Lauro Jardim
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A Justiça do Distrito Federal determinou, no início do mês, que o Instagram e o Facebook mantenham fora do ar duas contas de uma mulher de 43 anos que estagiou no gabinete do ministro João Otávio Noronha no STJ, uma década atrás, e hoje faz acusações em série contra ele na internet.

O magistrado nega todas elas e, por isso, pediu que as redes fossem obrigadas a efetuar a remoção, em âmbito cível. Ele também solicitou a abertura de um processo criminal por “stalking” — a mesma prática retratada em “Bebê Rena”, série de sucesso da Netflix, e que também vitima a atriz Débora Falabella. No caso de Noronha, as acusações nas redes sucederam 234 ligações telefônicas ao gabinete dele no STJ, de 2019 a 2021. Por causa delas, o número de telefone da ex-estagiária foi bloqueado do tribunal. Hoje, ela vive no Rio de Janeiro e enfrenta problemas psiquiátricos.

Formada em Direito pelo Centro Universitário IESB em Brasília, onde Noronha é professor, a mulher em questão foi aluna do magistrado. Pelo desempenho nas aulas, indicada por outra docente, passou a integrar a equipe dele como estagiária. O currículo dela, disponível on-line, afirma que o período de trabalho durou de abril de 2014 até o mesmo mês em 2016. Depois, ela trabalhou na Câmara e no governo do DF. Ela se descreve como advogada, mas não consta no atual cadastro nacional da OAB.

As publicações da mulher, recentemente “derrubadas” por ordem da 16ª Vara Cível de Brasília, fazem alusão ao período em que ela esteve no gabinete de Noronha (veja a galeria abaixo). Os textos e fotos mencionam, por exemplo: “Prof. João Otávio de Noronha, pacto satânico, estupro e canibalismo sempre foi (sic) crime”. E também: “(...) Noronha oferece jantares de defunto na casa dele”, junto com “(...) Corpo e os cabelos você já destruiu. Não bate mais no meu rosto (...) Uma década de sofrimento”.

Uma fotografia do que seria o portão da casa de Noronha, na capital federal, estão entre os posts. Também aparece uma foto dele ao lado da mulher, Denimar. E outra da ministra Nancy Andrighi, do STJ, colega do magistrado na Corte. Parte das fotos acompanham músicas como trilha sonora, como “Sacrifice” (de Elton John) e “You'll Be In My Heart” (de Phil Collins), além da instrumental “Save Me”.

Nas legendas do posts, são mencionados dados sobre os filhos de Noronha, a data de nascimento e até o signo dele (virgem, nascido em 30 de agosto). E ainda um procedimento estético nas pálpebras que o ministro, 67 anos, realizou no início de 2024: “Fica com a sua vaidade porque eu já abri mão da minha (...). Vou ficar com essa cara de caipira com dente podre que você fez”, escreveu a mulher. Nesse caso, a canção que acompanha é “Linda Demais” (do sertanejo Eduardo Costa).

Sempre em tom de gravidade, os textos da mulher sugerem repetidamente que Noronha teria estuprado a autora. Não há relato preciso, no entanto. E, até aqui, não foi registrada queixa formal dela contra o ministro. Ele nega as acusações em ambas as ações que move no Judiciário. O STJ afirma que “todas as medidas judiciais cabíveis foram tomadas”, incluindo “o reforço na segurança institucional para garantir a integridade dos ministros e de seus familiares” (a íntegra consta abaixo).

Antes das mensagens contra Noronha, essa mesma mulher procurou a Polícia do DF em 2021 para registrar uma ocorrência sobre o síndico do prédio em que vivia no Setor Sudoeste de Brasília. O síndico, um general da reserva do Exército, teria, segundo a denunciante, “tocado as partes íntimas” diante dela para “a sua própria satisfação”. Se provado, seria um ato de importunação sexual.

O militar disse aos policiais que não havia praticado o ato. E indicou como testemunhas um funcionário do condomínio e a própria mulher, presentes naquele momento. O caso foi arquivado e, também naquele ano, o homem tentou receber R$ 5 mil de indenização por danos morais. O Juizado Especial de Brasília, porém, negou o pedido, por entender que a denunciante não agiu ilegalmente.

O episódio com o síndico estava inserido num contexto maior: a mulher que hoje mira Noronha já vinha em conflito constante com os vizinhos do mesmo condomínio (incluindo aquele síndico).

Moradores do prédio a acusavam de pertubar o silêncio de suas residências. Outra ocorrência, de 2020, também da Polícia Civil do DF, mostra uma vizinha relatando ter sido ofendida de maneira racista pela ex-estagiária do ministro (“cabelo sarará” teria sido a expressão utilizada). O xingamento teria sido proferido entre gritos da mulher que, segundo outros relatos de condôminos, eram frequentes dentro do apartamento dela e em áreas comuns. A apuração foi arquivada devido a ausência de uma queixa. O condomínio deu prazo para que a mulher se mudasse.

Depois de deixar o prédio na capital federal, a mulher passou a morar no Rio, onde está até hoje — e de onde vinha fazendo as publicações contra Noronha. Pessoas próximas relatam que o retorno à cidade natal aconteceu diante de surtos psicóticos, diagnosticados e agravados na pandemia. Ela havia deixado a capital fluminense no início dos anos 2000 para estudar. Hoje, vive sob os cuidados de parentes. Procurada, a família da mulher preferiu não se manifestar para resguardá-la.

Leia a nota do STJ a respeito do caso:

“O Superior Tribunal de Justiça informa que todas as medidas judiciais cabíveis foram tomadas pelos ministros mencionados, além do reforço na segurança institucional para garantir a integridade deles e de seus familiares. Uma vez que se trata de um processo em segredo de Justiça e de um caso que envolve delicadas questões de saúde mental de terceiros, o STJ não prestará demais esclarecimentos”.

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