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    Exemplo de sucesso entre cinemas de rua, Espa�o Augusta completa 20 anos

    FERNANDA MENA
    DE S�O PAULO

    28/09/2013 03h06

    O pipoqueiro Jos� Vicente da Silva, 81, se lembra bem da inaugura��o do Espa�o Banco Nacional de Cinema, hoje Espa�o Ita�, ocorrida h� 20 anos no alto da rua Augusta.

    "Foi um estouro de gente. Tinha fila pra l� e pra c�", diz, apontando para as duas esquinas da cal�ada.

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    Naquele mesmo meio-fio, Seu Jos� viu o Cine Majestic, aberto em 1947, fechar as portas nos anos 1980. Viu as prostitutas tomarem o quarteir�o e as ruas ficarem desertas ao anoitecer. E depois viu isso tudo mudar novamente.

    "A rua era um breu. Os im�veis estavam vazios, n�o valiam nada", lembra o soci�logo Adhemar Oliveira, 56, cineclubista que se fez empres�rio e exibidor ao criar o Espa�o da rua Augusta, uma combina��o de cinema independente, livraria e caf�.

    Tratava-se de um arranjo inusitado numa �poca em que amplas antessalas de cinema eram acess�veis apenas a portadores de ingresso.

    Ao criar uma �rea de conviv�ncia aberta para a rua, de livre acesso, em que eram programados eventos, lan�amentos de livros e exposi��es, o Espa�o se tornou um reduto cult, mas tamb�m um lugar para ver e ser visto.

    PONTO DE ENCONTRO

    Em 20 anos, esse hall foi cen�rio da retomada do cinema brasileiro e plataforma de lan�amento das gera��es de cineastas que se seguiram.

    Formou cin�filos que hoje t�m entre 20 e 40 anos, reuniu atores e amantes do cinema de arte, promoveu debates, encontros e desencontros.

    Foi em seu grande banco de madeira que casais como o cineasta Toni Venturi, 57, e a atriz D�bora Duboc, 48, se formaram.

    Karime Xavier/Folhapress
    O cineasta Toni Venturi e a atriz D�bora Duboc no banco do Espa�o
    O cineasta Toni Venturi e a atriz D�bora Duboc no banco do Espa�o

    E foi ali, nas mesas do caf� ao lado, que o jovem diretor Dida Andrade, 26, tantas vezes sonhou em conhecer uma bela jovem cin�fila, numa cena nunca consumada fora de sua fantasia.

    "Passei a frequentar o Espa�o aos 15 anos, depois que meu pai me levou para assistir a 'Cidade de Deus' [2002]", conta. "Aqui foi meu ber�o."

    Com Andradina Azevedo, 27, colega do curso de cinema na Faap (Funda��o Armando �lvares Penteado), em S�o Paulo, eles fizeram da visita �quelas salas uma rotina.

    O resultado da forma��o, na faculdade e no Espa�o, � o primeiro longa da dupla. "A Bruta Flor do Querer" levou os pr�mios de melhor dire��o e fotografia no �ltimo festival de Gramado e deve ser exibido no Espa�o Augusta, a sala mais frequentada pelos diretores.

    Karime Xavier/Folhapress
    Dida Andrade e Andradina Azevedo no hall do cinema
    Dida Andrade e Andradina Azevedo no hall do cinema

    RESIST�NCIA

    "O Espa�o Augusta foi vital para a forma��o de gera��es de cin�filos", avalia o cineasta Walter Salles, 57.

    "Quando o cinema brasileiro ficou paralisado, durante o desgoverno Collor [1990-1992], uma plateia que tinha acesso a filmes de Kiarostami, Kieslowski, irm�os Coen ou David Lynch se formava ali. Foi esse p�blico que veio, mais tarde, assistir aos filmes da retomada", conclui.

    "Apostamos no cinema de arte e no filme brasileiro, que era considerado o rebotalho da �poca", explica Adhemar.

    O diretor Ugo Giorgetti, 71, lembra que, com o fim da Embrafilme, em 1990, Adhemar se tornou um interlocutor privilegiado para os cineastas da �poca. "Outros exibidores s� pensavam em lucro e retorno r�pido. Adhemar j� conhecia muito de cinema."

    O Espa�o na Augusta sobrevive em meio a uma mar� de fechamento de salas de rua. Entre 2009 e 2012, o Brasil perdeu 48 delas, ante 465 abertas dentro de shoppings.

    Parte da receita deste sucesso est� nos tr�s nomes adotados pelo local: Banco Nacional, Unibanco e Ita�.

    Adhemar foi pioneiro do chamado "naming rights", o direito de batizar um espa�o cultural com o nome da empresa que o patrocina. "Para o bem e para o mal", brinca.

    "O cinema de rua � muito caro e, sem subs�dio, ele tende a desaparecer", explica Carlos Augusto Calil, 62, professor de cinema da USP e ex-presidente da Embrafilme.

    "Adhemar se tornou um exibidor comercial, mas carregou consigo o perfil do cineclubismo de arte", diz Calil.

    Depois de assistir a tr�s reformas do Espa�o nesses 20 anos, Seu Jos�, o pipoqueiro, ainda n�o arriscou sair da cal�ada. "Nunca assisti a nenhum filme aqui. N�o gosto de cinema. Eu durmo."

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