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    Cr�tica: "O Grande Gatsby" perde o lado obscuro do personagem

    RICARDO CALIL
    CR�TICO DA FOLHA

    07/06/2013 03h08

    Uma adapta��o cinematogr�fica de "O Grande Gatsby" por Baz Luhrmann �, convenhamos, um alvo f�cil para cr�ticas.

    O grande romance americano do s�culo 20, com a prosa refinada de F. Scott Fitzgerald, transformado em filme por um cineasta assumidamente kitsch e em curva descendente na carreira (do celebrado "Romeu + Julieta" ao questionado "Moulin Rouge" ao desprezado "Austr�lia").

    "O Grande Gatsby" oscila entre grandes momentos e clima de comercial de champanhe

    Vamos combinar: � um prato cheio para um pensamento do tipo "socorro! os filisteus est�o se apropriando da alta cultura!". Mas h� algo de muito apropriado na escolha de Luhrmann para comandar a terceira adapta��o do livro para o cinema.

    Grosso modo, o livro conta a hist�ria de Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio), milion�rio misterioso que promove festas extravagantes em sua mans�o na esperan�a de atrair sua antiga amada Daisy (Carey Mulligan), agora casada com Tom Buchanan (Joel Edgerton), de fam�lia rica e tradicional.

    No livro e no filme, a hist�ria � narrada pelo ponto de vista de Nick Carraway (Tobey Maguire), primo de Daisy, vizinho de Gatsby e alter ego de Fitzgerald.

    A atitude do cineasta em rela��o ao espectador � a mesma de Gatsby diante de Daisy: impression�-lo pelo excesso; seduzi-lo com falsos brilharecos, incluindo um dispens�vel 3D.

    Luhrmann �, como Gatsby ir� se revelar ao longo do livro, um novo-rico, um emergente do cinema. � tamb�m, como o protagonista, um homem que n�o sabe quando parar --como se v� nas in�meras sequ�ncias em que estabelece um paralelo entre o jazz do in�cio do s�culo 20 e o hip-hop do come�o do 21.

    Nesse sentido, sua escolha como diretor n�o poderia ser mais adequada. Luhrmann � capaz de retratar perfeitamente a superf�cie de Gatsby.

    Por outro lado, ele n�o consegue penetrar no lado mais obscuro do personagem: sua vaidade, sua obsess�o man�aca pela propriedade (incluindo a� a de Daisy e de Nick).

    Divulga��o
    Leonardo DiCaprio e Carey Mulligan em cena do filme "O Grande Gatsby", do diretor Baz Luhrmann
    Leonardo DiCaprio e Carey Mulligan em cena do filme "O Grande Gatsby", do diretor Baz Luhrmann

    No livro "Sunset Park", de Paul Auster, h� uma chave para entender o limite dessa adapta��o: "(Nick) � o �nico personagem capaz de olhar para fora de si mesmo. Todos os outros s�o pessoas perdidas e rasas, e sem a paix�o e a compreens�o de Nick, n�o ser�amos capazes de sentir nada por eles".

    Talvez falte a Luhrmann o olhar de Nick --e, portanto, o de Fitzgerald-- sobre o lado negro do sonho americano. O cineasta n�o parece capaz de criticar essa fantasia materialista --ao contr�rio, embarca nela com gosto, sem perceber que ela se evaporou com o tempo.

    O GRANDE GATSBY
    DIRE��O Baz Luhrmann
    PRODU��O EUA/Austr�lia, 2013
    ONDE An�lia Franco UCI, Reserva Cultural e circuito
    CLASSIFICA��O 14 anos
    AVALIA��O regular

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