POR – OSCAR LOPES LUIZ, PUBLISHER DE NEO MONDO
A campanha “O que você faz Importa”, é uma iniciativa regional e multiplataforma que busca inspirar o público a adotar hábitos sustentáveis, reduzir a pegada de carbono individual e proteger o planeta
A iniciativa reforça o compromisso sustentado da National Geographic com a sustentabilidade, baseado em cinco pilares: redução do consumo de energia; evitar plásticos descartáveis; adotar uma dieta balanceada; incorporar meios de transporte sustentáveis; e inspirar e expandir a mensagem, gerando consciência e participação. A campanha foi lançada em outubro do ano passado com a estreia de um curta-metragem original, estrelado por 45 talentos latino-americanas do entretenimento e do esporte, que estimula o público a uma ação coletiva para lutar contra as mudanças climáticas e proteger o planeta.
Essa campanha faz parte do compromisso contínuo da The Walt Disney Company Latin America com o cuidado com o meio ambiente, expresso por meio do Disney Conservation Fund (DCF) e de bolsas concedidas pela National Geographic Society. O DCF anualmente concede fundos para organizações sem fins lucrativos, que lideram atividades e iniciativas de conservação abrangentes e comunitárias para apoiar a proteção de habitats, o estudo da vida selvagem e o desenvolvimento de programas comunitários de conservação e educação em ecossistemas críticos inspirando crianças e famílias a agir pela vida selvagem e pelo planeta. Este ano, o DCF continuou seu compromisso, apoiando 50 organizações conservacionistas que trabalham para proteger mais de 100 espécies em 25 países. Por sua vez, desde 1888, a National Geographic Society apoia projetos que buscam aumentar o conhecimento sobre o planeta e inspirar soluções para o bem comum, por meio do investimento em pessoas ousadas com ideias transformadoras no campo da conservação, exploração, contação de histórias, pesquisa científica e educação.
Abaixo segue entrevista “exclusiva” com o biólogo Marcelo Rheingantz que recebeu uma bolsa da National Geographic em 2019 para implementar um projeto chamado “Rio go Wild” que busca reintroduzir quatro espécies de vertebrados no Parque Nacional da Tijuca, Brasil. Ele tem dedicado sua carreira em compreender como os animais interagem com o ambiente, como as atividades humanas os afetam e como encontrar maneiras para restaurar ambientes defaunados com conservação e translocação. Atualmente trabalha com ecologia populacional e conservação de vertebrados e com implantação de fauna silvestre técnicas de gestão, como reintrodução, translocação e planejamento.
Confira:
Parque Nacional da Tijuca – Foto: Divulgação
NEO MONDO – Muitas pessoas sabem que estamos fazendo mal ao meio ambiente, mas não tomam nenhuma atitude. Como podemos convencer essas pessoas a começarem a se importar com a natureza?
MARCELO – Esta é uma típica situação em que a ideia da Tragédia dos Bens Comuns, popularizada por Garrett Hardin no séc XX, se aplica. No artigo, Hardin argumenta que o livre acesso e demanda crescente a um recurso limitado acaba por exaurir dado recurso para todos quando a sua exploração se torna mais e mais difundida. As ações individuais parecem pequenas dentro do todo, mas ao somar todas as ações individuais temos um superconsumo do recurso, exaurindo-o. Quando há mais consumo do que a sua capacidade de reposição, este bem se torna cada vez mais escasso. Temos exemplos e mais exemplos de como o mal manejo de recursos levam à extinção espécies, ecossistemas e até mesmo povos, como ocorreu com os Clovis na América do Norte. Vários destes exemplos são muito bem descritos no Livro Colapso, do americano Jared Diamond, em que ele também mostra exemplos de como algumas sociedades foram bem-sucedidas ao utilizarem os recursos de maneira consciente.
A população humana vem crescendo em escala quase exponencial desde o começo do século XX. Somos 7,5 bilhões de pessoas atualmente. Transformamos tanto o planeta em que vivemos, que de toda a biomassa de mamíferos vivente no planeta hoje, apenas 4% é composta por vida selvagem.
Ao mesmo tempo, a demanda individual pelo consumo é crescente, e as pessoas erroneamente interpretam que maior qualidade de vida implica em maior consumo individual. Esta demanda crescente por consumo não é nem um pouco sustentável, ainda mais que temos a expectativa de ter mais três bilhões de pessoas até 2100, o que deverá modificar ainda mais o planeta se nada for feito.
Foto – Pixabay
Qualquer ação que façamos que impacte um pouco menos o planeta importa. Para convencer as pessoas, temos três ações que se complementam. Primeiro, devemos buscar dar exemplo e evitar dar continuidade a ações danosas que são insustentáveis no significado estrito da palavra. Segundo, devemos também mostrar como nossas ações impactam no nosso dia-a-dia, como levam aos problemas ambientais e até mesmo econômicos que temos. Como exemplo temos a alteração dos regimes hídricos provocadas pelas mudanças climáticas ou pelo assoreamento de corpos d’água, que afeta quantidade e qualidade da água, com consequências na agropecuária, indústria e geração de energia e, por conseguinte, na nossa economia. E por último, mas não menos importante, elegendo representantes que tenham na sua plataforma a agenda ambiental, ou ao menos sejam ambientalmente sensíveis.
Mas o exemplo pode fazer com que as pessoas do entorno busquem reproduzir as boas ações. Destinar corretamente o lixo; evitar gastar mais energia e água do que necessitam; consumo consciente de alimentos e bens, evitar produzir muito lixo, sobretudo plástico, e se preocupar com o seu destino; saber se o produto que você compra é oriundo de práticas que visam diminuir o impacto no ecossistema e se a empresa superexplora seus funcionários ou o ambiente.
