Guga Chacra
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Guga Chacra

Colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Informações da coluna

Guga Chacra

Mestre em Relações Internacionais pela Columbia University de Nova York. É colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Por — Nova York

Bashar al-Assad, maior aliado do persa Irã no Oriente Médio, é inimigo do Hamas, que recebe apoio justamente do regime de Teerã. Pode parecer surpresa para muitos, mas o líder sírio rompeu com o grupo palestino em 2011, quando lideranças da organização em Damasco decidiram apoiar a oposição síria na guerra civil — os iranianos e o Hezbollah também se distanciaram do grupo inicialmente, antes de retomarem a relação anos depois por questões estratégicas contra Israel.

Ao longo de todo o atual conflito em Gaza, Assad jamais demonstrou solidariedade com o Hamas ou com os palestinos em geral. Os posts no perfil da Presidência síria no Instagram nunca mostram os palestinos vítimas da guerra, optando, por exemplo, por exibir outras cenas, como os cristãos sírios celebrando a Páscoa ortodoxa. Até mesmo quando a embaixada iraniana foi bombardeada no bairro mais nobre de Damasco, o líder sírio não quis confrontar Israel e se recusou a participar da resposta do Irã ao território israelense dias depois.

Notem que a Síria é o único país do mundo árabe inimigo dos EUA, se considerarmos o governo iemenita reconhecido internacionalmente e não o dos houthis, que controlam Sana. Trata-se de uma noção equivocada a de que os árabes seriam inimigos dos americanos e adversários dos israelenses. Seis países árabes, além da Autoridade Nacional Palestina, têm relações diplomáticas com Israel (Marrocos, Egito, Sudão, Jordânia, Emirados Árabes Unidos e Bahrein) e outros quatro mantêm coordenação e diálogo com os israelenses — Omã, Catar, Arábia Saudita e Kuwait.

Há, ainda, as nuances nas alianças. Lideranças do Hamas, uma organização considerada terrorista por Washington, vivem no Catar, que abriga a maior base aérea dos EUA na região. O país serve, ainda, de mediador para as negociações de um cessar-fogo. A Turquia, integrante da Otan, é presidida por Recep Tayyip Erdogan, que celebrou o Hamas recentemente e decidiu suspender o comércio bilateral com Israel.

Já a Arábia Saudita, que proíbe igrejas e sinagogas, é vista como “moderada” e chave, na visão dos EUA, para a resolução do conflito através do estabelecimento de relações diplomáticas com Israel, que em troca faria concessões na questão palestina. Por outro lado, no ano passado, os sauditas retomaram as relações com o seu rival Irã através de mediação da China. Os Emirados Árabes, que estabeleceram relações diplomáticas com Israel anos atrás, têm se aproximado também dos regimes iraniano e sírio.

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O rei Abdullah II, da Jordânia, que tem acordo de paz com Israel, critica duramente o governo de Benjamin Netanyahu por suas ações militares na Faixa de Gaza, mas defendeu os israelenses do ataque iraniano no mês passado. O Egito, que assinou a paz com Israel há mais de quatro décadas e nunca teve boa relação com o Hamas, adotou o papel de mediador, o que é natural por ter fronteira com Gaza e o território israelense.

O Iraque, por sua vez, mantém uma forte aliança militar com Washington, que tem bases no país. Ao mesmo tempo, o governo é aliado do Irã e adota uma postura anti-Israel. As Forças Armadas do Líbano recebem dezenas de milhões de dólares em armamentos dos EUA, incluindo aeronaves, apesar de manterem uma certa coordenação com o Hezbollah, considerado terrorista pelos americanos. Essas relações cinzentas são fundamentais para entender o Oriente Médio e o futuro de Gaza

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