitoral de Moro.

Para Hardt, restou claro “que foi cogitada alguma ação contra ele na data do segundo turno da eleição presidencial de 2022”, ocorrido no dia 30 de outubro.

A investigação também detectou que o contato “carro sem moto léguas”, codinome para Claudinei Gomes Carias, monitorou não só o clube como o endereço residencial do então senador eleito e do escritório de advocacia de sua esposa, a deputada federal Rosangela Wolf Moro (União-SP), também na capital paranaense.

A PF chegou a usar drones para monitorar os imóveis alugados pela facção criminosa em Curitiba para servir como base de planejamento do sequestro - uma delas, segundo Hardt, “ainda utilizada pela organização”.

“Ademais, com a utilização de um drone, foi possível verificar que existiam roupas masculinas no varal da casa dos fundos e toalhas estendidas na sala da casa da frente, ambas alugadas pelo grupo criminoso”, assinalou a juíza.

"Portanto, que as provas colhidas indicam que atos criminosos estão efetivamente em andamento na Cidade de Curitiba/PR há pelo menos seis meses, contando com a presença física dos investigados, compra de veículos, aluguel de imóveis e monitoramento de endereços e atividades do senador Sergio Moro", afirmou Hardt no despacho.

A PF também identificou “fortes indícios” de que Janeferson usou uma empresa de fachada, a ALP Engenharia e Construção, para ocultar o patrimônio adquirido através de atividades criminosas. A companhia estava em nome de Aline Paixão, com quem Janeferson mantinha uma relação amorosa e, para a PF, era “partícipe” das atividades ilícitas.

A ALP não apresenta empregados e tem sede em São Paulo, distante do endereço residencial de Aline. Dois veículos de luxo blindados estão registrados em nome da empresa, uma Land Rover Evoque e uma BMW X3.

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