Raquel Landim

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Opinião

Voto na esquerda - e não no centro - também é de protesto na França

O sistema eleitoral francês de voto distrital é intrincado e permite reviravoltas impressionantes. A estratégia de contenção da extrema direita parece ter sido muito sucedida, conforme as primeiras estimativas.

Partidos de esquerda e de centro se coordenaram e retiraram candidaturas que fracassariam em cada distrito, isolando os adversários da extrema direita.

Com a manobra, fizeram a Reunião Nacional, de Marine Le Pen, minguar da liderança no primeiro turno para terceira posição no segundo.

Mas foi a esquerda que saiu vitoriosa. A coalização dos partidos de esquerda poderá somar entre 180 a 205 cadeiras na Assembleia Nacional, contra 164 a 174 dos aliados do presidente centrista Emmanuel Macron, que perde um espaço importante.

A extrema direita vem em terceiro, com 132 a 145 assentos.

O recado que vem das urnas, portanto, é claro: seja optando pela esquerda ou pela extrema direita, os eleitores franceses estão insatisfeitos com a sua vida e com as políticas fiscalistas de Macron, que, paradoxalmente, trouxeram benefícios ao país.

É claro que o apelo democrático também teve força. Não são poucos os que tem receio dos discursos fascistas e anti-migratórios que Le Penn representa e que ela vem tentando, sem muito sucesso, suavizar. A taxa de comparecimento às urnas foi a maior em quatro décadas.

Mas o que está em curso na França, assim no Reino Unido, onde os trabalhistas tiveram uma vitória histórica, é uma revolta contra o status quo.

"Já vínhamos defendendo essa tese faz algum tempo. O que existe na Europa hoje, seja na França ou no Reino Unido, é um movimento contra o status quo: a inflação, o aumento dos preços dos alimentos e dos combustíveis, particularmente depois da guerra da Ucrânia", disse à coluna Christopher Garman, diretor-executivo da Eurasia.

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Macron, que fez um movimento ousado ao chamar as eleições para a Assembleia Nacional, continua com um baita problema nas mãos para formar o governo.

A esquerda sai vencedora das urnas com a promessa de aumentar benefícios fiscais e reduzir a idade de aposentadoria, ou seja, reverter parte das reformas que o próprio Macron implementou. Aliás, a extrema direita na França tampouco é fiscalista e os resultados de hoje não significam que ela está morta.

Emannuel Macron não terá vida fácil até as eleições presidenciais francesas em 2027.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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