Eduardo Moscovis fala da entrada em 'Um lugar ao sol' e das filhas

 

 

No ar em "O cravo e a rosa", no Vale a Pena Ver de Novo, e em "Alma gêmea", no Viva, Eduardo Moscovis entrará em "Um lugar ao Sol" para uma participação. O ator, de 53 anos, fará o papel de Edgar, ex-marido de Rebeca (Andréa Beltrão):

— Não sou só admirador da Andréa. Sou fã e muito, muito! Ela é uma referência artística poderosa. A forma como conduz a carreira e a vida pública e a privada há tantos anos é inspiradora. Ela se mantém muito respeitada, discreta. E com opiniões pertinentes sempre. O caminho que ela fez quando escolheu, junto à Marieta Severo, ter um espaço cultural no Rio (o Teatro Poeira) é de muita garra. Ela alimenta não só audiovisualmente com trabalhos, interpretações, mas fomenta a cultura de uma forma muito potente. Estar na novela também foi maravilhoso pelo meu encontro com Mauricio Farias, com a Denise Fraga...

Edgar, que é o pai de Cecília (Fernanda Marques), reaparece depois de buscar se transformar. Moscovis explica:

— No passado, ele e Rebeca eram um casal de namorados, modelos, e em algum momento ele foi lançado à carreira internacional e não conseguiu lidar com aquilo tudo, desenvolveu vícios. Eles tiveram a filha, mas ele não foi presente. Ele aparece ali na novela como uma referência de superação, fez um movimento de se tratar em clínicas de reabilitação. Ele se sente forte e limpo há alguns anos, mas, para viver de forma completa esse movimento de evolução, entende que precisa procurar a filha.

 

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A reaproximação, de início, desperta contrariedade em Rebeca, mas é reavaliada:

— Quando ela vai encontrá-lo, percebe que esse cara está transformado. E eles acabam se enrolando de novo. É um personagem muito real. O texto da Lícia Manzo é muito bom de falar. E eu acho que é possível, sim, reviver um amor tão antigo. Existe um acesso ao afeto. Quando alguém adoece na dependência química, isso desgasta qualquer relação que esteja em volta. Dependendo de como as coisas aconteçam, normalmente o amor fica num lugar guardado. Se esta pessoa consegue fazer o movimento de volta, de reorganizar a vida, e, se o interesse for de verdade, o amor fica aberto. E a relação com a filha também resgata esse relacionamento.

O entendimento que Moscovis tem da vida e dos relacionamentos vai de encontro ao de um personagem interpretado por ele recentemente no Instagram. O ator publicou um vídeo de leitura do texto "Tigre branco", apresentado no projeto Teatro com Bolso, de Ana Beatriz Nogueira, e despertou gatilhos em algumas seguidoras. O homem da cena declarava episódios de assédio, tinha falas misóginas, ofensivas e preconceituosas e, ainda assim, enxergava-se como privilegiado e merecedor do perdão da sociedade e da religião.

— Eu conheço homens como aquele personagem. Recebi muitos comentários sobre esse vídeo. Além de algumas seguidoras terem escrito que sentiram raiva, muitas diziam que tiveram uma relação assim ou que alguém próximo teve. Isso mostra a importância de a gente falar sobre isso, de descortinar a discussão sobre o que o machismo estrutural vem imprimindo na nossa sociedade — opina.

Pai de Gabriela e de Sofia Richard, de 22 e 21 anos (de sua relação com a diretora Roberta Richard), e de Manuela, de 14, e Rodrigo, de 9 (filhos de Cinthia Howlett), o ator costuma levar para casa discussões como as de gênero:

— A gente tem conversas muito frequentemente. Eu com as mais velhas e com a terceira, que tem 14 anos. Eu tenho guarda compartilhada, então, eles estão o tempo todo juntos. Essas discussões não passam tanto pelo mais novo. As meninas me ajudam demais porque há uma visão das mais velhas sobre o feminino e sobre a sociedade que já bate com a da mais nova. Isso acontece, por exemplo, quando o assunto é colocação em rede social: como a gente posta com o cuidado de não se contradizer no discurso. Elas me ajudam na desconstrução da masculinidade tóxica, mas acho que consigo contribuir também com meu ponto de vista.

Apesar da abertura ao diálogo e da defesa da liberdade, Moscovis conta que vez ou outra vai até as filhas mais velhas tirar dúvidas sobre fotos ou conteúdos postados por elas: 

— Eu as deixo livres, mas me sinto também na liberdade e no direito de fazer qualquer tipo de observação se eu não curto, se acho que está demais ou se não entendo o objetivo da exposição por passar de limites éticos ou estéticos. Mas dentro desse poder que as redes sociais têm ao risco da exposição, eu acho que elas são muito conscientes e tranquilas.