No condomínio onde moro, me ofereci para coletar óleo, lâmpadas e pilhas de todos os moradores e dar a correta destinação, pois sei que o descarte incorreto destes materiais pode ter efeitos significativos no ambiente. A síndica conseguiu fazer coleta seletiva para reciclagem, dando correta destinação. São ações muito pequenas, mas que significa diminuição de impacto de 40 unidades, por volta de 120 pessoas.
NEO MONDO – Você acha que essa nova geração está mais preocupada com o meio ambiente? O que vê de diferente neles?
MARCELO – Sim, a geração dos chamados millenials é bem mais engajada pela causa ambiental do que as gerações anteriores. Desde a conferência da Eco 92 que ocorreu no Rio de Janeiro, a temática ambiental vem ganhando importância na sociedade. Os jovens de hoje crescem sabendo como suas ações afetam o ambiente que os rodeia. E por terem crescido utilizando ferramentas e dispositivos digitais, eles são naturalmente conectados e usam estas plataformas para engajar e cobrar empresas que pratiquem ações mais voltadas para consumo consciente, valorizam a transparência e a responsabilidade social e ambiental. As mídias sociais ajudam ainda a engajar estes jovens, com rapidez impensada até os anos 2000, graças a este mundo hiperconectado em que vivemos. Em 2019, a sueca Greta Thunberg conseguiu engajar milhões de jovens em machas estudantis pelo clima em todo o planeta. Estes protestos deram origem a diversos debates e implementação de medidas imediatas para conter as mudanças climáticas. As empresas notaram esta demanda crescente e insatisfação dos jovens e vem buscando práticas socialmente e ambientalmente menos danosas. Estes jovens engajados ambientalmente serão os gestores de amanhã e irão usar práticas ambientalmente e socialmente mais inclusivas.
Greta Thunberg – Foto: Divulgação
NEO MONDO – Sobre o seu ramo de pesquisa, o quão importante é preservamos o ambiente em que os animais selvagens vivem e como a população no geral pode ajudar nisso?
MARCELO – A sexta onda de extinção global em massa que estamos enfrentando, a primeira causada por nós, está colocando em risco não só diversas espécies que estão sendo localmente e globalmente extintas, mas a nossa própria sobrevivência enquanto espécie. O ar que respiramos, a água que bebemos, a comida que comemos depende da biodiversidade e dos ciclos geoquímicos. Sem plantas e algas, não teríamos oxigênio para respirar, por exemplo. Manter a biodiversidade é, portanto, um dever de todos nós.
Enquanto biólogos da conservação, buscamos não só manter os ecossistemas que ainda restam, mas também recuperá-los, reconstruí-los. Os animais precisam dos ambientes naturais, mas estes ambientes também precisam dos animais, é como uma relação de simbiose. Ao ver pilhas de frutos apodrecendo no chão das florestas, isso é um sinal de que elas estão doentes. Faltam os elementos que comem e dispersam as sementes: os animais. Uma floresta vazia está condenada, muitas das árvores não se regeneram porque dependem dos animais para dispersar suas sementes. Buscamos recolocar as peças que faltam para que a floresta fique o mais completa possível. Os ecossistemas naturais, em especial as florestas, ajudam a manter o clima, o regime de chuvas, a temperatura, a umidade. Quanto mais biodiversidade, melhor, até mesmo para nossa saúde. Ao desequilibrarmos os ecossistemas ou interagirmos com animais silvestres, aumentamos a chance de transmitir e pegar doenças. A COVID-19 é uma zoonose que tem origem nesta interação indevida entre animais e pessoas. O que posso recomendar é que deixem animais em vida livre, não os alimentem nem interajam com eles, apenas contemplem; evitem comprar animais silvestres, sobretudo ilegais; e não desmatem nem comprem produtos que se originem do desmatamento ou caça ilegal. Não há nada mais bonito do que ver um animal em seu ambiente natural, o poder da descoberta, ver como ele interage com o mundo ao seu redor, e para isso ele precisa também do ambiente que vive.
NEO MONDO – Você pode dar pequenas dicas de dia a dia de ações que as pessoas podem ter para diminuírem seu impacto na natureza?
MARCELO – Buscar entender se cada produto que você adquire tem origem de práticas ambiental e socialmente responsáveis; diminuir o consumo de produtos que sabidamente causam impacto ambiental, sobretudo os que venham de áreas de desmatamento ilegal ou que utilizem produtos tóxicos na sua produção; evitar jogar lixo no chão; buscar dar correta destinação ao lixo, com separação de lixo eletrônico, hospitalar, reciclável e orgânico; valorizar pequenos produtores locais, evitar consumir mais do que necessita e comprar produtos que não necessita, valorizar meios de transporte que impactem menos o planeta.
NEO MONDO – Qual a importância de campanhas como essa O QUE VOCÊ FAZ IMPORTA da National Geographic para conscientizar as pessoas?
MARCELO – Mesmo pequenas ações, se feitas coletivamente, podem ter muito impacto no planeta. Isso ajuda no sentimento de pertencimento das pessoas, de que elas precisam e podem fazer algo, contribuindo com a mobilização. Ao se sentirem responsáveis pela mudança, as pessoas lutam para que empresas e representantes também busquem alternativas para gerar menos impacto, que adotem práticas mais responsáveis. As pessoas mobilizadas poderão mobilizar ainda mais pessoas, criando uma bola de neve positiva em prol de hábitos que diminuam a pegada humana na Terra.
Marcelo Rheingantz é biólogo do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, coordenador de campo de Ecologia Populacional e Conservation Lab desde 2012, é membro da IUCN Grupo de especialistas em translocação de conservação e diretor científico do Instituto Luisa Pinho Sartori, uma pequena ONG cuja missão é inspirar jovens conservacionistas