• Ilustr�ssima

    Thursday, 01-Aug-2024 13:14:03 -03

    Merquior, o conformista combativo

    MARCO RODRIGO ALMEIDA
    ilustra��o Z� OT�VIO

    23/08/2015 02h07

    RESUMO Jos� Guilherme Merquior (1941-91) destacou-se pela erudi��o, curiosidade intelectual e capacidade de trabalho. A obra do ensa�sta e diplomata, que vai da literatura � pol�tica, passando pela arte e pela filosofia, est� sendo reeditada. Liberal e cr�tico do marxismo, ele tornou-se exemplo de conservador civilizado.

    Z� Ot�vio

    Uma certeza e uma d�vida pairam sobre Jos� Guilherme Merquior. N�o h�, mesmo entre seus desafetos, que n�o eram poucos, quem n�o reconhe�a sua intelig�ncia superior e imensa cultura. Por outro lado, at� para seus admiradores, tamb�m numerosos, por vezes � dif�cil avaliar o legado de sua produ��o intelectual.

    Diplomata, ensa�sta, cr�tico liter�rio, Merquior morreu aos 49 anos em 1991. Deixou uma obra espantosa, tanto pelo volume (19 livros) quanto pela variedade de temas (literatura, filosofia, pol�tica, economia, sociologia, hist�ria).

    Defensor do liberalismo, cr�tico feroz do pensamento de esquerda, Merquior foi uma figura de destaque no debate cultural brasileiro entre os anos 1960 e 1980. � erudi��o somava-se o gosto irrefre�vel pela pol�mica. Talvez sejam essas duas marcas que ainda hoje embaralhem a avalia��o de sua carreira.

    O pensamento de Merquior voltou � tona h� tr�s anos, quando a editora � Realiza��es iniciou o projeto de reedi��o de seus livros, acrescidos de cartas, documentos e an�lises in�ditas sobre sua obra.

    O pr�ximo a sair, "Formalismo & Tradi��o Moderna" (1974), previsto para setembro, d� uma boa medida da ambi��o que norteou sua carreira. Em 13 longos ensaios, ele comenta o modernismo brasileiro, as artes pl�sticas, a cultura kitsch, a pintura renascentista, um poema de Cam�es, a tradi��o da poesia l�rica e muito mais.

    Jo�o Cezar de Castro Rocha, professor de literatura comparada da Uerj e coordenador das reedi��es, convida a encarar com olhos livres os textos do ensa�sta, para al�m das dicotomias que o marcaram em vida. "A produ��o da cultura ocidental foi marcada por uma distin��o r�gida entre direita e esquerda. N�s precisamos ler o Merquior hoje reconhecendo um fato elementar: a queda do Muro de Berlim. Se o fizermos, vamos descobrir coisas interessant�ssimas. Ele foi um dos maiores intelectuais do s�culo 20."

    FORA DO COMUM

    Merquior nasceu em abril de 1941, no bairro carioca da Tijuca, em uma fam�lia de classe m�dia sem voca��o intelectual. Mais velho de quatro irm�os, impressionou desde cedo pela intelig�ncia fora do comum.

    Arquivo Jos� Guilherme Merquior/� Realiza��es Editora
    Jos� Guilherme Merquior durante visita a Paris, em 1976
    Jos� Guilherme Merquior durante visita a Paris, em 1976

    Quando se pergunta aos irm�os como era ele, a resposta invari�vel �: algu�m que nasceu para ler, sempre enfronhado em livros.

    "Ele carregou um livro at� na primeira vez em que fomos ao Maracan�, ainda garotos, ver um jogo do Fluminense. Leu durante o jogo inteiro. S� interrompeu quando saiu um gol. Ent�o ele olhou para o campo e perguntou de que time era o homem de camisa preta. Era o juiz", se recorda, aos risos, Carlos Augusto, um dos irm�os.

    Da primeira viagem a Paris, aos 15 anos, voltou com a mala cheia de livros e o busto pesado de Voltaire, um de seus �dolos.

    Merquior n�o praticava esportes, sa�a pouco de casa, nunca teve muita habilidade para atividades pr�ticas. Nem s� a literatura, contudo, ocupava a cabe�a do garoto prod�gio. Aos 16 anos se apaixonou por uma colega de escola um ano mais velha, Hilda. Depois disso nunca mais se separaram – casaram-se em 1963 e tiveram dois filhos, Pedro e Julia.

