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    novo governo

    Em di�logos gravados, Juc� fala em pacto para deter avan�o da Lava Jato

    RUBENS VALENTE
    DE BRAS�LIA

    23/05/2016 02h00

    Pedro Ladeira - 5.abr.16/Folhapress
    Romero Juc�, ministro do Planejamento, disse que criar novo imposto n�o � a primeira op��o do governo
    Romero Juc� (PMDB-RR), senador licenciado e ministro do Planejamento, em fala no Senado Federal

    Em conversas ocorridas em mar�o passado, o ministro do Planejamento, senador licenciado Romero Juc� (PMDB-RR), sugeriu ao ex-presidente da Transpetro S�rgio Machado que uma "mudan�a" no governo federal resultaria em um pacto para "estancar a sangria" representada pela Opera��o Lava Jato, que investiga ambos.

    Gravados de forma oculta, os di�logos entre Machado e Juc� ocorreram semanas antes da vota��o na C�mara que desencadeou o impeachment da presidente Dilma Rousseff. As conversas somam 1h15min e est�o em poder da PGR (Procuradoria-Geral da Rep�blica).

    O advogado do ministro do Planejamento, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, afirmou que seu cliente "jamais pensaria em fazer qualquer interfer�ncia" na Lava Jato e que as conversas n�o cont�m ilegalidades.

    Machado passou a procurar l�deres do PMDB porque temia que as apura��es contra ele fossem enviadas de Bras�lia, onde tramitam no STF (Supremo Tribunal Federal), para a vara do juiz Sergio Moro, em Curitiba (PR).

    Primeiro trecho

    Grava��o de Romero Juc� - primeiro trecho

    Leia a transcri��o dos �udios

    Em um dos trechos, Machado disse a Juc�: "O Janot est� a fim de pegar voc�s. E acha que eu sou o caminho. [...] Ele acha que eu sou o caixa de voc�s".

    Na vis�o de Machado, o envio do seu caso para Curitiba seria uma estrat�gia para que ele fizesse uma dela��o e incriminasse l�deres do PMDB.

    Machado fez uma amea�a velada e pediu que fosse montada uma "estrutura" para proteg�-lo: "A� fodeu. A� fodeu para todo mundo. Como montar uma estrutura para evitar que eu 'des�a'? Se eu 'descer'...".

    Mais adiante, ele voltou a dizer: "Ent�o eu estou preocupado com o qu�? Comigo e com voc�s. A gente tem que encontrar uma sa�da".

    Machado disse que novas dela��es na Lava Jato n�o deixariam "pedra sobre pedra". Juc� concordou que o caso de Machado "n�o pode ficar na m�o desse [Moro]".

    O atual ministro afirmou que seria necess�ria uma resposta pol�tica para evitar que o caso ca�sse nas m�os de Moro. "Se � pol�tico, como � a pol�tica? Tem que resolver essa porra. Tem que mudar o governo para estancar essa sangria", diz Juc�, um dos articuladores do impeachment de Dilma. Machado respondeu que era necess�ria "uma coisa pol�tica e r�pida".

    "Eu acho que a gente precisa articular uma a��o pol�tica", concordou Juc�, que orientou Machado a se reunir com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e com o ex-presidente Jos� Sarney (PMDB-AP).
    Machado quis saber se n�o poderia ser feita reuni�o conjunta. "N�o pode", disse Juc�, acrescentando que a ideia poderia ser mal interpretada.

    Segundo trecho

    Grava��o de Romero Juc� - segundo trecho

    Leia a transcri��o dos �udios

    O atual ministro concordou que o envio do processo para o juiz Moro n�o seria uma boa op��o. "N�o � um desastre porque n�o tem nada a ver. Mas � um desgaste, porque voc�, p�, vai ficar exposto de uma forma sem necessidade."

    E chamou Moro de "uma 'Torre de Londres'", em refer�ncia ao castelo da Inglaterra em que ocorreram torturas e execu��es entre os s�culos 15 e 16. Segundo ele, os suspeitos eram enviados para l� "para o cara confessar".

    Juc� acrescentou que um eventual governo Michel Temer deveria construir um pacto nacional "com o Supremo, com tudo". Machado disse: "a� parava tudo". "�. Delimitava onde est�, pronto", respondeu Juc�, a respeito das investiga��es.

