Um caix�o veio � tona num canal do Recife, e no tampo estava escrita a palavra "arte". Numa ponte, uma fita vermelha estendida de ponta a ponta atrapalhava o tr�nsito. Nos jornais, classificados anunciavam uma m�quina capaz de gravar sonhos.
Paulo Bruscky era o homem por tr�s dos estranhos acontecimentos que assombraram a capital pernambucana na d�cada de 1970. E intrigou o mundo com obras que mandou pelo correio.
Exposi��o no Rio rev� produ��o experimental de Pernambuco
Sem deixar a cidade, o artista fez do Recife o centro do universo, fazendo reverberar nas ruas o �ltimo grito da arte conceitual que discutia em sua correspond�ncia com artistas das metr�poles globais, de Nova York a Berlim.
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Muito antes do mangue beat -movimento musical que estourou nos anos 1990, sintetizado pela imagem de uma parab�lica enfiada na lama-, Bruscky redesenhava a geografia das artes, sendo ele mesmo uma esp�cie de antena para irradiar suas ideias da arte do futuro.
Mas s� agora essa obra ancorada no Recife ganha o mundo. Bruscky tem sua primeira individual no exterior, em cartaz at� abril no Bronx Museum, em Nova York, e est� no centro de uma mostra no Museu de Arte do Rio.
Tamb�m acaba de lan�ar um livro com todos os seus escritos te�ricos. Outro lan�amento, do cr�tico Adolfo Montejo Navas, analisa sua trajet�ria e reproduz em detalhes quase todos os seus experimentos no campo da arte postal, suas performances com xerox e interven��es que fez em outdoors no Recife.
Nos anos de maior repress�o do regime militar, Bruscky encontrou no correio uma sa�da para seus desenhos e colagens que questionavam c�nones da arte ao mesmo tempo em que denunciavam a brutalidade da ditadura instaurada com o golpe de 1964.
"Era o �nico meio incontrol�vel de comunica��o. E a gente foi incorporando novas tecnologias, como o fax, o xerox", lembra Bruscky. "Era a internet antes da internet."
Em seu livro, Bruscky resume a ideia como a "sa�da mais vi�vel" para o surgimento de uma arte "antiburguesa, anticomercial e antissistema".
Mas o sistema atentou para tudo isso, e Bruscky chegou a ser preso tr�s vezes.
Numa dessas ocasi�es, o artista conta que um soldado, intrigado com seus m�todos, perguntou se caso ele arrancasse um peda�o do piso e colasse na parede seria ele tamb�m visto como artista.
"Eu respondi: 'Se voc� colocar, n�o; se eu colocar, � que � arte'. Passei perto de apanhar", escreveu Bruscky.
EMBATES SUTIS
Na opini�o de Sergio Bessa, curador da mostra do artista em Nova York, essa atitude de "desmascarar a autoridade" marca seu trabalho.
"Ele se porta como um homem comum, mas tem certa aud�cia ao entrar no debate internacional", diz Bessa. "Sua obra n�o procura temas sublimes. Ele fala das coisas pr�ximas dele, porque o que importava ali era mostrar como viver uma vida feliz diante de um sistema repressivo."
� o que Montejo Navas chama de "sintonia auditiva com o mundo" na obra do artista.
Ou seja, da fita vermelha que estendeu numa ponte sem qualquer explica��o � encena��o do pr�prio enterro ou a organiza��o de um concerto-happening com caixinhas de f�sforo, Bruscky criava embates sutis, tendo o humor como estrat�gia -a "mordacidade" no lugar de uma "presun�osa eleg�ncia".
POIESIS BRUSCKY
AUTOR Adolfo Montejo Navas
EDITORA Cosac Naify
QUANTO R$ 80 (322 p�gs.)
ARTE E MULTIMEIOS
AUTORES Paulo Bruscky, Cristiana Tejo (org.)
EDITORA Zoludesign
QUANTO R$ 50 (276 p�gs.)