A identificação da origem dos explosivos utilizados pelo empresário bolsonarista George Washington Sousa, preso no último sábado por planejar um atentado em Brasília, poderá ser dificultada graças à revogação assinada em abril de 2020 por Jair Bolsonaro, de duas portarias que tornavam o rastreamento de armas, munições e explosivos mais rígido.
As investigações da Polícia Civil do Distrito Federal indicam que o material apreendido na capital federal é semelhante a explosivos utilizados em pedreiras, um dos produtos controlados e monitorados pelo Exército.
Por lei, a dinamite só pode ser usada em pedreiras, mineradoras, desmontes de rochas e demolições industriais. Em tese, todas essas instalações são monitoradas pelos militares, inclusive por vídeo.
- Revogação de sigilos: Aliados de Bolsonaro dizem temer ‘pacote de maldades’ com chegada de Lula ao Planalto
Em depoimento à polícia, Sousa disse que as dinamites foram levadas do Pará, seu estado natal, a Brasília, por um homem não identificado, supostamente pelo valor de R$ 600.
Esquadrão antibomba vistoria hotel para hospedagem de Lula
![Esquadrão antibombas em hotel onde Lula ficará hospedado — Foto: Naira Trindade](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/NiTNm5RHAZ16IOUXdumVJRDHNJ8=/0x0:1200x1600/430x432/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/l/Q/NuQs4BS9Oh2DvHCmtLPg/whatsapp-image-2022-11-08-at-16.01.55.jpeg)
![Esquadrão antibombas em hotel onde Lula ficará hospedado — Foto: Naira Trindade](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/O2-PmijASUJjpWnOED99gzHjUew=/1200x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/l/Q/NuQs4BS9Oh2DvHCmtLPg/whatsapp-image-2022-11-08-at-16.01.55.jpeg)
Esquadrão antibombas em hotel onde Lula ficará hospedado — Foto: Naira Trindade
![Cães farejadores fazem inspeção — Foto: Naira Trindade](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/aLPkTZyPqEwCc30XLPbRYb91H7I=/0x0:1170x1081/216x215/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/e/I/5HjaS6QEO7hdg6RP3Bgg/whatsapp-image-2022-11-08-at-16.21.01.jpeg)
![Cães farejadores fazem inspeção — Foto: Naira Trindade](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/Mx1lofW0YOGHH2xW1xgsF8-S9HQ=/1170x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/e/I/5HjaS6QEO7hdg6RP3Bgg/whatsapp-image-2022-11-08-at-16.21.01.jpeg)
Cães farejadores fazem inspeção — Foto: Naira Trindade
Publicidade
![Grupo da PF em frente a hotel onde Lula ficará hospedado em Brasília — Foto: Naira Trindade](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/puSXSjSSzaf6MuCY5-GkFAbkAY0=/0x0:900x1600/216x215/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/j/u/RbvPfAT4Gm1jMHPerIYQ/whatsapp-image-2022-11-08-at-16.01.57.jpeg)
![Grupo da PF em frente a hotel onde Lula ficará hospedado em Brasília — Foto: Naira Trindade](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/HONAjcqdoRBDswwYa335YVEoZfs=/900x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/j/u/RbvPfAT4Gm1jMHPerIYQ/whatsapp-image-2022-11-08-at-16.01.57.jpeg)
Grupo da PF em frente a hotel onde Lula ficará hospedado em Brasília — Foto: Naira Trindade
![Esquadrão antibombas em Brasília — Foto: Naira Trindade](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/Vzt0DOnXpzLXZIk7aWt9oI4c8dM=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/L/F/Ds4NzJRoyBqahERsqALw/whatsapp-image-2022-11-08-at-16.01.56-1-.jpeg)
Esquadrão antibombas em Brasília — Foto: Naira Trindade
Publicidade
Cabe ao Exército identificar a origem do material e os responsáveis pelo desvio, mas isso deverá levar semanas, segundo declarou ao portal UOL o delegado-geral da Polícia Civil do DF, Robson Cândido.
Para fontes ouvidas pela equipe do blog, o “revogaço” de Bolsonaro, ocorrido em abril de 2020, teve implicações diretas nessa demora.
Na ocasião, com as atenções voltadas para o combate à Covid-19, o presidente derrubou medidas recém estabelecidas pelo Comando de Logístico do Exército que buscavam reforçar a fiscalização e o monitoramento dos chamados produtos controlados.
Assim, perderam efeito medidas que aperfeiçoariam a marcação e identificação de itens e embalagens dos produtos, o que tornaria o rastreamento mais eficaz. Além disso, essas informações poderiam ser acessadas por divisões do Exército em todo o país através do Sistema Nacional de Rastreamento de Produtos Controlados pelo Exército (SisNaR), o que também facilitaria a fiscalização.
- Relações exteriores: Posse de Lula vai ter o triplo de delegações estrangeiras da de Bolsonaro
O revogaço de Bolsonaro foi suspenso pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em setembro de 2021, por decisão do ministro Alexandre de Moraes. Mas o intervalo de 17 meses entre a canetada do presidente e a sua suspensão pelo STF atrasou as melhorias, que só começaram a ser implementadas em março deste ano. Em outras palavras, foram dois anos a menos no processo de marcação mais eficaz de explosivos, armas e munições para ampliar sua rastreabilidade.
“Esta revogação impediu melhorias que iriam prevenir desvios e ajudar a polícia a rastrear itens apreendidos, como é o caso dos explosivos em Brasília. Se a portaria estivesse em vigor desde abril de 2020, seria mais fácil saber quem fabricou, quem comprou e quem transportou”, afirmou Bruno Langeani, gerente de projetos do Instituto Sou da Paz, à equipe da coluna.
Nós questionamos o Exército sobre a apuração da origem da dinamite que seria usada para explodir um caminhão nos arredores do Aeroporto de Brasília, mas não recebemos retorno até o fechamento desta reportagem.
Outro impacto indireto na fiscalização de explosivos foi a ampliação sem precedentes do acesso a armas no Brasil através de dezenas de decretos nos últimos quatro anos, que multiplicaram o número de concessões de registros de colecionador, atirador desportivo e caçador (CACs), bem como o número de clubes de tiro e lojas que comercializam armamentos.
Como o monitoramento de armas e munições, que também são produtos controlados, é feito pela mesma área que deveria acompanhar explosivos - a Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados e suas divisões regionais —, o trabalho também fica mais lento, porque a área está sobrecarregada.
“O número de CPFs e CNPJs a serem fiscalizados pelo Exército aumentou muito. Como se trata do mesmo departamento e o mesmo sistema, sobra menos gente para fiscalizar fábricas de explosivos, pedreiras e áreas de construção. A fiscalização, que já era falha, piorou”, avalia Langeani.