Xuxa fala de livros lançados e de vídeo que viralizou na web

 

Um vídeo com previsões de uma robô que participava do "Xuxa Park" (Globo), dos anos 90, viralizou na última semana. Nele, a personagem, que "vinha" de 2023, garantia: "Somos muito felizes, a natureza está em nós, estamos todos bem. Não há guerras. Os seres humanos se conscientizaram da paz (...) Sem drogas, sem violência, o futuro é belo". A perspectiva oposta à realidade de 2022 intrigou internautas, que repercurtiram os erros. Nem Xuxa ficou alheia à comparação do presente com o passado. Em entrevista exclusiva, ela conta:

—  A gente está falando num momento perto das eleições, as pessoas estão desesperançosas. Acho que a palavra é desesperado com o que vai acontecer. Hoje vi um vídeo de umas pessoas colocando óleo ungido em armas. Isso me desceu tão mal... Se estão levantando isso em nome de Deus... Isso aí é coisa do cara lá de baixo e não do cara lá de cima. Estou bem assustada, desesperada. A palavra não é desesperançosa, não. 

 

Para dar sua contribuição a correntes positivas, a apresentadora tem colocado seu nome em projetos pela diversidade e contra o preconceito, entre eles a série "Caravana das drags" (Prime Video) e o livro recém-lançado "Maya: Bebê Arco-Íris", sobre uma criança que é filha de duas mães. A história foi inspirada na filha de suas amigas: 

— Queria que as pessoas conhecessem um pouco do sentimento que tive ali na hora, de duas mães que brigaram, que lutaram, que fizeram inseminação, que queria tanto a maternidade, sabe? Falei de preconceito de uma maneira lúdica. Me preocupei muito, não só com as da Maya, mas com outras mães. A Vanessa, que é uma das que estão na história, é minha "irmãe". Ela fez várias músicas do DVD Xuxa Só Para Baixinhos. Posso dizer que o amor que tenho por Vavá é enorme. Fiquei com muito medo de o preconceito existir em torno desse assunto pelo momento triste que a gente está vivendo.

Outra publicação lançada é o livro que mostra que Xuxa faz parte da "tribo doz veganos", como ela mesma apelida. "Mimi: a vaquinha que não queria virar comida" (Globo Livros) é dela com Guilherme Francini:

— Tem pouco tempo que sou vegana. E me sinto muito mal por não ter virado antes. Sempre tive paixão por bichos e acabava comendo peixe de vez em quando, frango, frutos do mar. Eu ingeria forçadamente porque acreditava que a proteína vinha do animal e não do vegetal, do verde. Depois que o Junno (seu marido) me apresentou um documentário chamado "Terráqueos", minha cabeça deu um clique e eu comecei a mergulhar no assunto.

A gaúcha lembra que, após se aprofundar, insistia para que todos ao seu redor dessem a mesma atenção ao tema:

— Virei aquela pessoa que quer empurrar o assunto goela abaixo, sabe? Eu estava insuportável, falava o tempo inteiro! Não queriam mais chegar perto de mim. Convidava as paquitas para irem lá em casa e botava pizza vegana, para catequizar as coitadinhas (risos). Às vezes eu falava de maneira dura. Aí conversei com quem já é vegano há mais tempo e ouvi: "Olha, se você ficar falando isso, vai assustar. Não é por aí. Você tem um canal direto com as crianças. Fala com elas".

Ao lançar o livro na Bienal de São Paulo, algumas declarações da Rainha repercutiram. Uma delas dava conta de que homens que fazem uma dieta sem carne podem ter "ereções mais fortes".

— Não tive vontade que isso levantasse uma discórdia entre as pessoas ou que elas viessem a falar bem ou mal. Apenas queria passar a minha mensagem — diz Xuxa, remetendo a constatação a informações do documentário "Dieta de gladiadores" (Netflix). — Eu tinha certeza de que esse assunto ia dar o que falar, que ia chamar atenção. Para nós, veganos, isso não é ruim. Pelo menos serviu para pesquisarem mais.

Em sua casa, ela, o marido e a filha, Sasha Meneghel, compartilham da dieta sem carne. As motivações para aderirem foram diversas. A apresentadora detalha:

— A Sa não gostava de ver os documentários "com bichos sofrendo". Aí eu disse: "Engraçado, né? Você acende incenso, usa pedrinhas, cristal para trazer energia boa e põe energia da morte e do sofrimento dentro do seu corpo". Ela me olhou bem sério: "Poxa, mãe. Você pega tão pesado... Parei". No meu caso, virei vegana porque eu via esses filmes. No caso do Ju (de 58 anos), ele virou vegano porque estava com a saúde desequilibrada: triglicerídeos e colesterol muito altos. O pai dele morreu com 60 anos, o avô com 65...Cada um vai por algum motivo.

A gana de Xuxa em ensinar sobre a alimentação sem carne tem a mesma intensidade que sua vontade de aprender sobre temas que não domina. Foi isso que aconteceu em "Caravana das drags", programa sobre que abrange participantes da sigla LGBTQIAP+ Ela apresentará a atração com Ikaro Kadoshi e explica como ficou à vontade com o assunto:

— Uma das coisas que ele me disse foi: "Não vou largar sua mão". E ele não largou nem no começo, nem no meio e  nem no fim. E tenho certeza que vai ser cada vez melhor. A intenção é a gente tentar se comunicar com todo mundo numa harmonia. Ao Ikaro e a quem se aproximar de mim eu vou pedir ajuda.

Há temas urgentes e é nesses que Xuxa diz querer focar. Aos 59 anos, a artista que vendeu milhões de discos com canções sobre amor e esperança se diz estarrecida com os discursos de ódio:

— Parece que as pessoas estão à vontade para dizer que não gostam de gays, que podem fazer o que for em nome de Deus. Isso aí, para mim é o cúmulo do cúmulo. Não consigo entender muita gente batendo palma para isso. E naquele vídeo da robô, se a gente pudesse dizer o que deseja para 2023, seria o contrário de tudo o que se vê agora. A natureza está sendo morta, ativistas e pessoas que brigam pelos indígenas indo embora, filho matando pai, pai matando filho. É um desespero, uma coisa tão louca, tão doida, que parece que a gente não vai parar. Sempre levantei essa bandeira de "bom dia, não perca as esperanças, vambora, cabeça para frente"... Hoje, se eu fizesse um programa desse, ia falar: "É gente, o negócio está pesado. Vamos rezar, pedir a Deus, pensar positivo, mas está difícil". Por mais positiva que eu seja, eu sei que a coisa não está legal.