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Por – Camila Valverde*
Há algum tempo a crise climática se tornou mais intensa e impossível de ser ignorada. Alcançar uma economia sustentável, respeitando os direitos de todas as pessoas e que não deixe ninguém para trás, é uma prioridade urgente. Para isso, é necessário o comprometimento de todos os setores da sociedade, dentre eles, ressalto a importância do envolvimento de um deles: o empresarial. Não se pode ignorar que as organizações são força-motriz da economia e agem em diversas frentes, algumas delas relacionadas ao desenvolvimento humano e socioeconômico das comunidades que as rodeiam. Boas lideranças empresariais inspiram equipes inteiras e – na era da hiperconectividade das redes sociais – também podem tocar quem ouvir seu discurso e constatar suas ações.
Mas com tantos afazeres e questões a administrar, será que todas as lideranças estão dando a devida atenção para a Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), propostos pela Organização das Nações Unidas? Quem ainda não ajustou a pauta de sustentabilidade ao core business de sua companhia está fadado a ser engolido como mato seco no caminho das queimadas.
As reações cada vez mais severas – por vezes incontroláveis – da natureza à ação do homem são globais e atingem diferentes grupos de forma desigual. É a (in)justiça climática: pessoas em vulnerabilidade econômica, mulheres, pessoas negras e outros grupos minorizados sofrem mais com os efeitos da crise do clima e violações de direitos humanos que envolvem trabalho decente e salário digno.
De acordo com o estudo “O saneamento e a vida da mulher brasileira”, do Instituto Trata Brasil, produzido pela consultoria EX Ante Consultoria Econômica em 2022, as condições das moradias, em geral, e a situação do saneamento, em particular, afetam de forma decisiva a saúde das mulheres. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Continuada (PNADC) identificou que cerca de 2,5 milhões de mulheres ainda viviam em moradias sem banheiro de uso exclusivo em 2019. No mesmo ano, mais de 15,7 milhões de brasileiras ainda não recebiam água tratada em suas residências e havia 8,8 milhões de mulheres que tinham acesso à rede geral de distribuição de água, mas a frequência de entrega era insatisfatória. Portanto, havia 24,6 milhões de mulheres que não recebiam água de forma regular e segura em suas moradias.
Em 2019, o contingente de mulheres que residiam em moradias sem coleta de esgoto alcançou uma cifra ainda maior: 41,4 milhões. Isso significa que quatro em cada dez brasileiras ainda viviam em situação precária do ponto de vista do acesso ao saneamento básico. Esta é só uma pequena fração dos dados que tem efeitos diretos na saúde de uma trabalhadora, por exemplo, que influencia diretamente também na sua família e dependentes, principalmente, se considerarmos os dados de recente pesquisa do IBGE, que diz: a maior parte das famílias no Brasil é chefiada por mulheres. Em 2023, elas lideravam 51,7% dos lares. Sendo ainda a maior parte dos domicílios com insegurança alimentar no ano passado aqueles liderados por mulheres, com 59,4%.
Pode ser também que as lideranças não saibam como começar a fazer sua empresa se implicar com essa realidade e o que tem a ver com ela? Para ajudar com essas respostas, o Pacto Global da ONU – Rede Brasil criou a estratégia Ambição 2030, que abriga dez Movimentos sobre assuntos ligados aos ODS prioritários no País, com metas e a necessidade de assumirem compromissos públicos dentro das organizações. São eles: Mais Água, Ambição NetZero, Transparência 100%, Impacto Amazônia, Conexão Circular, Educa2030, Elas Lideram 2030, Salário Digno, Mente em Foco, Raça é Prioridade.
Os Movimentos oferecem uma jornada para que as empresas interessadas avancem para mudar suas operações e revejam seu impacto ambiental, tragam diversidade na equipe, com mais mulheres e pessoas negras na liderança, protejam a biodiversidade e o oceano, produzam menos lixo e emissões de carbono, promovam saúde mental e salário digno para todas as pessoas trabalhadoras.
Uma empresa pode estar mais avançada em um assunto e menos em outro, por exemplo, mas sempre há caminhos distintos para essa jornada. O Pacto Global como uma rede promove o intercâmbio entre elas e diferentes atores dessa mudança, como organizações da sociedade civil e órgãos públicos. Nós, enquanto lideranças, temos o poder da caneta nas mãos, para tomar decisões nesta direção. E essa caminhada fica ainda mais rica quando ações corporativas extrapolam as paredes das salas e escritórios. Hoje são 1,3 milhão de trabalhadores e trabalhadoras impactados e impactadas pelas ações dos nossos Movimentos, que incluem a cadeia de valor. Espalhem este pensamento de transformação, esta vontade, para que a sua empresa seja um exemplo de rotação sustentável para todo o mundo.
*Camila Valverde é COO e Diretora da Frente de Impacto do Pacto Global da ONU – Rede Brasil.
**As opiniões expressas no artigo não necessariamente expressam a posição de NEO MONDO.