A Hora da Ciência
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A Hora da Ciência

Médicos e cientistas abordam diferentes aspectos da saúde.

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GERADO EM: 08/07/2024 - 04:30

Crítica à Homeopatia no Brasil

O artigo aborda a crítica à homeopatia, destacando a influência de medos, crenças e identidades nas decisões de saúde. Apesar da popularidade no Brasil, a prática é questionada por ser considerada pseudocientífica. Estudos mostram que muitos usuários desconhecem a falta de eficácia da homeopatia. A conscientização sobre o tema é essencial para desfazer a aceitação de tratamentos sem comprovação científica.

Na semana passada, a imprensa brasileira mostrou ter virado uma página importante no seu papel de formadora de opinião. Pela primeira vez na grande mídia, a homeopatia, prática pseudocientífica muito popular no Brasil, oferecida no SUS e endossada pelo Conselho Federal de Medicina, foi criticada com destaque em veículos de grande circulação. Talvez a fala do psicólogo e escritor Steven Pinker em sua passagem pelo Brasil, questionando por que pessoas acreditam em “tratamentos médicos malucos como a homeopatia” tenha feito virar a chave. Uma grata surpresa para esta colunista, que há mais de uma década (e, desde 2018, com o Instituto Questão de Ciência – IQC), dedica-se a trazer a questão à luz.

Mudanças de percepção pública sobre temas vistos como controversos requer tempo e trabalho. Resultados variam de acordo com fatores locais, afetivos e culturais. No Brasil, assim como na França e na Alemanha e, até o início do século, na Inglaterra, a homeopatia conta com raízes sociais profundas. Apenas oferecer a informação cientifica correta é insuficiente. Decisões sobre saúde pessoal e familiar, não pertencem totalmente ao domínio racional. São influenciadas por medos, identidades, ideologias políticas e crenças religiosas.

O fato de que os grandes mediadores da opinião pública acordaram para o tema é ótima notícia, e um sinal de que o trabalho de conscientização que o IQC vem fazendo começa a mostrar resultados palpáveis. Mas é apenas o início. Para dar o próximo passo, é preciso mapear a relação da população brasileira com a homeopatia. Quem usa: sabe o que é? Usa porque acredita que funciona ou porque “não custa nada tentar e mal não faz”? Usa como primeira opção? De forma complementar? Usa para doenças serias ou para os desconfortos do cotidiano?

Pesquisas realizadas fora do Brasil tentaram mapear este universo. Em 2014, cientistas ingleses usaram os dados de opinião sobre medicina alternativa levantados pelo Wellcome Monitor para avaliar as motivações dos usuários de homeopatia. Viu-se que 49% dos respondentes que usavam homeopatia disseram que “valia a pena tentar de tudo se não faz mal”, e apenas 16% afirmaram acreditar que os resultados seriam tão bons ou melhores do que os da medicina convencional.

Pesquisa conduzida em 2019 pelo Center for Inquiry, ONG baseada nos EUA, mostrou que a maior parte das pessoas que compram produtos homeopáticos em farmácias não sabe exatamente como são feitos, no que diferem de medicamentos convencionais e nem quais são as características da homeopatia (como a ausência de princípio ativo no medicamento). Quando informados, esses consumidores sentiram-se enganados e frustrados.

No Brasil, pesquisa de 2019 conduzida pelo IQC em parceria com a DataFolha, mostrou que o brasileiro prefere medicina de verdade, com 70% dos respondentes colocando esta como sua primeira opção. Já16% responderam ter consultado um homeopata pelo menos uma vez na vida. Sobre qual tratamento merece mais confiança, medicina convencional aparece em primeiro lugar, mas acupuntura e homeopatia estão em seguida.

Quantas destas pessoas que usam e confiam na homeopatia sabem exatamente do que se trata? Que a modalidade já foi testada extensivamente pela comunidade cientifica, com a conclusão de que não passa de um placebo: um remédio de mentira? Na Revista Questão de Ciência, nesta coluna e no livro “Que Bobagem!” já é possível encontrar informação mais do que suficiente para que a população possa entender o tema. O que falta agora é mapear e desatar o nó motivacional que leva algumas pessoas a aceitar e acatar, o que é, nas palavras de Pinker, um “tratamento médico maluco”.

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