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    Lava Jato

    Veto a nomea��o pol�tica na Petrobras seria uma bobagem, diz Gabrielli

    JO�O PEDRO PITOMBO
    DE SALVADOR

    15/02/2015 02h00

    Alvo das investiga��es sobre as perdas causadas pela compra da refinaria de Pasadena (EUA), o ex-presidente da Petrobras Jos� Sergio Gabrielli diz achar "uma bobagem" impedir que os diretores da estatal sejam indicados por partidos pol�ticos.

    "Por que o dirigente de uma empresa n�o pode ter filia��o partid�ria?", pergunta. Ele acha que a disputa por cargos nas estatais reflete o desejo dos partidos de influir em decis�es do governo, e n�o deveria ser vista a princ�pio como sinal de corrup��o.

    Em entrevista � Folha, Gabrielli defendeu sua gest�o na Petrobras, que presidiu por seis anos. Aos 65 anos, ele se aposentou em janeiro, quando deixou o cargo que ocupava no governo da Bahia desde sua sa�da da Petrobras.

    Gabrielli apoiou a decis�o da estatal de n�o contabilizar no balan�o as perdas provocadas pelo esquema de corrup��o descoberto na empresa. "� quase imposs�vel mensurar em balan�o a corrup��o se voc� n�o prova", diz.

    Raul Spinass� - 12.fev.2015/Folhapress
    Gabrielli durante a entrevista � *Folha*, em Salvador
    Gabrielli durante a entrevista � Folha, em Salvador

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    Folha - A presidente Dilma acusa a Petrobras, na �poca em que o senhor era presidente, de ter fornecido ao conselho da estatal um parecer sobre Pasadena que ela classificou de "t�cnica e juridicamente falho". Houve erro de procedimento?
    A decis�o de comprar uma refinaria no exterior vem de 1998 e tinha uma l�gica: o mercado brasileiro de derivados estava estagnado e a havia perspectiva de crescer o petr�leo. Buscar refino no exterior era uma estrat�gia adequada naquele momento. O acordo com a Astra tinha duas cl�usulas que n�o foram apresentadas nem � diretoria nem ao conselho. Se fossem apresentadas ao conselho, mudaria a decis�o? Acho que dificilmente mudaria. A cl�usula put � comum entre empresas que se associam. A Marlin � uma cl�usula de garantia para o s�cio, mas nunca foi efetivada.

    Acha, ent�o, que o parecer foi correto?
    N�o existe um parecer �nico sobre isso. O que existe � que h� uma disponibiliza��o dos documentos para os dirigentes e h� um resumo executivo, onde n�o constavam essas duas cl�usulas. N�o � quest�o de ser correto ou n�o. Agora, no estatuto da Petrobras est� muito claro que o conselho de administra��o pode decidir sobre a aquisi��o de empresas. Eu era membro do conselho de administra��o, eu tenho responsabilidade [sobre Pasadena]. N�o � uma quest�o de defesa pessoal minha. � uma quest�o de considerar o estatuto da empresa. Minha responsabilidade � como conselheiro. E defendo que a decis�o foi certa. Tinha que comprar mesmo. N�o existe esse preju�zo que o ministro [do TCU] Jos� Jorge diz que tem.

    Considera que h� erros no voto do TCU sobre Pasadena?
    O ministro Jos� Jorge foi motivado politicamente. Ele montou uma comiss�o de cinco auditores que passou tr�s meses na Petrobras e viu que n�o havia assimetria no pre�o da refinaria. Mas ele ignorou esse relat�rio e pediu um novo, que chegou a conclus�es semelhantes. Ent�o ele pede a um assessor de confian�a dele um novo relat�rio, que foi feito em 30 dias e sem ir � Petrobras, e fundamenta o voto. S� posso entender que a

    O ex-ministro Jorge Hage afirmou que houve m�-f� na compra da refinaria. Tamb�m acha que ele agiu politicamente?
    Acho que o ministro Jorge Hage foi induzido ao erro pelo TCE, foi induzido ao erro pelo ministro Jos� Jorge.

