Guga Chacra
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Guga Chacra

Colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Informações da coluna
Por — Nova York

RESUMO

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GERADO EM: 20/06/2024 - 07:03

Tensão entre Israel e Hezbollah: Teoria dos Jogos e risco de escalada

A tensão entre Israel e Hezbollah aumenta, com ameaças de ambos os lados. A Teoria dos Jogos explica a hesitação em iniciar uma guerra total, mas o risco de escalada permanece.

O governo de Benjamin Netanyahu aprovou a mobilização de tropas para o norte de Israel, onde estarão de prontidão para uma possível ofensiva terrestre para combater o Hezbollah no sul do Líbano. Autoridades israelenses falam em mandar Beirute para a “Idade da Pedra”. O grupo xiita libanês, por sua vez, publicou um vídeo mostrando possíveis alvos militares em Haifa, uma das maiores cidades de Israel. Seu líder, Hassan Nasrallah, voltou a ameaçar os israelenses ontem. Os dois lados seguem realizando ações militares diárias um contra o outro. Mediadores americanos e franceses alertam ser urgente um compromisso para evitar uma guerra total, mas já admitem um fracasso.

Ao longo dos últimos quase nove meses, desde o atentado terrorista do Hamas contra Israel e a eclosão da Guerra de Gaza, quem acompanha a situação na fronteira teme o momento em que veremos Beirute ser bombardeada em larga escala, mísseis atingirem Tel Aviv e milhares de israelenses e libaneses morrerem no conflito. Para muitos, o dia pode ser agora ou nas próximas semanas diante da deterioração no conflito.

Apesar dessa escalada militar e retórica, somada ao pessimismo, até agora prevaleceu a lógica da Teoria dos Jogos para explicar o motivo de Israel não ter lançado uma ofensiva por terra contra o Hezbollah e de o grupo xiita evitar usar os armamentos mais poderosos de seu arsenal de dezenas de milhares de mísseis. Os custos para ambos seriam enormes no caso de uma guerra generalizada com devastação em ambos os países. Os EUA, aliado de Israel, e o Irã, aliado do Hezbollah, tampouco querem ser sugados para uma guerra. A maioria dos libaneses, especialmente cristãos e sunitas, são contrários a uma guerra.

Israel, a um custo muito menor do que o de um conflito generalizado, obteve resultados positivos nas suas operações militares contra o Hezbollah nestes oito meses. Mais de 300 integrantes da organização foram mortos. O grupo libanês também conseguiu mostrar sua força ao bater mais uma vez de frente contra os israelenses, mas sem escalar para uma guerra total. O status quo desde outubro, embora longe de ser um cenário ideal, beneficia os dois lados bem mais do que cruzar a linha vermelha em direção a um apocalíptico conflito.

Em um jogo simplificado, Israel tem as opções de invadir e de não invadir o sul do Líbano. Caso invada, sabe que Haifa e Tel Aviv serão bombardeadas, com muitas vítimas, e enormes impactos econômicos. Se não invadir, segue com os bombardeios até um possível fim das hostilidades no caso de um cessar-fogo em Gaza. O Hezbollah também tem a opção de realizar ou não um ataque desproporcional a Israel. No primeiro caso, o Líbano será devastado na resposta israelense. Se não realizar, manterá sua influência em Beirute e o discurso de que parou Israel. Logo, pela lógica, para Israel e o Hezbollah é melhor manter a guerra de atrito atual do que partir para um conflito generalizado.

Como sempre lembro aqui, no entanto, nenhum dos dois queria uma guerra em 2006. E teve guerra depois de uma ação mal calculada do Hezbollah. O mesmo pode ocorrer agora, embora haja uma série de nuances. Pela lógica da Teoria dos Jogos, a tendência é não haver guerra total. Por outro lado, quanto mais se prolongam os combates na fronteira, maior o risco de uma escalada incontrolável com uma ação mal calculada ou erro de um dos dois lados.

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