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ARTIGO
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Por – Prof. Dr. Oswaldo Ferreira Barbosa Junior, especial para Neo Mondo
No Brasil, segundo o Mapa das OSC, do Ipea, em 2024, temos cerca de 879 mil Organizações da Sociedade Civil ativas. Em 2023, segundo a pesquisa “A importância do Terceiro Setor para o PIB no Brasil”, o setor contribuiu com 4,27% do PIB, gerando mais de R$ 432 bilhões na economia. Para termos uma referência da relevância na economia do Brasil, o setor industrial da fabricação de automóveis, caminhões e ônibus representou 2,5% e o agropecuário, 6,7%.
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Considerando que o Terceiro Setor é composto por iniciativas consideradas sem fins lucrativos dos mais diversos tipos de finalidades, que vão de igrejas, clubes de futebol, partidos políticos, movimentos sociais, até associações comunitárias ou de bairros, podemos considerar que a gestão nessas organizações deve ser profissionalizada?
Porque ainda nos referimos que o Terceiro Setor é o lugar somente do voluntariado? Será que ainda há espaço para a atuação amadora dessas organizações? E, o fato de buscar a profissionalização desse setor, gera mais benefícios ou prejuízos? Questões como essas dividem opiniões entre as pessoas que atuam e estudam sobre o tema.
Ao acompanharmos o crescimento das últimas décadas do Terceiro Setor no Brasil, seja do ponto de vista da quantidade de organizações, da representatividade econômica ou dos impactos sociais gerados, é comum encontrarmos profissionais que se desenvolveram em cursos de curta duração, participação em palestras e até cursos de pós-graduação que oferecem conhecimento sobre gestão.
Em tempos de transparência, inovação e novas tecnologias, os gestores buscam cada vez mais gerar maior sustentabilidade de suas ações, pois, o atual cenário exige organização dos processos para conseguir demonstrar capacidade em atingir os objetivos propostos.
Se uma iniciativa se propõe a combater o trabalho infantil, reduzir o desemprego de pessoas com deficiência, oferecer apoio a mulheres vítimas de violência doméstica, fomentar o empreendedorismo local ou capacitar jovens para o mercado de trabalho, é importante demonstrar quais foram os resultados para os investidores, doadores ou financiadores, que podem ter origem pública ou privada.
Melhorar os processos de gestão tem como finalidade aumentar a capacidade para lidar com as questões relacionadas à burocracia de contratos, acompanhamento das parcerias, execução das atividades, mensuração dos resultados e capacidade de exercer influência local.
Segundo Peter Drucker, autor reconhecido em publicações sobre o Terceiro Setor, uma boa gestão começa pela definição de um plano estratégico que define uma missão organizacional, visão, valores e objetivos de longo prazo alinhados com o impacto social desejado.
Esses desafios podem estar relacionados a capacidade de cada iniciativa em: a) contribuir com a democratização local em favor de políticas públicas; b) aumentar a sua independência e autonomia; c) buscar eficiência em relação às atividades propostas e resultados; d) melhorar as condições de trabalho para os funcionários remunerados; e) melhorar a gestão do voluntariado; f) ampliar a capacidade de atuação em rede, com a participação de stakeholders públicos e privados; g) fortalecer a reputação e imagem institucional; h) garantir eficiência operacional administrativa, financeira, contábil e jurídica.
Ou seja, independentemente da história que cada pessoa possui para atuar como profissional remunerado ou voluntário, como aquela mãe que perdeu o seu filho devido ao câncer que se propõe a criar um hospital filantrópico ou aquele medalhista olímpico que cria um projeto social em uma comunidade, é imperativo que a gestão dessas iniciativas demonstre qual é a contribuição, relevância e impacto das atividades.
Na última jornada do BASIS, programa da Fundação Dom Cabral que visa desenvolver líderes e gestores de iniciativas sociais, com cerca de 200 participantes, destacamos algumas percepções. “Aprendi coisas novas e me atualizei”; “Tive contato com áreas que não atuava, isso me ajudou a pensar de forma mais ampliada para compreender melhor uma organização”; “Conseguimos aprender sobre finanças que é tão difícil!”. As turmas foram compostas por iniciativas de atenção à pessoa idosa em Belo Horizonte e foram capacitadas em estratégia, governança, finanças, pessoas, comunicação, mobilização de recursos e processos.
Após a jornada, cada participante pôde fazer uma monitoria com um professor especialista. As monitorias mais solicitadas foram de Mobilização de Recursos com 28%, Estratégia com 24% e Gestão de Pessoas com 17%.
O interessante é que, ao pesquisarmos sobre os temas que mais aparecem nos artigos acadêmicos no Brasil sobre o Terceiro Setor, identificamos que esses três temas também são os preferidos pelos pesquisadores.
Profissionalizar a gestão é uma forma de enfrentar os desafios do dia a dia de forma mais eficiente, e se houver uma atenção mínima no desenvolvimento da capacidade de desenvolver uma estratégia com propósito, visão de futuro, gestão de pessoas e mobilizar os recursos necessários, trabalhar no Terceiro Setor deixará ser algo relacionado somente a caridade ou ao amadorismo para ser reconhecido como um setor relevante no Brasil, com papel fundamental no desenvolvimento social, ambiental e econômico.
*Prof. Dr. Oswaldo Ferreira Barbosa Junior é professor associado da Fundação Dom Cabral. Atua há 24 anos na gestão de iniciativas do Terceiro Setor como professor, consultor e gestor. Doutor em Administração pela PUC Minas, mestre em Administração Pública pela Fundação João Pinheiro e especialista em Gestão e Elaboração de Projetos Social. Instrutor certificado da metodologia Projeto Dpro.