    A Petrobras abandonou projetos de refinarias no Cear� e Maranh�o, al�m de outros que havia abra�ado por decis�o pol�tica do governo. Acha que, na sua gest�o, a empresa tentou dar passos maiores que as pr�prias pernas?
    N�o. Uma refinaria leva entre seis e sete anos para ser constru�da. Voc� tem que tomar uma decis�o antecipando que voc� acha que vai acontecer com o mercado. Se nesse per�odo, h� mudan�a, voc� ajusta o ritmo do investimento. E � o que est� acontecendo hoje. A Petrobras atrasou as refinarias por raz�es diversas como imaturidade inicial do projeto, aquecimento do mercado das empreiteiras, mudan�a do regime de chuvas, dentre outros. Um motivo muito importante foi o reconhecimento da Petrobras que o conhecimento tecnol�gico dela para construir refinarias tinha ficado no passado. A �ltima refinaria grande constru�da pela Petrobras foi em 1980.

    Mas acha que foi prudente construir quatro refinarias simultaneamente?
    O problema n�o � ser prudente fazer quatro refinarias, o problema � que o mercado estava crescendo a 60%. E se voc� n�o fizer, voc� tem que importar derivados a pre�os altos, criando um d�ficit na balan�a comercial brasileira. Por outro lado, por press�o do Conselho de Administra��o, o pre�o da gasolina e do diesel teve que ser segurado por um bom tempo, o que fez com que houvesse uma redu��o no caixa da Petrobras, que importava por um valor maior do que vendia. Isso porque faltava refino internamente. Ent�o, se voc� olhar, ao longo do tempo, n�o foi errado tentar fazer quatro refinarias. Voc� pode dizer que a gente poderia fazer mais lentamente as quatro.

    N�o acha que essa interfer�ncia pol�tica foi danosa para a empresa?
    N�o acho que foi interfer�ncia pol�tica. O que interferiu foi a expectativa do mercado crescer. O mercado nordestino cresceu mais que o mercado brasileiro. Havia uma defasagem muito grande entre oferta e demanda de derivados no Nordeste que era muito grande, tinha que diminuir. Ent�o, a escolha por refinarias no Nordeste tem a ver com mercado. Mas � claro que todos os governadores v�o pressionar para ter uma refinaria no seu Estado porque n�o gera s� emprego e renda, mas gera receita. O Estado pressiona para isso. Mas me parece correto fazer as quatro refinarias do Nordeste. Mas escolha n�o foi pol�tica, foi uma escolha de necessidade do mercado.

    Mas n�o houve um a�odamento para fazer essas refinarias? Por exemplo, a Petrobras iniciou a constru��o da refinaria Abreu e Lima sem um projeto detalhado, ou com "uma conta de padeiro", como disse Paulo Roberto Costa. O custo multiplicou por dez.
    � uma figura de imagem equivocada que ele [Paulo Roberto Costa] fez. Aquilo n�o foi uma conta de padeiro. Acontece que a �ltima refinaria constru�da foi em 1980 e houve uma desmontagem da engenharia da Petrobras at� 2003. E a� em 2005 voc� inicia um projeto de refinaria retomando a capacidade t�cnica da engenharia da Petrobras. Evidentemente que voc� vai fazer um projeto fraco, voc� n�o tem expertise suficiente para isso. Talvez um dos erros importantes dessa fase preliminar e divulgar uma estimativa de valor [de US$ 2,45 bilh�es] que n�o tinha nada a ver com a realidade do Brasil. N�o tinha nem licita��o, era uma fase pr�-conceitual. Na fase conceitual, que � a seguinte, o valor foi para US$ 9 bilh�es, esse sim um valor compat�vel com o cen�rio internacional da �poca. Mas a� voc� vai para o mercado e enfrenta um cen�rio de aquecimento, limita��o do conte�do nacional e varia��o do c�mbio. Um conjunto de coisas que interfere no pre�o.

    Mas o senhor acha razo�vel o pre�o final de Abreu e Lima, que foi US$ 25 bilh�es?
    N�o acho razo�vel. O valor final est� muito alto. Mas eu acho que a maior parte das quest�es de pre�o podem ser explicadas pelas circunst�ncias de uma refinaria pioneira no Estado de Pernambuco.

