Guga Chacra
PUBLICIDADE
Guga Chacra

Colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Informações da coluna

Guga Chacra

Mestre em Relações Internacionais pela Columbia University de Nova York. É colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Por Guga Chacra — Nova York

Não há novidade entre os países que lideram o ranking de democracia da Economist Democracy Index. Tampouco observamos surpresas entre os últimos colocados. Os cinco melhores são Noruega, Nova Zelândia, Islândia, Suécia e Finlândia. Os cinco piores são Síria, República Centro-Africana, Coreia do Norte, Mianmar e, carregando a lanterna, o Afeganistão. O Uruguai mais uma vez faz bonito e lidera nas Américas, com o Canadá em segundo. O campeão da África são as Ilhas Maurício, seguidas por outro arquipélago, Cabo Verde.

Não surpreenderia ver Holanda ou Dinamarca entre os top cinco ou a Arábia Saudita e o Irã entre os cinco últimos. O Brasil fica em terceiro entre os países do Brics, atrás da Índia e África do Sul, embora seja bem questionável que, apesar de todos os defeitos, estejamos atrás dos indianos governados pelo nacionalista Narendra Modi.

O que chama a atenção, no entanto, é ver o ranking conceder mais pontos em cultura política para os Emirados Árabes Unidos, uma ditadura, do que para o Brasil e a Argentina.

Sabemos que as democracias brasileira e argentina estão bem aquém da uruguaia e superamos no ranking geral o regime de Abu Dhabi. Mas na categoria cultura política estamos abaixo da ditadura do Golfo? Qual a lógica?

Segundo o ranking, a Argentina tem apenas 4,38 pontos na categoria cultura política. O Brasil, um pouco melhor, aparece com 5, embora no ranking geral estejamos atrás dos argentinos. Como comparação, a Noruega tem 10 e a Coreia do Norte, zero. Já os Emirados Árabes, onde não se vota nem para síndico, homossexuais não desfrutam de direitos e mulheres recebem tratamento de segunda classe, atingem 5,63, superando o Brasil.

Não existe lógica para os Emirados terem essa pontuação, a não ser melhorar a posição dessa ditadura no ranking, com todo o respeito à Economist.

Costumava usar esse ranking em colunas no passado, mas essa pontuação dos Emirados maior do que a do Brasil e Argentina me faz questionar o Economist Democracy Index. Passarei a usar somente o mais sofisticado ranking da Freedom House.

Ranking, como sabemos, depende muito da metodologia. Viena muitas vezes aparece em primeiro entre as melhores cidades para viver. Se, no entanto, um ranking valorizasse "ter praia" na pontuação, dificilmente a cidade austríaca superaria Barcelona.

Mais recente Próxima Biden quer distância de Israel-Palestina