Depoimento
Depois de milhas de solid�o, comprei um amigo por US$ 25 na Tail�ndia
Viajante pagou a taxista para bater papo em uma noite na Tail�ndia; com a amizade e dicas preciosas, garante que saiu no lucro
Viajar sozinho � um caminho cheio de vantagens! Sem dar satisfa��es a ningu�m, � poss�vel mergulhar no seu �ntimo, refletir sobre a vida e, sobretudo, evitar trazer na bagagem uma inimizade.
Depois de muitas milhas de solid�o, o inevit�vel: bate aquela "depr�", geralmente porque a gente se depara com uma vista incr�vel, onde tudo � lindo e maravilhoso, tira fotos, posta nas redes sociais, mas falta uma alma de corpo presente com a qual compartilhar a emo��o do momento.
Foi numa circunst�ncia como essa, em uma jornada que come�ou pela Tail�ndia, que decidi "comprar" um amigo.
Os tailandeses s�o muito am�veis e sorriem � be�a. � dif�cil compreend�-los no come�o. Imagine algu�m que fale igual ao Cebolinha, trocando os "erres" pelos "eles".
Assim que desembarquei de uma viagem de 11 horas, que partira de Zurique (Su��a), tudo o que desejava era provar o "pla raad prik", prato t�pico da Tail�ndia.
Deixei minha mala no hotel e parti em busca do perfumado peixe frito, que, naquele calor estival, veio acompanhado de uma reconfortante e gelad�ssima Chang, tradicional cerveja tailandesa, cujo r�tulo traz dois elefantinhos.
Era s� o aperitivo. Queria descortinar um mundo novo de surpresas, cores, cheiros e sabores superlativos. A sugest�o de um taxista boa-pra�a me levou a Khao San Road, a barulhenta e fervilhante rua das comidas ex�ticas.
O que vi foi um territ�rio ca�tico e repleto de turistas, dominado por alem�es em ritmo de "divers�o": em outras palavras, enchendo a cara.
O pa�s � um dos destinos favoritos de quem busca conhecer uma cultura diversa. Os suntuosos templos budistas, os bangal�s em praias paradis�acas e a gastronomia para l� de ex�tica, com direito a espetinhos de gafanhoto e a escorpi�o assado, est�o entre os atrativos locais.
TRUQUES E MONGES
Procurava por algo mais tailand�s propriamente dito, al�m ou aqu�m da agita��o de turistas. Pedi ao taxista que seguisse para algum bar na beira do rio Chao Phraya, a grande art�ria que corta Bancoc. Quando chegamos, convidei-o a se sentar comigo: "Voc� � o meu convidado", disse. Delicadamente, ele me respondeu que precisava fazer novas corridas para garantir aquela noite.
Um homem na casa dos 35 anos, o motorista poderia ser meu amigo, "nem que fosse por uma noite de bar", pensei. Insisti bastante e ele acabou cedendo depois que ofereci pagamento pelas horas que ele perderia � mesa.
Embarquei na sua hist�ria: ele me contou que morava sozinho e que o dinheiro que ganhava era para sustentar a mulher e duas filhas que viviam ao norte da Tail�ndia. Deu dicas de passeios, bares e restaurantes fora do circuito tur�stico e me ensinou a escapar dos truques de uma categoria com fama mundial na arte de ludibriar –"Abra os olhos com os meus colegas taxistas".
O melhor de tudo: presenteou-me com o endere�o de seu tio materno, um monge que habitava um mosteiro perto da divisa com Mianmar, a minha parada seguinte.
Essa amizade em noite m�tica de estreia no Sudeste Asi�tico me custou cerca de US$ 25 –sem contar os outros US$ 20 gastos no boteco.
Sa� no lucro: converti os dividendos numa rela��o um tanto fugaz do outro lado do globo. Uma pechincha! Afinal, o d�lar flutuava longe desses tempos bicudos e de vacas t�o esquel�ticas.