    A corrup��o entra nesta conta?
    N�o acho que seja s� isso. � poss�vel que tenha, Paulo Roberto [Costa] est� confessando que fez isso. Mas o que � que ele diz: ele diz que os custos foram feitos de acordo com o mercado, o BDI, que � o lucro das empreiteiras, foi feito de acordo com as regras da Petrobras, a licita��o foi feita dentro das regras previstas e mutreta aconteceu fora da Petrobras, na rela��o com empresas que pagaram atrav�s de um doleiro que n�o tinha nada a ver com a Petrobras. Isso � o que ele diz no depoimento dele.

    N�o acha que havia uma triangula��o e que a Petrobras era uma das pontas?
    N�o h� triangula��o. Se voc� faz uma negocia��o fora da Petrobras, como � que l� dentro se descobre? N�o h� possibilidade de descobrir isso. Por isso a dificuldade da Petrobras de colocar no balan�o. N�o h� como mensurar isso [a corrup��o], a n�o ser que a pol�cia descubra o crime. Um comportamento criminal � a pol�cia que descobre, n�o a empresa.

    O senhor tamb�m tomaria a decis�o de n�o publicar o custo da corrup��o no balan�o da Petrobras?
    � quase imposs�vel mensurar em balan�o a corrup��o se voc� n�o prova a corrup��o. Constatada e provada a corrup��o, voc� tem que abater o valor da empresa. Mas � depois da constata��o. N�o tem sentido fazer provis�o de corrup��o. Mensurar corrup��o, genericamente, � um absurdo.

    As investiga��es sugerem que as empreiteiras tinham grande influ�ncia na defini��o de regras contratuais. � normal que seja assim?
    Acho leg�timo que uma associa��o de empreiteiros [Associa��o Brasileira de Engenharia Industrial] discuta cl�usulas gerais, n�o espec�ficas, em contratos que se referem a todas as empreiteiras. N�o vejo isso como forma��o de cartel. N�o � um problema, desde que n�o seja uma discuss�o sobre um contrato espec�fico. � uma discuss�o normal no mundo dos neg�cios.

    Acha que os controles internos da Petrobras falharam?
    � um sistema de controles que envolve tr�s mil pessoas e que as principais auditorias colocaram como leg�timo e correto nos �ltimos seis anos. N�o posso dizer que os controles n�o est�o bons. O tratamento da confiss�o de Paulo Roberto Costa n�o pode ser sist�mico. � um caso pontual e tem que ser tratado com um caso de pol�cia. N�o se deve generalizar.

    Funcion�rios que decidiram colaborar com as investiga��es, como Venina Velosa e Frenando de castro S�, disseram que foram perseguidos depois de apontar irregularidades na empresa.
    Eu acho isso interessante. A imprensa hoje tem um deus. O acusador � o deus. Tudo que o acusador fala � verdade. Invertemos a l�gica constitucional de que as pessoas em princ�pio s�o inocentes. Venina est� inventado uma s�rie de hist�rias. Eu acredito que para se cobrir. O que ela provou? Tudo que ela diz � de ouvir falar. Francisco S� tamb�m fala de boatos e isso vira verdade.

    Mas porque acha que h� refer�ncias ao senhor partindo de Venina, Francisco S�, Barusco...
    E falo de uma empresa que tem tr�s mil gerentes e voc� est� falando de dois ou tr�s. S�o pessoas que est�o se cobrindo de alguma coisa. A Venina, por exemplo, nas acusa��es que ela faz contra mim, ela era a respons�vel. Geovane [de Morais] era subordinada a ela. � mentirosa a acusa��o.

    Geovane de Morais foi indicado pelo PT para o cargo?
    Ele � funcion�rio de carreira, n�o foi indicado por ningu�m. Ele n�o tinha nenhuma rela��o com o PT e eu n�o tinha rela��o nenhuma de amizade com ele. Agora, para a imprensa, ser petista e ser sindicalista virou crime. N�o pode ser isso, � um absurdo.

    Em depoimento, Barusco afirma que o PT teria ficado com um valor entre 150 milh�es e 200 milh�es entre 2003 e 2013 em propinas fruto contratos da Petrobras. Tinha conhecimento disso?
    Esse valor equivale mais ou menos � contribui��o legal que o PT recebeu. O financiamento legal para partido n�o que dizer que houve corrup��o. H� uma criminaliza��o em cima de hip�teses. N�o h� provas de que houve propina para contribui��o [de campanha]. Houve um volume que Barusco est� falando e um volume que o PT diz que recebeu legalmente.