    O senador relatou ainda que havia mantido conversas com "ministros do Supremo", os quais n�o nominou. Na vers�o de Juc� ao aliado, eles teriam relacionado a sa�da de Dilma ao fim das press�es da imprensa e de outros setores pela continuidade das investiga��es da Lava Jato.

    Juc� afirmou que tem "poucos caras ali [no STF]" ao quais n�o tem acesso e um deles seria o ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no tribunal, a quem classificou de "um cara fechado".

    Machado presidiu a Transpetro, subsidi�ria da Petrobras, por mais de dez anos (2003-2014), e foi indicado "pelo PMDB nacional", como admitiu em depoimento � Pol�cia Federal. No STF, � alvo de inqu�rito ao lado de Renan Calheiros.

    Dois delatores relacionaram Machado a um esquema de pagamentos que teria Renan "remotamente, como destinat�rio" dos valores, segundo a PF. Um dos colaboradores, Paulo Roberto Costa disse que recebeu R$ 500 mil das m�os de Machado.

    Juc� � alvo de um inqu�rito no STF derivado da Lava Jato por suposto recebimento de propina. O dono da UTC, Ricardo Pessoa, afirmou em dela��o que o peemedebista o procurou para ajudar na campanha de seu filho, candidato a vice-governador de Roraima, e que por isso doou R$ 1,5 milh�o.

    O valor foi considerado contrapartida � obten��o da obra de Angra 3. Juc� diz que os repasses foram legais.

    -

    LEIA TRECHOS DOS DI�LOGOS

    Data das conversas n�o foi especificada

    S�RGIO MACHADO - Mas viu, Romero, ent�o eu acho a situa��o grav�ssima.

    ROMERO JUC� - Eu ontem fui muito claro. [...] Eu s� acho o seguinte: com Dilma n�o d�, com a situa��o que est�. N�o adianta esse projeto de mandar o Lula para c� ser ministro, para tocar um gabinete, isso termina por jogar no ch�o a expectativa da economia. Porque se o Lula entrar, ele vai falar para a CUT, para o MST, � s� quem ouve ele mais, quem d� algum cr�dito, o resto ningu�m d� mais credito a ele para porra nenhuma. Concorda comigo? O Lula vai reunir ali com os setores empresariais?

    MACHADO - Agora, ele acordou a milit�ncia do PT.

    JUC� - Sim.

    MACHADO - Aquele pessoal que resistiu acordou e vai dar merda.

    JUC� - Eu acho que...

    MACHADO - Tem que ter um impeachment.

    JUC� - Tem que ter impeachment. N�o tem sa�da.

    MACHADO - E quem segurar, segura.

    JUC� - Foi boa a conversa mas vamos ter outras pela frente.

    MACHADO - Acontece o seguinte, objetivamente falando, com o neg�cio que o Supremo fez [autorizou pris�es logo ap�s decis�es de segunda inst�ncia], vai todo mundo delatar.

    JUC� - Exatamente, e vai sobrar muito. O Marcelo e a Odebrecht v�o fazer.

    MACHADO - Odebrecht vai fazer.

    JUC� - Seletiva, mas vai fazer.

    MACHADO - Queiroz [Galv�o] n�o sei se vai fazer ou n�o. A Camargo [Corr�a] vai fazer ou n�o. Eu estou muito preocupado porque eu acho que... O Janot [procurador-geral da Rep�blica] est� a fim de pegar voc�s. E acha que eu sou o caminho.

    [...]

    JUC� - Voc� tem que ver com seu advogado como � que a gente pode ajudar. [...] Tem que ser pol�tica, advogado n�o encontra [inaud�vel]. Se � pol�tico, como � a pol�tica? Tem que resolver essa porra... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.

    [...]

    MACHADO - Rapaz, a solu��o mais f�cil era botar o Michel [Temer].

    JUC� - S� o Renan [Calheiros] que est� contra essa porra. 'Porque n�o gosta do Michel, porque o Michel � Eduardo Cunha'. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha est� morto, porra.

    MACHADO - � um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.

    JUC� - Com o Supremo, com tudo.

    MACHADO - Com tudo, a� parava tudo.

    JUC� - �. Delimitava onde est�, pronto.

    [...]

    MACHADO - O Renan [Calheiros] � totalmente 'voador'. Ele ainda n�o compreendeu que a sa�da dele � o Michel e o Eduardo. Na hora que cassar o Eduardo, que ele tem �dio, o pr�ximo alvo, principal, � ele. Ent�o quanto mais vida, sobrevida, tiver o Eduardo, melhor pra ele. Ele n�o compreendeu isso n�o.

