Capital
PUBLICIDADE
Capital

Informações exclusivas, análises e bastidores do mundo dos negócios.

Informações da coluna

Mariana Barbosa

No GLOBO desde 2020, foi repórter no Brazil Journal, Folha, Estadão e Isto é Dinheiro e correspondente em Londres.

Rennan Setti

No GLOBO desde 2009, foi repórter de tecnologia e atua desde 2014 na cobertura de mercado de capitais. É formado em jornalismo pela Uerj.

Por

A Gol e a Azul anunciaram ontem à noite um acordo comercial pelo qual voos de uma companhia ficarão disponíveis no site da outra empresa — permitindo aos clientes pontuar o voo de uma no programa da outra. Segundo a Azul, o acordo envolve apenas as rotas em que as duas empresas não competem diretamente. As empresas não informaram quantas rotas extatamente estão envolvidas no acordo nem deram previsão de duração.

Nas redes sociais, o ministro dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, celebrou o acordo. Ele disse que esse tipo de acordo é comum no mundo e declarou esperar que contribua para "ampliar a conectividade", "oferecendo mais opções de voos para os brasileiros".

Para o ex-conselheiro do Cade Cleveland Prates, no entanto, acordos dessa natureza precisam ser submetidos previamente ao Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência (Cade). — As empresas devem apresentar todos os atos conjuntos que tenham algum potencial de restringir a concorrência e se abster de tomar qualquer atitude até a aprovação final pelo Tribunal do Cade — disse Prates à coluna.

O acordo anunciado pela Azul e pela Gol está longe de ser inédito no setor, embora as rotas que serão compartilhadas tenham um perfil diferente daquelas que fizeram parte de um acordo de code-share firmado entre Latam e Azul durante a pandemia. Na época, as empresas passaram a compartilhar as operações em 64 rotas — algumas passaram a ser operadas apenas pela Azul, mas vendidas no sistema da Latam também — outras pela Latam, e sendo vendidas também pela Azul. O acordo foi submetido ao Cade — e a própria Gol fez uma representação contrária — mas não houve qualquer objeção devido ao contexto de pandemia.

—O contexto da pandemia era muito particular, havia risco sistêmico afetando toda a economia e as aeronaves estavam paradas. Hoje as empresas estão operando normalmente com um nível de demanda considerável. Esse tipo de acordo pode afetar a precificação por rotas e, pelo divulgado, há efeitos sobre os programas de fidelidade, fator que também pesa no aspecto concorrencial —, afirma Prates, que é professor de economia do curso de direito da FGV e serviu como conselheiro do Cade de 2002 a 2004.

Para Prates, o acordo desestimula a competição entre as empresas, que deixam de ter interesse em operar a rota da outra. — Como resultado, você poderá mudar o modelo de precificação de cada uma delas e alterar os incentivos a descontos nos programas de fidelidades das duas, que são concorrentes — diz.

O code-share Gol e Azul acontece em um momento em que a primeira está em recuperação judicial nos EUA — mesma situação em que se encontrava a Latam quando fez o acordo de code-share com a Azul. O CEO da Azul, John Rodgerson, vem sinalizando que gostaria de ver uma consolidação no setor. A empresa chegou a contratar consultores financeiros para avaliar uma possível aquisição ou fusão de operações com a Gol. No início do mês, contudo, o presidente da empresa, o indiano Abhi Shah, negou que estivesse envolvido em negociações para uma possível aquisição ou fusão com a Gol.

Em um passado mais distante, em meio a crise da Varig e no contexto de negociações para uma possível fusão com a TAM, as duas empresas fizeram um acordo de code-share que gerou bastante discussão no Cade. O órgão chegou a realizar um acordo temporário de reversibilidade da operação até as empresas decidirem se apresentariam o caso como uma fusão. Na época, não havia obrigação de consultar o Cade previamente e as empresas seguiram com o acordo até o Cade impor algumas limitações, como não restrição de oferta. Posteriormente, o Cade voltou a analisar o caso e determinou o fim do acordo.

Mais recente Próxima Aquisição literária: Cade aprova venda da Skoob à Skeelo pela Americanas

Inscreva-se na Newsletter: Capital