    Hilda, hoje aos 75 anos, sofre de uma doen�a degenerativa e perdeu a mem�ria. Pedro morreu aos 33, de acidente de moto, em 2004. Julia, 49, � dona de uma loja de produtos sustent�veis no Rio.

    C�USTICO

    Aos 18, Merquior come�ou a publicar cr�ticas na imprensa. O tom c�ustico marcou a coluna "Poesia para Amanh�", no prestigiado "Suplemento Dominical" do "Jornal do Brasil".

    Sobre o poeta amazonense Thiago de Mello e o seu "Vento Geral" escreveu em junho de 1960: "T.M � mau poeta: e s�. Mas tem pelo menos uma vantagem: entre os maus, � o pior. 'Vento Geral' representa o apogeu da ret�rica, a mais preciosa reuni�o de v�cuo verbal que surgiu de 1945 para c�".

    Em 1961, durante um festival de cinema russo e sovi�tico, o fil�sofo marxista Leandro Konder (1936-2014) aproximou-se de "um jovem de rosto rechonchudo, que falava pelos cotovelos", conforme declarou ao jornal "O Globo" em 1991.

    Na conversa, Konder citou um texto de Merquior. Ao que ouviu: "Mas Merquior sou eu". Gargalharam e ficaram amigos, apesar das diferen�as ideol�gicas.

    Caiu tamb�m nas gra�as de Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira. O primeiro ofereceu-lhe, em 1963, um poema como presente de casamento. O segundo, um ano antes, sem conhec�-lo pessoalmente, convidou-o a ajud�-lo na antologia "Poesia do Brasil".

    RAZ�O

    Em 1965, Merquior lan�ou seu primeiro livro, "Raz�o do Poema". O t�tulo j� denotava um elemento que seria central em todos os seus livros posteriores –a cren�a no racionalismo.

    A antologia com ensaios sobre Gon�alves Dias, Drummond, Murilo Mendes, Jo�o Cabral e outros foi saudada como um acontecimento.

    Arquivo Jos� Guilherme Merquior/� Realiza��es Editora
    Merquior (� direita) com Carlos Drummond de Andrade
    Merquior (� direita) com Carlos Drummond de Andrade

    "Os textos s�o formid�veis. Apenas Antonio Candido entende e sente a poesia como ele", diz o poeta Armando Freitas Filho. O pr�prio Candido, em confer�ncia em homenagem ao autor, em 1991, afirmou que Merquior "foi sem d�vida um dos maiores cr�ticos que o Brasil teve, e isto j� se prenunciava nos primeiros escritos".

    H� certo consenso de que o melhor de sua produ��o foi a cr�tica liter�ria, especialmente a de poesia. � a partir de meados dos anos 1970 que pol�tica e economia ganham mais terreno em seus livros – em parte reflexo de seu trabalho no Minist�rio das Rela��es Exteriores.

    Formado em direito e filosofia, prestou concurso para o Itamaraty em 1962. E, sim, foi o primeiro colocado. "Naquele ano houve dois concursos para nossa turma. Ele foi o primeiro colocado em um, eu em outro. Isso criou certa solidariedade entre n�s", conta o embaixador Luiz Felipe Lampreia, ministro das Rela��es Exteriores no governo Fernando Henrique Cardoso.

    "Merquior priorizou a parte intelectual � atua��o rotineira de um diplomata. N�o tinha voca��o para ser negociador comercial, como eu fui. Notabilizou-se pelo brilho intelectual, como Jo�o Cabral, Guimar�es Rosa e Vinicius de Moraes."

    O embaixador Marcos Azambuja, formado em 1957 no Itamaraty, conta que Merquior chegou ao Instituto Rio Branco com grande reputa��o. "Sempre que t�nhamos alguma d�vida sobre qualquer assunto, �amos falar com ele. Era uma pessoa realmente extraordin�ria, agradabil�ssima."

    Azambuja faz uma descri��o curiosa da ambival�ncia do colega. "Ele tinha uma cara redonda, risonha, ao mesmo tempo angelical e demon�aca. Tinha uma impaci�ncia tremenda com as pessoas que pensavam o lugar-comum."

    Ap�s o golpe militar de 1964, Merquior foi chamado a prestar depoimento, sob suspeita de liga��es com grupos de esquerda. Provavelmente caiu no radar dos militares por ter realizado confer�ncias no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), extinto pelo governo logo ap�s o golpe.

