Pino D'Angiò Foto: Reprodução

De Marcos Valle a Sérgio Mallandro: o legado de Pino D’Angiò

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Cantor italiano foi profundamente influente na música brasileira dos anos 80

Se você gosta de dançar, saiba que já ouviu muito mais Pino D’Angiò do que imagina. O cantor italiano, falecido no último sábado (06) aos 71 anos, influenciou gerações da música brasileira (em especial no Rio de Janeiro) quando alcançou sucesso mundial, em 1982, com um novo tipo de música que caiu como luva no fervido circuito das discotecas do país, chamado rap-funk.

O gênero musical do qual Pino foi protagonista misturava as linhas de baixo e as batidas de mestres como Kurtis Blow, Kool & The Gang e Bootsy Collins com vocais em spoken word, uma espécie de rap branco que tomou conta da Itália bem no comecinho dos anos 80. O som, dançante, boogie e esquisito, encantou os DJs.

Brasileiros como Marcos Valle, Fernanda Abreu, Fausto Fawcett e até Sérgio Mallandro (que se lançou no mundo artístico como cantor) entraram de cabeça nessa nova onda, que combinava com o Rio de Janeiro como nenhum outro gênero musical, solar e festivo. Foi uma febre. E tudo graças a um hit de Pino D’Angiò que invadiu o país, Ma Quale Idea, lançado em 1981.

Ao boogie irresistível da base, Pino adicionou um vocal “sensual” em italiano, dando um ar inusitado à faixa. Aquela característica estranha que faz com que as pessoas na pista de dança tenham um estalo ao ouvir pela primeira vez, virando para o amigo na pista e falando: “meu, que p%$a é essa?”.

A surpresa fez a cabeça não só dos festeiros, mas também dos artistas que estavam em busca de um novo som. Sérgio Mallando, que tentava a carreira na música, correu para fazer uma versão de de Ma Quale Ideia e a lançou já em 1982, em um compacto que tinha Vem Fazer Glu-Glu no Lado A. Marcos Valle foi além. Já vinha flertando com o funk em seu álbum de 1981, Vontade de Rever Você. Mas definitivamente se pinodangeou em 1983, no disco homônimo que já abria com Estrelar — o boogie de “tem de correr, tem de malhar, tem que suar”, profundamente influenciado pelo hit do italiano, incrementado pelo talento musical gigantesco de Valle, como não poderia deixar de ser.

Nascia uma onda musical com a cara das praias cariocas. Virou tsunami, graças a produtores como Lincoln Olivetti, que entrara de cabeça na sonoridade, produzindo discos de grandes artistas, cuja estética nadava de braçada naquele novo funk eletrônico e dançante. Olivetti esteve por trás da “cara oitentona” de artistas como Rita Lee, Tim Maia, Jorge Ben e o próprio Marcos Valle, em discos cuja influência de Pino apareciam em maior ou menor intensidade.

Entre os independentes da época, cada novo lançamento apresentava uma nova visão, devidamente transmutada, do funk falado de Pino D’Angiò. Fausto Fawcett e seus Robôs Efêmeros, em 1987, levaram a coisa para o lado mais intelectual. Fernanda Abreu, em 1990, entrou de cabeça no som. E a referência se estende até hoje. Basta ouvir artistas da nova guarda, como o duo carioca Nu Azeite, formado por Fabio Santanna e Bernardo Campos.

Pino D’Angiò apareceu para o mundo justamente em 1981, explodindo com Ma Quale Idea no álbum …Balla!. Chegou a emplacar música tema em novela brasileira, caso de Perdoni Tenenteque entrou para a trilha sonora de Terra e Paixão. Sua música foi a semente da sonoridade de uma década no Brasil. As folhas e frutos que brotaram a partir de seu disco de estreia foram fartamente ouvidas por todos nós.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

× Curta Music Non Stop no Facebook