Com o perd�o do clich�, Martin Scorsese e Robert De Niro mexeram no time que estava ganhando quando fizeram "O Rei da Com�dia", em 1982.
Eles j� haviam sido parceiros em "Taxi Driver" (1976) e "Touro Indom�vel" (1980), que, sozinhos, garantiriam seu lugar na hist�ria do cinema. Mas decidiram se arriscar em uma com�dia de humor negro –e, aos olhos da �poca, fracassaram.
Esses tr�s filmes de Scorsese t�m mais em comum do que parece � primeira vista. Neles, De Niro faz um protagonista � beira da psicopatia, que fica obcecado por um segundo personagem.
S� que em "O Rei da Com�dia" eles fazem op��es discut�veis. Como escalar De Niro para o papel c�mico e Jerry Lewis para o dram�tico –e, em ambos os casos, constru�-los de forma a n�o gerar empatia no p�blico.
De Niro � Rupert Pupkin, candidato a comediante de stand-up que persegue obsessivamente o famoso apresentador de TV Jerry Langford, personagem de Lewis.
Frustrado com o desinteresse de Langford, Pupkin decide sequestr�-lo e pedir como resgate a chance de aparecer no programa do apresentador.
VISION�RIA
Revisto 33 anos depois do lan�amento –em c�pia restaurada pela Film Foundation, criada por Scorsese–, "O Rei da Com�dia" se revela uma obra vision�ria sobre os extremos do culto � celebridade, um antecipador do vale-tudo da TV atual.
Mas o filme continua apresentando as limita��es observadas em 1982. Sua trama � estranhamente truncada para um filme de Scorsese, mestre da fluidez narrativa.
E � mais dif�cil criar alguma conex�o com o bizarro De Niro humor�stico de "O Rei da Com�dia" do que com os agressivos, por�m carism�ticos, De Niros de "Taxi Driver" e "Touro Indom�vel".
Por outro lado, essa antipatia do protagonista d� a "O Rei da Com�dia" um car�ter �nico: uma obra de humor que incomoda, em vez de fazer rir. E nos lembra que h� uma beleza espec�fica nos fracassos que nascem n�o do conforto, mas do risco.