    No seu acervo, hoje em posse da �, h� uma c�pia do processo administrativo aberto contra o jovem diplomata e da resposta dele –que foi absolvido. A editora planeja publicar os documentos.

    O processo � datado de 11 de setembro de 1964. Traz nove perguntas sobre forma��o universit�ria, filia��o partid�ria e opini�o sobre o novo governo, entre outros temas. A oitava indagava acerca dos conflitos ideol�gicos no mundo moderno. Aos 23, ele defendia pontos-chave de seu pensamento.

    "Uma das caracter�sticas do mundo moderno � o pluralismo", escreveu. "[...] � evidente que a solu��o dos conflitos ideol�gicos mais gritantes do nosso tempo dever� ser buscada atrav�s da pr�tica de uma atitude em que prevale�a o esp�rito de franco debate e o �nimo de solidariedade internacional."

    O caso leva a uma quest�o ir�nica: um dos futuros expoentes do liberalismo no Brasil, que iria declarar diversas vezes a morte do marxismo, teria sido de esquerda aos 20 e poucos anos?

    Os amigos do Itamaraty acham que n�o. "N�o era de esquerda nem de direita, mas de centro", acredita Lampreia. Mas talvez se possa dizer que o jovem Merquior nutria certa simpatia pela esquerda, alimentada sobretudo pela vasta curiosidade intelectual.

    "Merquior nunca chegou a ser marxista, mas na �poca estava interessado na teoria est�tica do marxismo, sobretudo em Luk�cs. Mas ainda antes do golpe de 1964 ele reviu sua posi��o e me escreveu uma carta, na qual se manifestava insatisfeito at� com a teoria est�tica", escreveu Konder em 1991.

    Luk�cs � uma das refer�ncias do segundo livro de Merquior, "Arte e Sociedade em Marcuse, Adorno e Benjamin" (1969).

    O alem�o Gunter Karl Pressler, professor de teoria liter�ria na Universidade Federal do Par�, aponta um feito hist�rico do livro –teria sido o primeiro do mundo a analisar sistematicamente a Escola de Frankfurt: "Este estudo foi publicado antes da refer�ncia sempre citada sobre a Escola de Frankfurt: 'A Imagina��o Dial�tica', de 1973, do americano Martin Jay", diz.

    PARIS

    Em 1966, Merquior partiu para seu primeiro posto internacional, como terceiro-secret�rio na embaixada em Paris. Em 72, concluiu doutorado na Sorbonne sobre a poesia de Drummond. Depois de passagem por Bonn, na Alemanha, foi levado pelo embaixador Roberto Campos para ser primeiro-secret�rio em Londres, em 1975.

    Os quatro anos na Inglaterra e o conv�vio com Campos e com intelectuais como Ernst Gellner e Raymond Aron marcaram o in�cio de sua convers�o ao liberalismo. Na London School of Economics, obteve seu segundo doutorado.

    "Ningu�m no Brasil sintetizou melhor a ess�ncia do 'argumento liberal' nem mostrou mais claramente o antagonismo que existe entre os ideais liberais e as modas intelectuais 'p�s-modernas'", avalia hoje o fil�sofo Olavo de Carvalho.

    Especialmente a partir dos anos 1980, Merquior, como observou Campos, passou da "convic��o liberal" � "prega��o liberal". S�o dessa fase o citado "O Argumento Liberal" (1983), "Michel Foucault, ou o Niilismo de C�tedra" (1985) e "O Marxismo Ocidental" (1987).

    Tomando o partido da modernidade e do racionalismo, iniciou ent�o uma cruzada contra o marxismo, a psican�lise e a arte de vanguarda. Via nos tr�s alvos exemplos de dogmatismo, de pessimismo, de rejei��o ao racionalismo iluminista, de condena��o da civiliza��o moderna e da ci�ncia.

    Mas "seria poss�vel atacar o marxismo, a psican�lise e a arte de vanguarda sem ser reacion�rio em pol�tica, ci�ncias humanas e est�tica?", indagou-se Merquior no pref�cio de "As Ideias e as Formas" (1981). Essa quest�o resume as principais cr�ticas a sua obra.

