Foto – André Dib
POR – REDAÇÃO NEO MONDO
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54% da superfície terrestre do mundo consiste em áreas sem florestas, mas apenas 10% dos planos climáticos nacionais (como parte do Acordo Climático de Paris) incluem referências a esses biomas.
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Apesar de sua importância para o clima, a natureza e as pessoas, os biomas não florestais estão ameaçados pela conversão crescente e pelos efeitos drásticos da mudança climática.
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Um novo atlas dessas paisagens pode orientar os negociadores do clima e da biodiversidade que se preparam para as cúpulas da ONU
Um novo atlas mostra que 54% da superfície terrestre do mundo consiste em biomas diferentes das florestas. São áreas que abrigam alguns dos habitats mais preciosos da Terra e sustentam centenas de milhões de pessoas. É o caso, por exemplo, do cerrado brasileiro, dos pampas e da caatinga. Mas, até agora, esses biomas não florestais raramente figuravam nas agendas internacionais: apenas 10% dos planos climáticos nacionais (como parte do Acordo Climático de Paris) incluem referências a essas áreas, ao passo que 70% incluem referências a florestas. Embora sejam conhecidos por desempenhar um papel fundamental no armazenamento de carbono, como habitat para diversos animais selvagens e origem para alguns dos maiores rios e pântanos do mundo, parte da razão pela qual foram subvalorizados é a falta de dados consolidados sobre sua extensão e valor.
O Rangelands Atlas preenche parte dessa lacuna. Biomas não florestais (rangelands, em inglês) consistem em sete biomas, incluindo pastagens, savanas, desertos, arbustos e tundra. O atlas, que engloba 16 mapas e será continuamente atualizado, foi publicado em conjunto pelo International Livestock Research Institute, a , o WWF, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e a Coalizão Internacional de Terras, com contribuições da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.
O Cerrado brasileiro é um bom exemplo da importância dos biomas não florestais. Uma das regiões de maior biodiversidade do mundo, estima-se que possua quase 5% de todas as espécies no mundo e 30% da biodiversidade do país. Ele também detém vastos estoques de carbono, principalmente no subsolo: aproximadamente 13,7 bilhões de toneladas. O processo de conversão do bioma impediria, por exemplo, o cumprimento dos compromissos internacionais do Brasil nas Convenções do Clima e de Biodiversidade. Porém sofrendo com a degradação, o Cerrado também abriga um dos seis locais reconhecidos pelo Estado como em processo de desertificação.
“Até o momento, os esforços de conservação e desenvolvimento têm se concentrado nas florestas, deixando de lado outros ecossistemas valiosos. Este atlas nos mostra, pela primeira vez, a extensão dessas áreas e destaca que devemos parar de negligenciá-las se quisermos enfrentar as crises climáticas e naturais do mundo e, ao mesmo tempo, atender de forma sustentável à demanda global de alimentos. A proteção, gestão e restauração dos ricos e variados ecossistemas que compõem os biomas não florestais são fundamentais e sua relevância deve ser refletida nas agendas de conservação global”, declarou Karina Berg, líder da iniciativa global Grasslands and Savannahs, do WWF.
Foto – Divulgação
Um exemplo recente de esforços de conservação dos biomas não florestais é o projeto CERES, iniciativa da União Europeia com as organizações WWF-Brasil, WWF-Paraguai, WWF-Holanda e ISPN (Instituto Sociedade, População e Natureza). Com quatro anos de duração e 5,5 milhões de euros de investimentos, ele visa encontrar, testar e alavancar soluções inclusivas de conservação da paisagem no Cerrado brasileiro que possam ser replicadas em outras savanas ao redor do mundo.
Iniciativas para preservar biomas não florestais são urgentes: até o momento, apenas 12% deles são designados como áreas protegidas.
Boa parte do restante está ameaçada pela escalada da conversão, especialmente para agropecuária. Mais uma vez, o Cerrado brasileiro é um bom exemplo: entre 1 e 27 de maio deste ano foram desmatados 870 km2, um aumento de 142% em comparação aos 360 km2 registrados no mesmo período em 2020. No acumulado do ano, foram destruídos 2.065km2 entre 1 de janeiro e 27 de maio deste ano, contra 1.685km2 no mesmo período do ano passado – um aumento de 22%. A aceleração da devastação também é evidente quando se considera o acumulado desde agosto – quando começa a contagem oficial da temporada de desmatamento no Brasil. De agosto até o fim de maio, o Cerrado teve 3.868 km2 destruídos, um aumento de 30% em comparação ao mesmo período em 2020, quando foram desmatados 2.981km2. Entre agosto de 2019 e julho de 2020 a destruição foi de cerca de 7,3 mil km², um aumento de 12,3% em relação ao mesmo período do ano anterior.
O atlas mostra que nos últimos três séculos mais de 60% da vegetação nativa e florestas foram convertidas – uma área maior que a América do Norte – e uma área aproximadamente do tamanho da Austrália (7,45 milhões de km2) agora é usada para plantações. Essa mudança no uso da terra contribui para a crise climática e o atlas mostra que as áreas não florestais também sofrerão com o aquecimento global. Os efeitos drásticos ocorrem em uma área com o dobro do tamanho da Europa, com a natureza sendo perigosamente desestabilizada e a capacidade de produzir alimentos, combustível e fibras sendo reduzida. Os novos dados do Atlas podem ajudar os formuladores de políticas a gerenciar melhor esses biomas, com grandes benefícios para as pessoas, a natureza e o clima.
No segundo semestre de 2021, líderes governamentais participarão de conferências anuais para as três Convenções do Rio: sobre mudança climática (UNFCCC), biodiversidade (UNCBD) e desertificação (UNCCD), juntamente com a primeira Cúpula de Sistemas Alimentares da ONU. A publicação vem a público ao início da Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas, podendo ajudar a orientar governos, organizações internacionais, ONGs e doadores na restauração, proteção e melhor gestão dessas áreas.
O atlas está disponível AQUI (conteúdo em inglês).