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“Se quer ir longe, vá em grupo”
Por Danilo Maeda*
A interconexão é um dos aspectos mais relevantes da sustentabilidade. Ela traz complexidade e torna a agenda mais difícil, mas também produz beleza e esperança. Temas ambientais, sociais e econômicos impactam uns aos outros em diversos níveis. Desta forma, se a busca por resolver problemas em uma frente desconsiderar essa interdependência, é possível que tais esforços produzam efeitos colaterais negativos.
É por isso que o ODS 17 existe. Mesmo assim, esse talvez seja o mais intangível e difícil de compreender. O que queremos dizer com “parcerias e meios de implementação”, afinal de contas? E porque esse tema é tão relevante, a ponto de ser o ODS que mais recebeu recursos financeiros em 2024, segundo a própria ONU (16,2% do total)?
Momentos de crise são grandes exemplos da interconexão da agenda, tanto na forma como aspectos ambientais sociais e econômicos se interligam quanto na necessidade de integração para as estratégias de resposta aos grandes desafios globais. Eventos climáticos extremos começam como crises ambientais e geram importantes prejuízos econômicos e sociais. Com o esperado aumento em frequência e gravidade, tornam-se fundamentais estratégias de adaptação, mitigação e de reforço da resiliência de infraestruturas, que, para serem executadas na velocidade necessária, dependem de uma atuação integrada de poder público, iniciativa privada e sociedade civil.
A pandemia de Covid-19 é outro bom exemplo dessa complexidade. Fatores sociais, ambientais e econômicos são encontrados desde a origem do vírus até a (falta de) capacidade de diversos governos e culturas em responder ao maior desafio de nossa geração de forma coordenada e eficiente. Os impactos também se deram em diferentes esferas: mortes, sistemas de saúde sobrecarregados, sofrimento psicológico, redução do PIB global, crise financeira, cortes salariais e demissões, entre outros.
Convivemos com cansaço e flutuações de humor – entre um otimismo esperançoso de que o mundo sairá dessa melhor e uma descrença na nossa capacidade de reação. A complexidade do mundo real demanda um esforço consciente e a construção de parcerias.
Há um provérbio africano que diz “se você quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá em grupo”. Não consegui identificar a origem com precisão, mas a frase sábia ensina que pessoas e organizações também são interdependentes. Na gestão, tal entendimento deve ser a base do engajamento de stakeholders, ao tomar decisões estratégicas considerando a percepção – e eventualmente espaço para participação direta – de todos os públicos que se relacionam com o negócio.
Há duas grandes vantagens em atuar desta maneira. A primeira é o mapeamento de riscos, que podem ser resolvidos antes de se tornarem problemas maiores. A segunda é a geração de valor, a partir da percepção antecipada de demandas e necessidades não atendidas. Não à toa, pesquisas têm demonstrado que um trabalho bem feito de relações com partes interessadas está relacionado com melhores resultados financeiros no longo prazo.
Um exemplo prático é o das empresas que abraçam causas consideradas justas por seus stakeholders – com claros benefícios para quem responde à altura. A sociedade espera que as empresas sejam parte da solução.
Dado o tamanho dos desafios atuais e futuros, é urgente que a cultura corporativa deixe de mirar os resultados de curto prazo e passe a atuar de forma efetiva nas temáticas que afetam a todos. As crises que vivemos exacerbaram a necessidade de engajamento. Que nossas organizações saibam construir relações honestas e abertas, com o entendimento de que precisamos andar juntos, pois compartilhamos do mesmo planeta e desejamos ir longe; e não cair diante de catástrofes provocadas por nossa própria espécie.
* Danilo Maeda é head da Beon, consultoria de ESG da FSB Holding.
**As opiniões expressas no artigo não necessariamente expressam a posição de NEO MONDO.