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    Pol�cia Federal tem 3.000 inqu�ritos contra prefeitos, diz Luiz Fernando Corr�a

    LEONARDO SOUZA
    DA SUCURSAL DE BRAS�LIA

    13/01/2011 07h39

    Pol�ticos de diversos partidos ser�o investigados nos pr�ximos meses pela Pol�cia Federal.

    Uns sob a suspeita de recebimento de propina e pr�tica de caixa dois em campanha, como desdobramento da Opera��o Castelo de Areia. Outros nos 3.000 inqu�ritos abertos para apurar desvios de verbas federais em prefeituras.

    A informa��o � do ex-diretor-geral da PF Luiz Fernando Corr�a, que ser� substitu�do nesta semana pelo atual superintendente de S�o Paulo, Leandro Coimbra.

    Na Opera��o Castelo de Areia foram apreendidas com executivos ligados a construtoras planilhas nas quais constavam valores associados a nomes de pol�ticos de diversos partidos. A PF s� aguarda uma autoriza��o da Justi�a Eleitoral para abrir os inqu�ritos.

    Sergio Lima - 20.out.2010/Folhapress

    Ao fazer um balan�o de sua gest�o, ap�s tr�s anos e tr�s meses no cargo, Corr�a negou que tenha sofrido press�es pol�ticas no cargo e disse que deixa como marca a "despersonaliza��o" da pol�cia.

    Folha - Que marca o sr. deixa na PF?

    Luiz Fernando Corr�a - Um dos princ�pios pelos quais n�s lutamos foi 'desfulanizar' a pol�cia. Mas n�o tenha d�vida de que coube � nossa gera��o implementar o conceito de gest�o na PF, de aplicar m�todos da iniciativa privada. Pegamos os quatro principais contratos que mais oneravam o funcionamento da pol�cia e, s� no primeiro ano, foram quase R$ 37 milh�es de redu��o.

    *Mas e em rela��o �s investiga��es?

    A melhoria da qualidade da prova [...]. Aqui n�o � cr�tica, mas quase se chegou ao ponto de banalizar a pris�o tempor�ria. N�s determinamos que o foco fosse a pris�o preventiva. Para um juiz conceder uma pris�o preventiva, os pressupostos s�o mais rigorosos. Quando n�s chegamos, a pol�cia trabalhava com 60% de pris�o tempor�ria e 40% de preventiva. Em 2009, j� passamos para mais de 70% de preventiva. Outro ponto importante � a redu��o do estoque de inqu�ritos. Passamos a relatar (concluir) mais, sem diminuir o n�mero de instaurados.

    Qual ser� o foco da PF nos pr�ximos anos?

    O enfrentamento sist�mico da atividade criminosa. Um exemplo � o combate ao desvio de dinheiro p�blico em prefeituras. A Controladoria Geral da Uni�o j� vem por meio de sorteios fazendo inspe��es. O n�mero de desvio dessas verbas (federais) � sempre significativo. Temos aproximadamente hoje 3.000 inqu�ritos para investigar desvios em prefeituras. Se considerarmos que temos hoje 5.600 munic�pios, mais da metade das prefeituras est� sob investiga��o.

    A Opera��o Satiagraha marcou o debate sobre a a��o da PF. Ela foi um erro ou foi um acerto?

    Foi uma oportunidade para validar os princ�pios que nas demais opera��es se consagraram: da impessoalidade e da qualidade da prova. Da impessoalidade, no sentido de que n�o interessa quem est� sendo investigado nem que � o investigador. Fizemos outras grandes opera��es depois e talvez nem a imprensa nem os cidad�os saibam quais foram os respons�veis pelas investiga��es.

    O delegado Prot�genes Queiroz foi perseguido pela dire��o da PF?

