Guga Chacra
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Guga Chacra

Colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

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Guga Chacra

Mestre em Relações Internacionais pela Columbia University de Nova York. É colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Por — Nova York

RESUMO

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GERADO EM: 27/06/2024 - 04:30

Possível vitória de Masoud Pezeshkian no Irã

O cirurgião cardíaco Masoud Pezeshkian pode surpreender e vencer a eleição presidencial no Irã, trazendo menos repressão e possibilidade de diálogo com o Ocidente, caso tenha alto comparecimento nas urnas. A vitória dele representaria uma mudança significativa no país.

Sei que haverá nos próximos dias um debate nos EUA entre os “gladiadores” Joe Biden e Donald Trump, eleição parlamentar na França com possível vitória da extrema direita e um provável retorno dos trabalhistas ao poder no Reino Unido após 14 anos. Mas talvez o maior impacto de uma eleição neste momento será a do Irã. Existe uma chance real de um reformista ser eleito para a Presidência iraniana, em uma reviravolta total depois de o presidente Ebrahim Raisi morrer em acidente de helicóptero no dia 19 de maio.

Masoud Pezeshkian tem sido incluído como um dos favoritos. Por ser o único reformista aceito pelo Conselho dos Guardiães para se candidatar, pode atrair o voto pró-reforma, que é elevado no Irã. Renomado cirurgião cardíaco, defende que as mulheres se vistam da forma como bem entenderem, foi solidário com os manifestantes antirregime depois da morte da jovem curda Mahsa Amini por não usar o véu “corretamente” e disse que não acionará a chamada “polícia moral” caso seja eleito.

Embora a política externa esteja nas mãos das Guardas Revolucionárias e do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, Pezeshkian adota uma postura de defesa de diálogo com o Ocidente. Afirma que nomeará chanceler o ex-ministro Mohammad Javad Zarif, que negociou o acordo nuclear do Irã com as grandes potências, incluindo os EUA de Barack Obama. Conhecido como JCPOA, este acordo obteve sucesso em restringir o programa nuclear iraniano, mas acabou sendo sabotado depois por Donald Trump.

O papel principal de um presidente no Irã seria, como dizem muitos analistas, equivalente ao de primeiros-ministros em países como a França, sendo responsável pelo dia a dia das pessoas. A administração de Raisi era criticada por sua incompetência na área econômica, e Pezeshkian propõe reformas econômicas para o país.

Obviamente, o Irã não é uma nação democrática e ocupa um dos últimos lugares nos rankings internacionais de democracia. Suas eleições não são livres como as de países democráticos, e inúmeros postulantes são vetados pelo regime. Ainda assim, existe muito mais competição do que em outros países ditatoriais da região como Síria, Egito e Arábia Saudita. Um reformista (Mohammad Khatami) e um moderado (Hassan Rouhani) foram presidentes por dois mandatos cada um. Por outro lado, o regime é acusado de fraudar a eleição de 2009, quando o reformista Mir Hussein Mussavi teria derrotado o então presidente Mahmoud Ahmadinejad.

Em entrevista a um podcast do site Al Monitor, o professor de Relações Internacionais Vali Nasr, da Universidade Johns Hopkins, considerado um dos maiores especialistas em Irã dos EUA, avalia que uma vitória de Pezeshkian dependerá do comparecimento às urnas. Quanto mais iranianos forem votar, maior a chance dele. O favorito ainda seria o ex-prefeito de Teerã e atual presidente do Parlamento, Mohammad Ghalibaf, um conservador que tem focado em questões econômicas na campanha.

O pior cenário para o Ocidente seria uma vitória do ultrarradical Saeed Jalili. Uma vitória de Pezeshkian não significaria o fim do regime. Mas haveria sem dúvida menos repressão a iranianos e, acima de tudo, iranianas. Haverá também uma possibilidade maior de diálogo, especialmente se Zarif for chanceler. Além do debate nos Estados Unidos hoje, preste atenção na eleição iraniana amanhã.

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