    JUC� - Tem que ser um boi de piranha, pegar um cara, e a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem.

    *

    MACHADO - A situa��o � grave. Porque, Romero, eles querem pegar todos os pol�ticos. � que aquele documento que foi dado...

    JUC� - Acabar com a classe pol�tica para ressurgir, construir uma nova casta, pura, que n�o tem a ver com...

    MACHADO - Isso, e pegar todo mundo. E o PSDB, n�o sei se caiu a ficha j�.

    JUC� - Caiu. Todos eles. Aloysio [Nunes, senador], [o hoje ministro Jos�] Serra, A�cio [Neves, senador].

    MACHADO - Caiu a ficha. Tasso [Jereissati] tamb�m caiu?

    JUC� - Tamb�m. Todo mundo na bandeja para ser comido.

    [...]

    MACHADO - O primeiro a ser comido vai ser o A�cio.

    JUC� - Todos, porra. E v�o pegando e v�o...

    MACHADO - [Sussurrando] O que que a gente fez junto, Romero, naquela elei��o, para eleger os deputados, para ele ser presidente da C�mara? [Mudando de assunto] Amigo, eu preciso da sua intelig�ncia.

    JUC� - N�o, veja, eu estou a disposi��o, voc� sabe disso. Veja a hora que voc� quer falar.

    MACHADO - Porque se a gente n�o tiver sa�da... Porque n�o tem muito tempo.

    JUC� - N�o, o tempo � emergencial.

    MACHADO - � emergencial, ent�o preciso ter uma conversa emergencial com voc�s.

    JUC� - V� atr�s. Eu acho que a gente n�o pode juntar todo mundo para conversar, viu? [...] Eu acho que voc� deve procurar o [ex-senador do PMDB Jos�] Sarney, deve falar com o Renan, depois que voc� falar com os dois, colhe as coisas todas, e a� vamos falar n�s dois do que voc� achou e o que eles ponderaram pra gente conversar.

    MACHADO - Acha que n�o pode ter reuni�o a tr�s?

    JUC� - N�o pode. Isso de ficar juntando para combinar coisa que n�o tem nada a ver. Os caras j� enxergam outra coisa que n�o �... Depois a gente conversa os tr�s sem voc�.

    MACHADO - Eu acho o seguinte: se n�o houver uma solu��o a curto prazo, o nosso risco � grande.

    *

    MACHADO - � aquilo que voc� diz, o A�cio n�o ganha porra nenhuma...

    JUC� - N�o, esquece. Nenhum pol�tico desse tradicional ganha elei��o, n�o.

    MACHADO - O A�cio, rapaz... O A�cio n�o tem condi��o, a gente sabe disso. Quem que n�o sabe? Quem n�o conhece o esquema do A�cio? Eu, que participei de campanha do PSDB...

    JUC� - �, a gente viveu tudo.

    *

    JUC� - [Em voz baixa] Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem '�, s� tem condi��es de [inaud�vel] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra n�o vai parar nunca'. Entendeu? Ent�o... Estou conversando com os generais, comandantes militares. Est� tudo tranquilo, os caras dizem que v�o garantir. Est�o monitorando o MST, n�o sei o qu�, para n�o perturbar.

    MACHADO - Eu acho o seguinte, a sa�da [para Dilma] � ou licen�a ou ren�ncia. A licen�a � mais suave. O Michel forma um governo de uni�o nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege todo mundo. Esse pa�s volta � calma, ningu�m aguenta mais. Essa cagada desses procuradores de S�o Paulo ajudou muito. [refer�ncia poss�vel ao pedido de pris�o de Lula pelo Minist�rio P�blico de SP e � condu��o coercitiva dele para depor no caso da Lava jato]

    JUC� - Os caras fizeram para poder inviabilizar ele de ir para um minist�rio. Agora vira obstru��o da Justi�a, n�o est� deixando o cara, entendeu? Foi um ato violento...

    MACHADO -...E burro [...] Tem que ter uma paz, um...

    JUC� - Eu acho que tem que ter um pacto.

    [...]

    MACHADO - Um caminho � buscar algu�m que tem liga��o com o Teori [Zavascki, relator da Lava Jato], mas parece que n�o tem ningu�m.

    JUC� - N�o tem. � um cara fechado, foi ela [Dilma] que botou, um cara... Burocrata da... Ex-ministro do STJ [Superior Tribunal de Justi�a].

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