    Em todos os procedimentos quando questionados pelos �rg�os de controle, incluindo o Minist�rio P�blico, ficou muito claro que foi a opera��o de maior investimento, maior mobiliza��o de gente, at� contrariando esses conceitos de gest�o de qualidade e transpar�ncia do gasto. Persegui��o, sinceramente, da minha parte n�o houve, tanto � que, com a exce��o do hoje deputado (Prot�genes) que fez uma op��o pelo enfrentamento � administra��o, os demais envolvidos na investiga��o foram reaproveitados. N�o era o conjunto, era uma quest�o comportamental e comportamento a gente n�o discute.

    Quando a Castelo de Areia for destrancada na Justi�a, a classe pol�tica deve se preocupar?

    O que se suspeitava ser eleitoral, a pol�cia destacou e informou ao Minist�rio P�blico, que por sua vez solicitou autoriza��o � Justi�a Eleitoral. Se os dados que existem ali caracterizarem crime eleitoral, com certeza haver� uma investiga��o espec�fica. S�o opera��es de cunho financeiro. Mas, ao se fazer a investiga��o financeira, constatou-se umas tabelas com nomes e valores. Isso pode significar doa��es? Sim, pode. Pode significar doa��es legais ou n�o, e quem faz esse filtro � a Justi�a Eleitoral. O que for ilegal, volta para a pol�cia instaurar inqu�rito.

    Pela natureza das planilhas, pode-se esperar uma investiga��o com muitos nomes pol�ticos?

    N�o posso citar nomes nem n�meros, mas s�o v�rias situa��es de listas, com nomes e valores ao lado. Se tiver cunho eleitoral, ser�o apurados, sejam tantos quantos n�o comprovem a legalidade das doa��es.

    Na Opera��o Boi Barrica, a PF investigou neg�cios da fam�lia do senador Jos� Sarney (PMDB-AP), que sempre contou com prest�gio no governo Lula. O sr. sofreu press�es pol�ticas nesse e em outros casos?

    A gente sabe que houve desconforto, mas n�o press�o a ponto de emperrar a investiga��o. At� porque � preciso entender que j� passou o tempo em que se tinha controle sobre a pol�cia no sentido que a pol�cia era uma institui��o com controle absoluto da investiga��o. N�s estamos num estado democr�tico de direito onde a atua��o policial avan�a s� com medidas judiciais e com controle do Minist�rio P�blico. Ent�o a pol�cia n�o entra na conta de ningu�m. Se a pol�cia parasse por press�o pol�tica, os respons�veis por essa paralisa��o estariam sendo investigados pelos membros do Minist�rio P�blico. O Poder Judici�rio estaria cobrando o resultado de medidas que foram representados. E por voc�s da imprensa que fazem um grande controle.

    N�o � f�cil fazer investiga��es quando envolve pessoas p�blicas, mas o lastro profissional e o n�vel profissional nos permite conduzir com impessoalidade.

    Na gest�o de seu antecessor, o delegado Paulo Lacerda, vimos muitas opera��es com autoridades sendo investigadas. Uma delas atingiu at� um irm�o do ex-presidente Lula. Quando o sr. assumiu, houve muitas cr�ticas de que sua gest�o seria para estancar a��es que incomodassem o governo. Passados tr�s anos, como o sr. responde essas cr�ticas?

    Primeiro lugar, considerando-se o contexto, at� pode-se imaginar que se justificasse a preocupa��o de que poderia haver um arrefecimento.

    Mas o que n�s fizemos foi melhorar a qualidade da prova. O desafio � ter uma prova robusta e observar estritamente a Constitui��o no que se refere aos direitos individuais. Continuamos com as opera��es. Diminu�mos a visibilidade, mas passamos a ter um objetivo, que � buscar pelo conte�do e pelo resultado das investiga��es.

    O nosso receio era perder um pouco da confian�a da popula��o se diminu�ssemos a exposi��o. Mas as �ltimas pesquisas nos mostram que tivemos sucesso em manter a credibilidade perante a opini�o p�blica.

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