    "Embora fosse seu amigo e admirador de sua erudi��o, n�o posso negar que fosse pol�tica e intelectualmente um conservador", afirma Luiz Costa Lima, cr�tico e professor em�rito da PUC-RJ. "H� observa��es pontuais muito boas na obra dele, mas dentro desses limites", completa. "Os contrapontos que fez �s vanguardas art�sticas s�o extremamente superficiais. O elogio do progresso iluminista se tornou equivocado no final do s�culo 19. Por um equ�voco de vis�o, ele n�o percebeu nada disso."

    Alcir P�cora, professor de teoria liter�ria da Unicamp, acredita que Merquior tendia "a uma vis�o conformista". "H� algo de profundamente 'diplom�tico' na sua maneira de pensar: uma esperan�a de resolu��o das contradi��es da cultura e da sociedade depositada na mesa das racionaliza��es normativas institucionais."

    Outra cr�tica costumeira � a de que o autor jamais produziu ideia original. Seria, nessa vis�o, essencialmente um catalogador de conhecimento, n�o um pensador.

    Castro Rocha discorda. "Ele pegou as ideias mais importantes da cultura ocidental e realizou uma s�ntese de uma clareza que ningu�m mais poderia fazer. Para fazer isso � preciso ter ideias."

    BRIG�O

    Nos anos 1980, Merquior participou de pol�micas hoje lend�rias no meio intelectual brasileiro. Jos� M�rio Pereira, editor da Topbooks e um dos mais pr�ximos amigos do escritor na �ltima d�cada de vida dele, acompanhou todas de perto. "Ele adorava uma pol�mica. Parecia um menino brig�o, se exacerbava. �s vezes passava um fim de semana inteiro respondendo a alguma cr�tica."

    Pereira recorda, por exemplo, uma disputa com Ricardo Musse, ent�o doutorando em filosofia, hoje professor do departamento de sociologia da USP. Em texto publicado na Folha em novembro de 1990, Musse escreveu: "No figurino redutor de Merquior, toda e qualquer cr�tica � modernidade nada mais � do que um ressaibo de irracionalismo rom�ntico".

    Duas semanas depois, veio a resposta, tamb�m publicada na Folha. "N�o sei se aos doutorandos em 'fil�' da USP se exige saber ler antes de pretender julgar. Em caso positivo, temo pelo doutoramento de Musse", escreveu.

    No meio do texto soltou uma de suas tiradas: "O chocolate, quando bom e bem-feito, pode ser muito agrad�vel ao paladar. Mas sua consist�ncia ser� sempre algo prec�ria. N�o assim a de Musse".

    Merquior tamb�m atacou (e foi atacado) por psicanalistas, teve entreveros com Paulo Francis, chamou Caetano Veloso de "um pseudointelectual de miolo mole".

    O cantor retrucou na �poca: "Prefiro o Belchior". Caetano ainda se lembra bem do epis�dio. "O fato � que 'intelectual de miolo mole' � uma express�o genial para descrever a gera��o de can�onetistas dos anos 60. Pelo menos � certa em rela��o a mim", diz hoje. Ele leu h� pouco e achou excelente o livro de Merquior sobre Foucault.

    A mais famosa controv�rsia de Merquior, por�m, foi com Marilena de Souza Chaui, professora do departamento de filosofia da USP.

    Em texto publicado em maio de 1981 no "Jornal do Brasil", ele notou a presen�a literal –dispensada de aspas– de par�grafos do fil�sofo franc�s Claude Lefort no livro "Cultura e Democracia", de Chaui.

    Dois meses depois, a professora publicou sua resposta no "JB". "Merquior sugere que houve apropria��o ind�bita. Equivocou-se."

    "Esclare�o ainda que devo a Claude Lefort muito mais do que o leitor sequer poderia imaginar e que muitas das suas ideias e minhas nasceram juntas, o que me deixa sempre muito � vontade para transitar entre elas."

    O caso ganhou fuma�as de guerra entre esquerda e direita e repercutiu por meses. Dois anos depois, Lefort veio ao Brasil e disse ter sido reconhecido por v�rias pessoas nas ruas.

    Na mesma �poca, Merquior foi eleito para a Academia Brasileira de Letras e nomeado assessor do ent�o ministro da Casa Civil, Leit�o de Abreu, durante o governo de Jo�o Figueiredo –oferecendo muni��o pesada a seus desafetos, que passaram a tach�-lo de reacion�rio e "intelectual da ditadura".

    "Foi uma injusti�a que fizeram com ele", considera Armando Freitas Filho. "Nunca foi reacion�rio. Era um liberal no sentido ingl�s."

