Conteúdo publicado há 23 dias
Josmar Jozino

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Reportagem

Novos inimigos de Marcola no PCC foram batizados por ele mesmo na facção

Os presos Roberto Soriano, 51, o Tiriça, e Abel Pacheco de Andrade, 49, o Vida Loka, novos rivais de Marco Willians Herbas Camacho, 56, o Marcola, tido como líder máximo do PCC (Primeiro Comando da Capital), foram batizados por ele mesmo na facção criminosa.

A revelação foi feita por um preso, ex-integrante do PCC, durante delação ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial e de Combate ao Crime Organizado), órgão subordinado ao MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo).

Criado em 31 de agosto de 1993 por oito prisioneiros, todos já mortos, na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, no Vale do Paraíba (SP), o PCC vive uma das piores crises em quase 31 anos de existência.

A delação tem 11 páginas. O preso contou ao Gaeco que no ano de 2003, após as expulsões de José Márcio Felício, o Geleião, e César Augusto Roriz Silva, o Cesinha, dois fundadores do PCC, o poder mudou de mãos na organização criminosa.

Segundo relatos do prisioneiro à Promotoria, Marcola passou a ser o chefão do grupo e compunha com ele mesmo a célula da "sintonia final", ou seja, a principal liderança do Primeiro Comando da Capital.

O preso contou que foi naquela época que Marcola "batizou pessoalmente" ele e os presos Tiriça; Vida Loka; Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue; e Edilson Borges Nogueira, o Birosca. Os dois últimos foram assassinados pela própria facção.

O batismo foi "celebrado" em um presídio no interior paulista. Marcola - o padrinho - e Tiriça e Vida Loka - os afilhados -, integravam juntos, até o início deste ano, a cúpula do PCC. Mas hoje são inimigos mortais e estão recolhidos em alas separadas na Penitenciária Federal em Brasília.

"Pé de guerra"

O racha aconteceu em fevereiro de 2024, quando um "salve" (recado) foi divulgado pela "sintonia final" (liderança) do PCC indicando que a maior facção criminosa do Brasil estava em "pé de guerra" e havia excluído Tiriça, Vida Loka e Wanderson Nilton de Paula, 45, o Andinho, de seus quadros e decretado a morte deles.

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Segundo o MP-SP, o comunicado dizia que o motivo da exclusão dos três era traição. Marcola foi acusado pelo trio de ter chamado Tiriça de psicopata e de ter ordenado a morte de agentes penitenciários federais no Paraná e Rio Grande do Norte.

A fala de Marcola veio a público em agosto de 2023, por meio de áudio de uma conversa dele com um policial penal durante o banho de sol no pátio de um presídio federal. O diálogo foi gravado.

O áudio acabou usado no júri que em 25 de agosto condenou Tiriça a mais 31 anos de prisão pelo assassinato da psicóloga Melissa de Almeida Araújo. A vítima trabalhava na Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná, e foi assassinada a tiros na vizinha cidade de Cascavel em maio de 2017.

O comunicado do PCC explicou que a gravação foi analisada pela "sintonia final" da facção e concluiu que não houve delação de Marcola, mas sim "um papo reto de criminoso com a polícia". Dizia ainda que policiais penais gravaram a conversa para jogar os líderes do grupo uns contra os outros.

O "salve" informava também que a Promotoria de Justiça usou o áudio para criar um cenário desfavorável à facção, e que a gravação estava disponível em redes sociais e em manuscritos para que todos pudessem ter acesso e tirar as próprias conclusões.

Procurados pela reportagem, os defensores de Marcola, Tiriça e Abel reafirmaram que se manifestam apenas sobre questões processuais e ressaltam que seus clientes jamais integraram facção criminosa.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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