DAVID DIESENDRUCK: Os 70 anos da partilha da Palestina
Hans Pin/Israeli Government Press Office REUTERS | ||
Em 1947, judeus celebram resolu��o da ONU que determina a divis�o da Palestina e a cria��o de Israel |
H� exatos 70 anos, em 29 de novembro de 1947, a Assembleia-Geral das Na��es Unidas aprovou a partilha da Palestina em dois Estados, um �rabe e um judaico.
Muitas vezes, a data � apresentada como marco zero do conflito entre �rabes e judeus. Com o passar dos anos e o distanciamento dos fatos que a mem�ria pode alcan�ar, torna-se ainda mais necess�rio problematizar tal narrativa.
Afinal, a viol�ncia na regi�o havia come�ado d�cadas antes. Em agosto de 1929, por exemplo, mais de 60 judeus foram assassinados, casas e sinagogas foram saqueadas, no evento conhecido como "massacre de Hebron".
Desde fins do s�culo 19, h� registros de tens�es e chacinas na terra chamada ora de "Palestina", ora de "Eretz Israel".
Na mem�ria coletiva de �rabes palestinos e de judeus sionistas, aquela terra representava bem mais que um territ�rio des�rtico, sem recursos naturais e inf�rtil; para ambos os povos, a terra representava a p�tria-m�e, seu solo ancestral e destino nacional. O conflito surge do embate entre dois nacionalismos que sonham com a mesma terra.
Para tornar as coisas mais complexas, o territ�rio era controlado pelo Reino Unido, pot�ncia imperialista que sufocava nacionalismos em emerg�ncia nas terras sob sua administra��o.
Durante os anos de dom�nio brit�nico, a pot�ncia mandat�ria buscou manter certo equil�brio e atuava de maneira amb�gua, declarando simpatia pelo movimento judaico (Declara��o Balfour) ao mesmo tempo em que limitava a entrada de judeus no territ�rio (Livro Branco).
Muitas foram as propostas para resolver o conflito: um Estado binacional, uma Federa��o e o pr�prio prolongamento do Mandato Brit�nico. Nenhuma dessas ideias foi adiante.
Em 1937, uma comiss�o brit�nica (Peel Comission), reconhecendo os dois nacionalismos e a legitimidade de suas aspira��es � independ�ncia, aventou a ideia de dividir o territ�rio, formando um Estado �rabe e outro judaico. A rejei��o da proposta pela lideran�a �rabe de ent�o fez com que o projeto fosse engavetado.
Com o agravamento da viol�ncia e a eclos�o da Segunda Guerra Mundial, que ceifou a vida de 6 milh�es de judeus europeus, a quest�o foi encaminhada �s Na��es Unidas. Novamente, uma comiss�o recomendou a divis�o do territ�rio em dois Estados. Um Estado �rabe e um Estado judaico.
Em 29 de novembro de 1947, a proposta foi votada e aprovada pela Assembleia-Geral. Foram 33 votos a favor, 13 contra e 10 absten��es. As duas pot�ncias vitoriosas na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Estados Unidos e Uni�o Sovi�tica, votaram favoravelmente � proposta da partilha.
Pa�ses como Egito, Ir� e Iraque votaram contra. O Brasil n�o s� votou a favor como teve papel de destaque: a sess�o foi presidida pelo diplomata brasileiro Oswaldo Aranha.
Meses depois, Israel declarou sua independ�ncia. Em resposta, Iraque, L�bano, S�ria, Egito e Jord�nia iniciaram uma guerra ao rec�m-criado Estado judaico. Como consequ�ncia do conflito, Egito e Jord�nia ocupam, at� 1967, quase todo o territ�rio em que seria estabelecido o Estado palestino. Israel tamb�m expande as suas fronteiras.
At� hoje a Organiza��o das Na��es Unidas defende a posi��o de dois Estados para solu��o do conflito entre israelenses e palestinos. Essa �, tamb�m, a posi��o hist�rica do Brasil.
Setenta anos depois, a partilha da Palestina ainda parece ser a melhor solu��o para resolver o impasse entre �rabes e judeus (hoje, israelenses e palestinos), formando-se dois Estados que possam conviver lado a lado em paz e seguran�a.
DAVID DIESENDRUCK, administrador de empresas, � presidente do Instituto Brasil-Israel
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