• Ilustrada

    Friday, 02-Aug-2024 02:59:44 -03

    Livro re�ne textos sobre Angelo Agostini, pioneiro do cartum no pa�s

    MARCO RODRIGO ALMEIDA
    DE S�O PAULO

    17/01/2015 02h00

    Ainda hoje � dif�cil tra�ar um retrato exato do artista gr�fico que retratou como poucos o Brasil do s�culo 19.

    O italiano Angelo Agostini foi o maior caricaturista da imprensa brasileira do per�odo. Seus desenhos s�o fontes valios�ssimas para hoje compreendermos o cotidiano do pa�s e os embates pol�ticos da �poca, tais como a aboli��o da escravatura e o fim da monarquia.

    Mas quem quiser conhecer o homem por tr�s de todos esses feitos ir� se deparar com alguns enigmas. N�o se sabe ao certo em que cidade da It�lia ou ano Agostini nasceu (a maior parte das refer�ncias aponta 1842 ou 1843) nem quando chegou ao Brasil (acredita-se que em 1859).

    Esses pontos biogr�ficos obscuros e a vasta produ��o do caricaturista s�o temas da colet�nea "Agostini —Obra, Paix�o e Arte do Italiano que Desenhou o Brasil", organizado pela historiadora Isabel Lustosa.

    O volume, fruto de um semin�rio realizado em 2010, no centen�rio de morte de Agostini, traz textos de Lilia Moritz Schwarcz, Marcus Tadeu Daniel Ribeiro e Antonio Luiz Cagnin, entre outros pesquisadores.

    "Agostini foi uma influ�ncia central nas artes gr�ficas brasileiras, influenciou grandes talentos do pa�s. Al�m de grande artista, era um empres�rio, um homem de vis�o, inovador", comenta Lustosa.

    INDEPEND�NCIA

    Ap�s um primeiro per�odo em S�o Paulo (onde fundou os peri�dicos de humor "Diabo Coxo" e "Cabri�o"), fixou-se no Rio.

    A grande fase da carreira de Agostini come�ou em 1876, ao fundar a "Revista Ilustrada", publica��o sat�rica que marcou o per�odo final da monarquia e o in�cio da rep�blica no Brasil.

    A "Revista" primou pela independ�ncia editorial e por um longo tempo n�o publicou an�ncios, sobrevivendo apenas da venda de seus exemplares (fa�anha consider�vel, levando em conta os altos �ndices de analfabetismo na �poca).

    Com humor afiado, a "Revista" conquistou os leitores ao abordar temas que mobilizaram o interesse da na��o. Em letras e tra�os, Agostini retratou a Guerra do Paraguai, defendeu a aboli��o da escravatura e criticou o regime mon�rquico.

    Suas caricaturas de dom Pedro 2�, em geral retratado como um monarca de voz e pernas finas, ar entediado, sempre cochilando em eventos p�blicos, tornaram-se c�lebres –os desenhos s�o tema de �tima an�lise de Lilia Moritz Schwarcz.

    A partir de 1880, a campanha abolicionista tornou-se o principal assunto da "Revista Ilustrada", fonte de inspira��o para alguns dos mais famosos desenhos de Agostini.

    Em um dos ensaios do livro, o historiador de arte Marcus Tadeu Daniel Ribeiro argumenta que Agostini, ao retratar em imagens dram�ticas a vida dos escravos, foi um dos art�fices do surgimento do realismo art�stico no Brasil.

    O FIM

    A grande fase da "Revista" foi at� 1888, quando Agostini partiu para uma esp�cie de ex�lio for�ado na Fran�a. O cartunista, j� casado na �poca, viu-se envolvido em um esc�ndalo familiar quando tornou-se p�blico seu caso com a pintora Abigail de Andrade, filha de um abastado fazendeiro do Rio.

    Esperando os boatos perderem f�lego, Agostini permaneceu em Paris at� 1894. O per�odo foi traum�tico: l� morreram Abigail e um filho deles, ainda beb�.

    Enquanto isso, sem seu criador por perto, a "Revista Ilustrada" perdeu as principais caracter�sticas que a fizeram c�lebre.

    Especialmente ap�s a Proclama��o da Rep�blica, em 1889, abandonou o tom cr�tico, a verve combativa, e passou a militar pela causa governista de forma incondicional, comenta Daniel Ribeiro.

    Contr�rio a essa nova tend�ncia, Agostini, ao voltar ao Brasil, afastou-se do peri�dico e fundou outra publica��o sat�rica, a "Dom Quixote".

    O novo empreendimento n�o teve grande impacto; a pr�pria "Revista Ilustrada" deixou de circular em 1898 –ambas sucumbiram diante de publica��es de estrutura empresarial mais organizada e t�cnicas de impress�o mais modernas e baratas, como "O Malho", onde Agostini trabalhou em seus �ltimos anos.

    Mas o talento de Agostini sobreviveu a todas essas turbul�ncias e permanece, divertido e ferino, em cada imagem que criou.

    AGOSTINI

    Organiza��o Isabel Lustosa
    Editora Funda��o Casa de Rui Barbosa
    Quanto R$ 52 (272 p�gs.)

    Fale com a Reda��o - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024