    Rubens Ricupero, diplomata e ex-ministro da Fazenda (governo Itamar Franco), considera um absurdo dizer que Merquior fosse um homem de direita. "Nada tinha do liberal favor�vel � redu��o ou limita��o do papel do Estado na luta contra a desigualdade e a mis�ria."

    Em entrevista � Folha em 1986, Merquior definiu-se como liberal em economia, social-democrata em pol�tica e anarquista em cultura.

    "Nenhum liberal que eu conhe�a disse que o mercado resolve todos os problemas sociais. Da� a necessidade de um Estado protetor. Tamb�m n�o resolve todos os problemas econ�micos, da� a necessidade, menor, mas tamb�m importante, de um Estado promotor", declarou ao "JB" em 1990.

    Jo�o Cezar de Castro Rocha define assim o credo liberal de Merquior: democracia como valor universal; racionalismo como estrutura de pensamento; pluralismo como m�todo intelectual; economia de mercado, por�m com a presen�a do Estado como for�a de equil�brio das desigualdades.

    Castro Rocha v� tr�s fases na carreira de Merquior. Na primeira, nos anos 1960, as preocupa��es eram puramente est�ticas. Na segunda, a partir dos 1970, a an�lise � menos detalhada e mais panor�mica. O liberalismo torna-se o eixo de reflex�o. A arte deixa de ser vista em seus pr�prios termos e passa a simbolizar a crise da cultura.

    A terceira fase, a partir dos anos 1980, n�o chegou a se concluir, mas Castro Rocha levanta a hip�tese de que Merquior j� n�o se contentava em ser apenas um pensador e considerava a ideia de colocar em pr�tica um projeto de pa�s.

    J� definiram Merquior como um intelectual em busca de um pr�ncipe, algu�m de quem pudesse ser o mentor. Por um momento Fernando Collor de Mello ocupou esse papel. Roberto Campos conta em suas mem�rias que, antes e depois de eleito presidente da Rep�blica, Collor procurou Merquior em Paris, onde ele era embaixador do Brasil na Unesco. Queria "colher ideias sobre a modernidade" e pediu-lhe um programa partid�rio.

    O diplomata elaborou um documento de 33 p�ginas, esp�cie de "agenda social-liberal" para o Brasil. Tamb�m escreveu grande parte do discurso de posse.

    "Ele ficou muito impressionado com o Collor. Achava que ele tinha vontade, vis�o, empenho em construir um novo Brasil. Certamente ele lamentaria tudo o que ocorreu depois", afirma Jos� M�rio Pereira.

    "Ele fez uma avalia��o errada daquele momento", diz Marcos Azambuja. "Acreditava que o Brasil tinha maturidade para encontrar o caminho racional. Ele achava que o Collor era o que parecia ser, o jovem pol�tico idealista, e n�o viu o que era na realidade, o velho pol�tico de Alagoas."

    Merquior escreveu a plataforma partid�ria j� tomado pelo c�ncer de intestino que o mataria.

    Em dezembro de 1990, fez sua �ltima palestra, em Paris. Mesmo bastante debilitado fisicamente, falou por quase uma hora, em franc�s, sem texto escrito, sobre os �ltimos cem anos da hist�ria do Brasil.

    O �ltimo projeto foi "O Liberalismo - Antigo e Moderno", que concluiu pouco antes de morrer. O livro p�stumo foi o fecho perfeito de uma trajet�ria que impressiona e instiga –e permanece longe de ser um consenso.

    T�tulos relan�ados pela � Realiza��es

    "Raz�o do Poema" (1965)
    R$ 63; 336 p�gs.

    "Formalismo & Tradi��o Moderna" (1974)
    R$ 64,90; 512 p�gs.

    "A Est�tica de L�vi-Strauss" (1975)
    R$ 39; 168 p�gs.

    "Verso Universo em Drummond" (1976)
    R$ 59; 416 p�gs.

    "De Anchieta a Euclides" (1977)
    R$ 49,90; 400 p�gs.

    "O Liberalismo" (1991)
    R$ 39,90; 384 p�gs.

    MARCO RODRIGO ALMEIDA, 31, � jornalista da Folha.

    Z� OT�VIO, 31, � ilustrador e exp�e na Plus Galeria, em Goi�nia, at� 8/10.

    Fale com a Reda��o - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024