Daniel Becker
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Conversas sobre infância, no plural: pelo bem-estar de crianças, famílias e sociedade

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Daniel Becker

Pediatra, sanitarista, palestrante e escritor. Ativista pela infância, saúde coletiva e meio ambiente.

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Vejam a que nível chega o absurdo nas redes sociais.

Cassinos online como o jogo do tigrinho estão pagando influenciadores mirins brasileiros para divulgar jogos de azar para crianças e adolescentes no Instagram.⁠ Eles contrataram influenciadores mirins entre 6 (!) e 16 anos para fazer stories e publicações no Instagram alegando supostos ganhos obtidos com as apostas e incentivando seus seguidores a aderir aos jogos.

A Meta, dona do IG, está permitindo isso, e ganhando dinheiro com a propaganda. Por isso, o Instituto Alana, a principal organização de proteção dos direitos das crianças no Brasil, denunciou a Meta ao Ministério Público de São Paulo.

Vejam a concentração de crueldades numa só iniciativa:

  1. Perfis de Crianças e adolescentes sendo utilizados para a publicidade, o que já é absurdo. As crianças e adolescentes que têm feito a divulgação dos jogos de azar tem entre 6 e 16 anos e um grande alcance entre brasileiros — os canais têm de cerca de 200 mil a mais de 9,5 milhões de seguidores, muitos deles também crianças.;
  2. portanto, estão anunciando jogos de azar para outras crianças e adolescentes, totalmente contra a leis de proteção à infância;
  3. os anúncios são direcionados e têm apelo ao público infantil, estimulando a dependência de crianças e adolescentes, que são muito mais suscetíveis ao vicio que adultos;
  4. o nível de vício gerado por jogos de azar é equivalente à dependência química causada por cigarro, álcool e drogas ilegais;
  5. as pessoas são enganadas e induzidas de forma mentirosa a perder montes de dinheiro nesses jogos, com a ilusão de que vão ficar ricas. Pura mentira, que atinge justamente as pessoas mais pobres. Elas fazem até empréstimos e perdem suas posses por causa do jogo;
  6. esses familiares estão explorando seus próprios filhos, não só aplicando golpes, mas mostrando a seus filhos que aplicar golpes, enganar pessoas e mentir é legal, que a gente pode se dar bem fazendo isso. Que tipo de gente é essa?

Numa outra denúncia, o Núcleo Jornalismo aponta que o Kwai, rede social de vídeos curtos, também tem toda uma seção de pseudo jogos de azar, sem envolver dinheiro, mas com uso de mecanismos para viciar e chamadas bem infantis. Para ganhar o dinheiro virtual para jogar, as crianças têm que assistir publicidades. Isso é ilegal porque é propaganda infantil, e prepara as crianças para jogar. Quem faz propaganda disso é o nosso ex-craque Neymar, que já não mandava muito em campo e que longe dele só dá bola muito fora.

⁠Como disse a Maria Melo, coordenadora do Programa Criança e Consumo do Instituto Alana, “as redes sociais precisam criar mecanismos de controle para proteger crianças e adolescentes. Precisam remover esses conteúdos, e não os impulsionarem, como fazem”.

E mais: elas precisam de regulação! É pedofilia, negacionismo vacinal, climático, mentiras políticas, jogos ilegais, nazismo, intolerância religiosa, racismo, violência contra a escola, homofobia e todo tipo de crimes que são cometidos ali, além de estarem provocando ansiedade, depressão e automutilação entre crianças e jovens, e difundindo esse conteúdo por dinheiro. Isso é inaceitável.

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