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'Métodos de Gestapo', diz Calheiros sobre a Abin paralela; veja repercussão

Nathália Moreira

Do UOL, em São Paulo

11/07/2024 17h41

Na quarta fase da Operação Última Milha, que apura desvios na Abin (Agência Brasileira de Inteligência), a Polícia Federal revelou que descobriu um esquema de espionagem ilegal que monitorava políticos, jornalistas e até funcionários do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente). A notícia revoltou os monitorados.

O que aconteceu

A operação da Polícia Federal descobriu um esquema de espionagem política envolvendo figuras importantes do cenário político brasileiro durante o governo de Jair Bolsonaro. A PF revelou uma organização criminosa envolvendo policiais suspeitos de integrar uma "Abin paralela" que usava recursos institucionais para agir clandestinamente para "atacar instituições, opositores e descreditar o sistema eleitoral essencialmente por desinformação".

Entre os nomes monitorados está o dos senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Alessandro Vieira (MDB-SE). Eles usaram as as redes sociais para repudiar o uso de estruturas estatais para fins políticos. Vieira, que era monitorado por sua participação na CPI da pandemia, que investigou o governo federal, destacou os riscos autoritários do episódio. "Isso é típico de governos ditatoriais. O Brasil segue cheio de problemas, mas ao menos do risco de volta da ditadura nos livramos."

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Randolfe Rodrigues, por sua vez, condenou as violações aos direitos fundamentais, e a jornalista Monica Bergamo disse que ouve uma tentativa de difamação.

O que disseram


O senador Renan Calheiros, em sua rede social, se mostrou contra as ações de espionagem e a remeteu a métodos da Gestapo, a polícia política nazista de Adolf Hitler. "Como democrata, lamento e repudio que estruturas do Estado tenham sido criminosamente capturadas para atuar como polícias políticas, com métodos de Gestapo, um pântano repugnante e sem fim. Sigo confiante nas instituições, na apuração, denúncia e julgamento dos culpados."

O senador Alessandro Vieira comentou sobre a operação da Polícia Federal, destacando seu impacto pessoal. "A operação de hoje da PF mostra que fui vítima de espionagem criminosa e ataques on-line praticados por bandidos alojados no poder no governo passado. Isso é típico de governos ditatoriais. O Brasil segue cheio de problemas, mas ao menos do risco de volta da ditadura nos livramos."

O Senador Randolfe Rodrigues enfatizou a gravidade das violações de direitos fundamentais e seu impacto durante a CPI da Covid. "A violação dos direitos fundamentais à vida privada, à honra e ao sigilo pessoal remetem às páginas mais autoritárias e obscuras da história do Brasil e da humanidade. Quaisquer indícios de violações a tais direitos devem ser rigorosamente apurados e punidos", disse em nota enviada para o UOL. "As revelações do dia de hoje mostram o quanto perto a democracia brasileira esteve da ruptura por conta dos desatinos dos que, na época, ocupavam o poder da República."

Para a jornalista Mônica Bergamo, a sensação ao ver o seu nome na lista de espionados da Abin foi de "desconforto". "O que eu percebi é que além de um monitoramento, existia uma tentativa de difamação, de fazer uma conexão minha com o Adélio Bispo", afirmou em entrevista à Band News. "Eu nem sequer fiz uma cobertura específica sobre esse caso", disse a jornalista, que estava sendo monitorada pelo gabinete de ódio da Abin.

O UOL entrou em contato com a assessoria do ex-governador de São Paulo, João Doria, que afirmou que ele está afastado da política e não vai se pronunciar. Também procurou os ministros do STF Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Luiz Fux e Luis Roberto Barroso, que não se posicionaram sobre o assunto. O UOL também entrou em contato com Arthur Lira (PP-AL),Rodrigo Maia (PSDB-RJ),Kim Kataguiri (União Brasil-SP),Joice Hasselmann (Podemos-SP), mas não obteve retorno.


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