    Mas o senhor n�o acha que o financiamento de campanha do pa�s n�o passa por esses grandes contratos, como os da Petrobras?
    Acho que n�o passa diretamente. [O financiamento] passa pela potencialidade de um de bom relacionamento do Estado com os fornecedores do Estado. N�o acho que seja dominante um processo de toma l� d� c�.

    N�o acha que h� uma rela��o de causa e consequ�ncia?
    Genericamente, h�. Por isso sou a favor do financiamento p�blico de campanha. Mas n�o acredito que as empresas financiem A em rela��o ao projeto B. Mas financia A porque h� v�rios projetos no futuro em que A pode me ajudar. Isso numa situa��o gen�rica.

    Se n�o h� uma rela��o direta, porque acha que os partidos t�m essa fome toda por cargos de diretoria numa empresa como a Petrobras?
    A fome dos cargos � para que os partidos influam no que o Estado faz. N�o necessariamente � corrup��o. N�o acho que a corrup��o � generalizada no pa�s. N�o acho que o mundo pol�tico � generalizadamente corrupto. Existem indiv�duos corruptos e caso a caso t�m que ser tratados pela pol�cia. Corrup��o n�o � um caso de empresa, nem de pol�tica. � um caso de pol�cia.

    Mas n�o acha que cargos de diretoria da Petrobras deveriam ser blindados de indica��es pol�ticas?
    Isso � uma bobagem. O que voc� tem que fazer � que a diretoria aja tecnicamente. Mas voc� cassar o direito pol�tico do dirigente de uma empresa � um absurdo. Porque o dirigente de uma empresa n�o pode ter uma filia��o partid�ria. Claro que pode, o que n�o pode � usar o cargo para ajudar o partido.

    O que achou da indica��o e Bendine para a presid�ncia da Petrobras?
    Ao escolher Bendine, o Conselho de Administra��o escolheu um profissional que tem experi�ncia nas �reas cont�bil, banc�ria e que tem capacidade de mobiliza��o de equipe. S�o os tr�s elementos que me parecem mais importantes para um dirigente da Petrobras enfrentar a crise neste momento.

    Como viu a sa�da de Gra�a Foster do cargo. Acha que foi uma demiss�o injusta?
    Eu n�o vou comentar sobre isso.

    Como acha que o PT deve enfrentar essa crise com os esc�ndalos da Petrobras?
    O partido tem que voltar mais as atividades para o movimento social. Tem que avan�ar em alguns temas que s�o espinhosos como a taxa��o de grandes fortunas e quem vai pagar o custo do ajuste fiscal. Vamos ter que fazer escolhas importantes. J� o governo � diferente do partido, o governo � de coaliza��o, envolve v�rios partidos que n�o necessariamente v�o ter a mesma posi��o.

    Acha que a presidente ouvir mais o partido?
    A presidente ouve o partido. Mas sou um simples cidad�o, na plan�cie, aposentado. N�o vou falar sobre o que a presidente deve fazer.

    Olhando para tr�s, acha que foi melhor voc� n�o ter sido candidato ao governo da Bahia em 2014?
    Eu levei minha candidatura at� o limite. Achava que era o melhor candidato, mas o PT disse que n�o. Tamb�m acho que Rui Costa est� fazendo um bom in�cio de mandato. Mas n�o vou falar sobre tese, � muito complicado.

    Ainda deseja disputar elei��es?
    Sou um homem aposentado de 65 anos. N�o tenho nenhuma pretens�o de disputar cargos. Vou continuar militante de base do PT e ajudar a formar novos quadros.

    Como v� a oposi��o falar abertamente em impeachment da presidente Dilma?
    A oposi��o perdeu no jogo e est� querendo ganhar no tapet�o. Acho que o movimento social vai responder. Vamos voltar para as ruas e defender n�o necessariamente o governo, mas os projetos que s�o bons para o pa�s.

    Se sente injusti�ado?
    O que mais me afeta pessoalmente, neste momento, � que n�o tem nenhuma acusa��o direta contra mim e eu sou constantemente chamado a falar. Eu me sinto crucificado pela imprensa. Meu direito de defesa � nulo.

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