Depois que me apresentei -"Prazer, Paula"-, fiquei com vergonha dos meus novos colegas. � como se a palavra ganhasse conota��o er�tica por estarmos em uma f�brica de pr�teses de p�nis e vagina.
O constrangimento foi substitu�do pela preocupa��o em aprender o of�cio.
"Aqui est� escrito se � frutado, de morango, ma�� verde, uva. Alguns s�o cor de pele, outros s�o marrom ou rosinha", explicou-me um funcion�rio enquanto apontava para a sequ�ncia de n�meros e letras que indicavam o que deveria produzir.
�s 8h40, nossa primeira fornada j� estava assando, e uma hora depois estaria pronta para esfriar em um tanque com �gua.
O processo � realmente parecido com fazer p�o. "N�o pode preencher todo o molde, porque, com o calor, cresce", disse o rapaz. A mistura que se transforma em brinquedo er�tico e que despejei com cuidado nos moldes pequenos, grandes e muito grandes parece milk-shake.
Se uma pr�tese normal permanece 60 minutos no forno, o Big Jow leva uma hora e 20 minutos. Big, como � carinhosamente chamado pelas funcion�rias, � o maior p�nis fabricado ali, com 3,5 kg, 40 cm de "altura" e 10 cm de di�metro.
Os homens n�o deram muita chance para que eu continuasse o servi�o, por isso fui para a �rea dominada pelas mulheres. Elas retiram imperfei��es, limpam e embalam as pr�teses.
Senti-me �til. Aquele foi um dia com mais volume de pedidos do que o normal, e a f�brica ganhou o refor�o das funcion�rias que trabalham com calcinhas comest�veis ou costuram fantasias.
Retirei sobras de borracha com tesoura, arranquei pintas escuras com alicate e at� "cauterizei" imperfei��es de centenas de p�nis. Tamb�m inseri vibradores e colei ventosas. Em alguns poucos, encaixei um tipo de cinto que prende o brinquedo.
A �nica coisa que n�o me arrisquei a fazer, por temer errar, foi emparelhar as bases das pr�teses para junt�-las com cola e formar um p�nis real�stico duplo.
"R�! Pegou um gatinho preto?", brincou minha colega, enquanto eu passava �lcool e secava uma pr�tese que imita a pele negra. A mesma colega, antes do intervalo para almo�o, encostou uma pr�tese que vibrava no meu bra�o: "Sente que tenta��o". Eu ri alto.
Na pausa para o caf�, descobri que as minhas colegas usam os produtos que fabricam. Conquistaram recentemente, inclusive, o direito de desconto na folha de pagamento pelas compras.
Elas usam os vibradores, os g�is e at� as fantasias. Uma delas tem todos os modelos (como a bombeira, enfermeira e diabinha) e j� fez um book de fotografias com elas.
"Na primeira vez usei a de diabinha, coloquei uma m�sica em ingl�s e preparei uma ilumina��o especial enquanto meu marido tomava banho. Quando ele saiu, disse que se ele desse risada seria a �ltima vez. Ele ficou bem louco!", conta uma delas.
"Nossa vida mudou depois que a sex�loga [contratada pela empresa para fazer palestras pelo pa�s] veio aqui conversar", contou outra.
O atual objeto de desejo das trabalhadoras -casadas, com idades entre 28 e 48- � a "Ferrari". "Chamamos assim porque � importado e faz tudo. Tem p�rolas que giram, um coelhinho que estimula o clit�ris e tamb�m l� atr�s", conta uma delas.
As pr�teses s�o embaladas de acordo com o pedido. As vaginas normalmente s�o colocadas em caixas. Os p�nis podem ser ensacados ou colocados em embalagens personalizadas.
Meu primeiro pux�o de orelha no dia foi enquanto embalava. "A cabecinha tem que ficar sempre para a frente para o cliente ver", explicou-me uma colega.
Perto das 17h, o clima estava agitado. O fim de expediente daquela sexta estava chegando, e os funcion�rios pareciam animados. Como em qualquer empresa.