Bernardo Mello Franco
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Bernardo Mello Franco

Um olhar sobre a política e o poder no Brasil

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Bernardo Mello Franco

Colunista do GLOBO e da rádio CBN. Trabalhou na Folha de S.Paulo e no Jornal do Brasil. Foi correspondente em Londres e escreveu o livro "Mil dias de tormenta"

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Dez anos depois de vestir a toga, Luís Roberto Barroso assumiu a presidência do Supremo Tribunal Federal. Terá o desafio de cuidar da Corte sem descuidar das relações com o Congresso e a sociedade.

A cerimônia ocorreu num plenário reconstruído após a intentona golpista de 8 de janeiro. Barroso disse que “as instituições venceram”, mas sabe que a ameaça extremista continua à espreita. O Supremo mal começou a julgar os executores dos ataques à democracia. Falta identificar e punir financiadores e mandantes. Eles foram apeados do Planalto, mas ainda têm força política e econômica.

Na véspera da posse, o Senado abriu mais uma frente de atrito com a Corte. Aprovou projeto que ressuscita o marco temporal, tese anti-indígena derrubada em julgamento na semana passada. A votação mostrou que o Congresso já abandonou a retórica de pacificação nacional. A ordem é peitar o Judiciário para bloquear novos avanços em temas como drogas, aborto e defesa de minorias.

A julgar pelo discurso de posse, Barroso não está disposto a se curvar à pressão conservadora. O ministro elogiou decisões do STF que beneficiaram mulheres, negros, indígenas, casais homoafetivos. Ele prometeu que a Corte continuará a “empurrar a história na direção certa”. A ver se isso significará a retomada de debates paralisados por seus antecessores, como as ações que questionam a validade da Lei da Anistia para torturadores.

O ministro também enviou recado ao governo ao defender o aumento da participação de mulheres e negros nos tribunais. Na segunda-feira, Lula disse que gênero e raça não serão critérios para a escolha do próximo integrante do Supremo.

Sob nova direção, a Corte experimentará uma mudança de estilo. Barroso substitui Rosa Weber, que remou contra a maré ao manter distância dos holofotes, da indústria de palestras e dos convescotes empresariais. Há poucos dias, o ministro defendeu a tese discutível de que haveria “preconceito contra a iniciativa privada e contra o sucesso empresarial” no país. Ao contrário de Rosa, ele nunca viu problema em falar fora dos autos. O primeiro ato de sua gestão será uma entrevista coletiva.

Ontem Barroso prometeu melhorar a comunicação do Supremo com a sociedade. Para isso, também precisará domar a própria língua. Nos últimos meses, ele cometeu deslizes como dizer a estudantes que “nós derrotamos o bolsonarismo”. A declaração serviu de combustível para a extrema direita atacar o ministro e questionar a imparcialidade do Judiciário.

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