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    Cr�tica: 'Branco Sai, Preto Fica' � filme de terror verdadeiro

    IN�CIO ARAUJO
    CR�TICO DA FOLHA

    19/03/2015 02h15

    N�o foi uma ONG nem um diretor de cinema de boa vontade que p�s uma c�mera na m�o de Adirley Queir�s. Seu cinema n�o �, portanto, uma concess�o � gente pobre das cercanias de Bras�lia, mas um manifesto das classes pobres sobre o estado do Brasil.

    Se j� falou de jogadores de futebol (ele mesmo foi um) e do aborto urban�stico brasiliense que s�o as cidades sat�lites, Ceil�ndia em particular ("A Cidade � uma S�"), agora � � nossa democracia racial que seu filme se volta.

    Divulga��o
    O DJ Marquim em cena de 'Branco Sai, Preto Fica
    O DJ Marquim em cena de 'Branco Sai, Preto Fica'

    "Branco Sai, Preto Fica" � a frase pronunciada por um policial durante a invas�o de um baile popular nos anos 1980. Ou, como explica um dos personagens logo em sua interven��o inicial, os brancos devem deixar o sal�o, os pretos ficam e apanham.

    O resultado � o filme. Mas n�o s�. Por um lado temos um document�rio sobre o destino de dois rapazes, dan�arinos, que estavam no baile. Eram adolescentes alegres, que preparavam passos inventivos para desenvolver na hora da festa. Agora um deles est� preso a uma cadeira de rodas, o outro usa perna mec�nica.

    O original no filme � que n�o estamos em um document�rio ressentido, mas em uma esp�cie de �vni cinematogr�fico em que os fatos se misturam � fic��o e a fic��o � fic��o cient�fica.

    Entenda-se: por um lado existe desejo de reconstituir, ainda que por fotos, o que aconteceu naquela noite distante. E tamb�m de relatar o modo de viver de dois personagens: Marquim e Sartana.

    Mas sobretudo Marquim (ligado � m�sica) se envolve na fic��o proposta por Queir�s: a cria��o de uma esp�cie de bomba cultural a ser lan�ada em Bras�lia com elementos do modo de vida perif�rico. Sartana, com seus conhecimentos de eletricidade, o ajudar� na opera��o.

    O terceiro g�nero implicado � a fic��o cient�fica: Cravalan�as � o personagem que vem do ano 2073 para buscar provas da responsabilidade do Estado brasileiro nos eventos do baile popular que vitimou os rapazes negros.

    Mais do que em seus filmes anteriores, Queir�s produz, at� pela interfer�ncia dos g�neros, um trabalho de narrativa fragmentada –complexa, bem mais do que complicada.

    No filme, a feiura dos lugares (Ceil�ndia � inacredit�vel) ser� compensada pela qualidade dos enquadramentos, pela sensibilidade com que "Branco Sai" exp�e o contraste entre a alegria adolescente dos sensuais dan�arinos e a tristeza que se percebe no rosto dos atuais aleijados.

    "Branco Sai" tem elementos de document�rio, musical pop, fic��o cient�fica e fic��o pura e simples. Dessa mistura sai um potente documento sobre o encontro entre nosso "apartheid" e a democracia racial � brasileira. Tem alguns problemas de ritmo, irrelevantes, por�m, em face daquilo a que chega. O que temos a ver ali � um filme de terror verdadeiro.

    BRANCO SAI, PRETO FICA
    DIRE��O Adirley Queir�s
    ELENCO Marquim do Tropa, Dilmar Dur�es e Gleide Firmino
    PRODU��O Brasil, 2015, 12 anos
    QUANDO estreia nesta quinta (19)
    AVALIA��O muito bom

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