Jeff Mills The Eye Witness Foto: Reprodução

Review: Jeff Mills eleva o techno a pura arte em novo álbum

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Em 13 faixas brilhantemente produzidas, The Eye Witness já surge como um clássico do gênero

The Eye Witness, álbum lançado pelo mestre do Detroit techno Jeff Mills no último 05 de julho, já nasce como um dos mais importantes do universo de música eletrônica. O maestro sabe o que faz. Em 13 faixas brilhantemente produzidas, o produtor passeia pela música ambiente e o experimentalismo a partir da mentalidade do techno, que aparece aqui escondidinho por trás de camadas de concreto, neblina e paisagens inconscientes. O novo lançamento pode ser adquirido em vinil duplo e também está disponível em todas as plataformas de streaming.

Composto, tocado e produzido por Mills com a ajuda de Steve Kovacs na masterização, o LP já começa chamando a atenção pela perfeição em cada timbre, cada elemento e cada batida. É coisa de gente grande, muito mais mental do que rítmica.

Existem discos que são abraçados pela geografia. Embora Jeff Mills, há muito tempo, seja um artista de presença mundial, Detroit segue em sua música. The Eye Witness traz consigo a distopia da cidade que é uma espécie de Gotham City da vida real. Ao atravessar suas músicas, lá estão as fábricas abandonadas, a neblina fria, os becos escuros e a mistura de resistência social com a desesperança industrial. Muito Detroit. Muito Jeff Mills.

Vez por outra, surge um álbum que balança o cenário do techno. Discos como From The Essence Of Minimalistic Sound, do alemão Pascal F.E.O.S., ou Unreasonable Behavior, do francês Laurent Garnier, por exemplo. Viram assunto nas rodas, deixam todos de queixo caído e apresentam um produtor indo muito além do som 4×4 feito para pista de dança. The Eye Witness é mais um destes clássicos. Em uma época pré-streaming, era preciso ouvir a recomendação do amigo e sair correndo para uma loja atrás da sua cópia, para então apreciá-lo em casa. Hoje, com a facilidade das plataformas, o lançamento acaba perdendo este efeito do “eu preciso tê-lo”, mas isso não diminui em nada a qualidade e a genialidade do novo disco de Mills.

Exemplos como este fazem do techno a vertente musical mais inteligente da música eletrônica. E muito disso, graças ao pioneiro Jeff Mills. Apesar de praticamente não ter vocalizações em suas 13 musicas, The Eye Witness é político, provocador e propositivo, assim como toda a obra do cara. Demanda atenção e maturidade na audição e eleva o gênero ao status de arte pura, em um universo onde a produção rápida e o abuso das fórmulas fáceis é o padrão. É um álbum conceito, no qual todos os elementos se completam. A capa, feita por Jacob Khrist e Annita Plastica, cada uma das tracks e até mesmo seus títulos: In A Traumatized World, Menticide, Mass Hypnosis, Sacred Iridescent Mirror, e por aí vai. Tudo trabalhando a favor do universo que Mills pretende apresentar ao ouvinte.

Reiterando, um disco de gente grande. Obrigado, maestro.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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