Janaína Figueiredo
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Janaína Figueiredo

Foi correspondente do GLOBO em Buenos Aires e desde 2019 é repórter especial.

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Janaína Figueiredo

Colaborou com a GloboNews, CBN e La Nación. Foi correspondente do GLOBO em Buenos Aires e hoje é repórter especial. Escreveu o livro “Qué pasa, Argentina?”

Por — Buenos Aires

Na viagem que fará ao Chile no fim da semana que vem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer concentrar a agenda positiva bilateral em temas como ampliação do comércio e investimentos. Como aconteceu quando foi a Bogotá, em abril, Lula chegará a Santiago com uma ampla delegação ministerial e interessado em discutir como aprofundar a relação com o Chile de Gabriel Boric. O brasileiro sabe que não terá como fugir do tema Venezuelasobre o qual manteve divergências com Boric na cúpula de chefes de Estado da América do Sul, em maio de 2023, em Brasília — mas seu interesse está muito longe de Caracas.

A interlocutores chilenos, diplomatas brasileiros têm destacado o endurecimento da posição de Brasília em relação a Nicolás Maduro desde que o Conselho Nacional Eleitoral venezuelano (CNE) barrou a inscrição da candidata opositora Corina Yoris. Para amplos setores do Itamaraty, esse endurecimento foi um alívio, e existe a percepção de que hoje Lula e Boric não têm posições tão diferentes sobre Venezuela, embora o Brasil ainda evite falar sobre violações dos direitos humanos no país.

Não falar de Maduro é impossível porque o tema interessa aos chilenos por vários motivos, como a segurança interna. Grupos criminosos venezuelanos vêm se envolvendo em diversos episódios violentos no Chile, e o governo Boric já conseguiu enviar um avião de presos venezuelanos de volta a Caracas. Mas ele também priorizará outros temas na relação com o Brasil.

Na capital colombiana, confirmaram fontes do governo de Gustavo Petro, o brasileiro tentou fugir do assunto Venezuela cada vez que pôde. O colombiano propôs, inclusive, articular um telefonema com Maduro, que nunca ocorreu. Em determinando momento, acrescentou a fonte, Lula foi explícito e disse a Petro que tinha viajado com um grande número de membros de seu Gabinete e que o objetivo era trabalhar a relação bilateral — e não falar de chavismo.

O mesmo acontecerá em Santiago, porque a Venezuela é um tema que o Palácio do Planalto acompanha de perto, mas cada vez com menos entusiasmo ou expectativa sobre a influência que o Brasil pode ter no país pelo presidente e alguns assessores. As sinalizações dadas por Maduro não são positivas e a campanha eleitoral avança sob forte tensão.

Lula tem assuntos muito mais preocupantes na cabeça, e no Chile, como na Colômbia, buscará falar sobre temas que tenham projeção de futuro. Em palavras do embaixador do Chile no Brasil, Sebastián Depolo, amigo de Boric, “é preciso um esforço consciente para que nossos países estejam mais próximos”. Lula, disseram fontes brasileiras, quer fazer esse esforço, como fez com a Colômbia.

Lula e Boric assinarão ao menos dez acordos de comércio, investimentos, turismo, ciência e tecnologia e combate ao crime transnacional. Este último tema é de extrema importância para os dois países. Brasil e Lula, frisa Depolo, precisam tomar a decisão política, de Estado, de caminhar juntos. O Chile, diz ele, pode ser uma plataforma para as exportações brasileiras, e o Brasil uma ponte para que seu país chegue ao continente africano. A agenda também incluirá a presidência brasileira no G20, transição energética e combate à fome e à desigualdade.

A lista de temas da agenda positiva é ampla e o desejo de ambos os presidentes é trabalhar pela integração, disseram fontes dos dois governos. A Venezuela é um peso para ambos, e no caso do Brasil causa cada vez mais desconforto.

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