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    Internet n�o trouxe produtividade � economia como motor a vapor e eletricidade

    RICARDO MIOTO
    DE S�O PAULO

    11/05/2013 03h00

    A frase � do Nobel da Economia Robert Solow: "Vemos a era dos computadores em toda parte, menos nas estat�sticas de produtividade".

    Novos estudos mostram que os computadores e a internet, apesar do barulho causado, ficaram longe de impactar o desenvolvimento econ�mico como fizeram o motor a vapor e � eletricidade.

    Sem aumento da produtividade, futuro da economia � nebuloso

    Quem chama a aten��o para o tema � o economista Andr� Lara Resende, idealizador do Plano Real, no seu rec�m-lan�ado "Os Limites do Poss�vel" (Portfolio Penguin).

    A tecnologia impacta o PIB assim: permite, com a mesma quantidade de funcion�rios, m�quinas e insumos, produzir mais itens. Ou seja, aumenta o produto final da economia com a mesma popula��o. Cria maior renda per capita.

    A partir do s�culo 18, a tecnologia evoluiu muito rapidamente. Como diz o economista americano Robert Gordon, "[pense que] a velocidade do transporte aumentou de dez km/h, a cavalo, para 800 km/h, de Boeing 707".

    Para analisar o impacto de cada inven��o na produtividade, ele publicou um artigo cient�fico em agosto de 2012. Estudou tr�s revolu��es:

    1) Motor a vapor e ferrovias, que s�o de 1750 a 1830;

    2) Eletricidade, motor de combust�o interna, �gua encanada, petr�leo e ind�stria qu�mica, de 1870 a 1900;

    3) Computadores, internet e celulares, de 1960 at� hoje.

    Gordon concluiu que a segunda revolu��o foi a mais importante: "Teve consequ�ncias at� os anos 1970, com avi�es, ar condicionado, autoestradas e urbaniza��o".

    A internet n�o teve o mesmo sucesso. Nos anos 1970, o crescimento m�dio da produtividade nos EUA teve uma queda brusca de quase 2% ao ano para 0,8%, o padr�o das �ltimas d�cadas. O pr�prio Boeing 707, ali�s, � de 1958.

    Embora no in�cio a terceira revolu��o at� tenha trazido mais produtividade --processamento de dados no setor banc�rio, por exemplo--, as inova��es ao longo do tempo foram voltadas mais para o entretenimento e as comunica��es pessoais do que para os processos produtivos. O Facebook e os jogos eletr�nicos s�o dois bons exemplos.

    Alguns avan�os, como o e-commerce, at� ajudam, mas nada que fa�a as taxas voltarem ao patamar anterior.

    At� porque, diz Gordon, "a maioria das inven��es recentes da inform�tica n�o trouxe transforma��es fundamentais, mas miniaturiza��o; o iPhone, por exemplo, s� junta fun��es que laptops e celulares antigos j� tinham".

    Esse "fracasso" da internet traz ang�stia aos pa�ses ricos.

    Se pa�ses como o Brasil ainda podem crescer incluindo seus pobres, isso n�o vale para eles. Europa e EUA ter�o dificuldade para tornar mais produtivo um povo j� altamente educado. A infraestrutura tamb�m j� est� pronta, n�o h� gargalos a destravar.

    � poss�vel questionar se esses pa�ses precisam continuar crescendo, j� que atingiram um padr�o de vida bem satisfat�rio. O problema � a resposta: agora � tarde para decidir pela estagna��o.

    At� pela queda no aumento da produtividade m�dia ap�s 1970, os governos procuraram outras maneiras de aumentar o PIB. Uma delas, utilizada pelo banco central dos EUA, foi estimular por anos o cr�dito (e o consumo) com uma pol�tica de juros baixos.

    O problema � que exageraram na dose e, em 2008, o mundo se viu endividado muito al�m do que recomendaria o bom senso. A chance de calotes em cascata quebrarem os bancos era grande. Mas 1929 ensinou que deixar bancos quebrarem, apesar de pedagogicamente bonito, leva toda a economia junto pelo ralo. Tal op��o foi descartada.

    A solu��o: governos assumindo d�vidas dos bancos. De EUA � Espanha, passando pelos feridos de guerra Gr�cia e Irlanda, a consequ�ncia � que v�rios pa�ses ricos est�o muito endividados agora.

    A solu��o para a rela��o d�vida/PIB alta � crescer --aumentar o PIB. Com isso, a d�vida fica proporcionalmente menor, como um pai de fam�lia que � promovido e percebe que a presta��o de casa deixou de ser um monstro.

    Ou seja: os pa�ses ricos precisam da pr�xima eletricidade, mas ningu�m sabe se ela vir�.

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