82% das emissões de GHG mundiais advêm da geração e do consumo de energia – Imagem: Freepik
ARTIGO
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Por – Luísa Valentim, Head de Desenvolvimento de Novos Negócios da WayCarbon, para Neo Mondo
Estamos chegando ao final de um ano que caminha para ser o mais quente já registrado, e às vésperas de mais uma conferência global do Clima, a COP28, em Dubai. É momento de refletir alguns temas centrais na agenda climática, como barreiras e oportunidades de alavancar iniciativas que busquem sempre ser mais efetivas, alinhados à urgência do tema.
A transição energética é o nosso maior desafio, já que 82% das emissões de GHG mundiais advêm da geração e do consumo de energia em seus diversos usos finais – como transporte, geração de eletricidade, aquecimento, entre outros, segundo relatório da Statistical Review of World Energy. Para superar essa barreira, é necessário discutir e entender pontos críticos além do óbvio, para, também, encontrar soluções.
O principal desafio da transição energética não é tecnológico; estima-se que 80% das reduções necessárias até 2030 podem ser atingidas com tecnologias que já dominamos. Porém, há diversos desafios regulatórios, de investimento e geopolíticos, que acrescentam várias camadas de complexidade.
Outro fator que precisa de atenção (COP28) é a falta de acesso à energia e a pobreza energética, temas centrais em uma transição energética justa. De acordo com relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), em conjunto com o Banco Mundial, 675 milhões de pessoas (quase 10% da população mundial) não têm acesso à energia e 30% não têm acesso a combustíveis limpos para cozinhar, fatores que comprometem a saúde e o bem-estar.
Para resolvermos problemas emergentes, como a pobreza energética, precisamos de estratégias viáveis e ambiciosas. O Brasil tem grande potencial de atração de investimentos para a economia verde, mas não podemos viver apenas no potencial. Precisamos concretizar isso em metas, previsibilidade regulatória, políticas de Estado e investimentos. Para mantermos o propósito de limitar o aquecimento do Planeta a 1,5°C, precisamos triplicar a capacidade de energia renovável até 2030, além de duplicar a eficiência no uso de energia a cada ano nesta década. É ambicioso, mas atingível.
A América Latina é dona de minerais críticos essenciais à transição energética como terras raras, lítio, cobre, entre outros. É necessário que a exploração destes recursos seja planejada de forma a proteger a população vulnerável e reduzir impactos ambientais. A produção de combustíveis fósseis precisa ser drasticamente reduzida ainda nesta década, mas em pleno 2023 os países têm, em conjunto, planos de dobrar a capacidade de produção atual neste prazo.
Novos modelos de negócios e estratégias financeiras são essenciais para viabilizar a transição. O desenvolvimento massivo da energia solar e eólica globalmente foi fruto de uma série de inovações financeiras e de negócios, e deve servir como ponto de partida para novas tecnologias como armazenamento, hidrogênio verde e CCS.
Outra alternativa a se fomentar são os biocombustíveis, que – na minha opinião – são subestimados. Por que não há incentivos de usarmos 100% de etanol nos veículos no Brasil? É um combustível nacional, com pegada de carbono até 80% inferior à da gasolina.
Toda energia limpa é bem-vinda e terá papel essencial na transição. Não há solução tecnológica melhor que a outra, precisamos do melhor de todas. Todas estas pautas estarão no centro das discussões da COP28. Governos, sociedade civil e setor privado terão oportunidade de fazer um balanço de ações, compartilhar lições aprendidas e repactuar metas. O Brasil terá a maior delegação de todas as COPs, com mais de 2.400 pessoas (COP28). Será uma grande oportunidade de multiplicar o diálogo e a representatividade do país reafirmando nosso protagonismo climático de anos anteriores. Para isso, é preciso abordar o tema durante o encontro e ter disposição para discutir ideias e reflexões que nos levem às soluções, afinal, não podemos mais desperdiçar tempo na transição energética.