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Bruna Linzmeyer fala de preparação para 'Pantanal'

Thayná Rodrigues

Bruna Linzmeyer fará 'Pantanal' (Foto: Thaysa Paulo)Bruna Linzmeyer fará 'Pantanal' (Foto: Thaysa Paulo)

 

Bruna Linzmeyer volta e meia fala, durante a entrevista por telefone, que tem atração por personagens exóticos. A frase assertiva deixa margem à curiosidade a respeito do papel que a atriz terá no remake de "Pantanal", cujas gravações começarão no próximo mês. Ela participará da primeira fase e fará cenas em externas no Rio de Janeiro e em meio à natureza, no Mato Grosso:

— Não comecei ainda a preparação com a equipe da novela. Estou fazendo uma por minha conta há dois meses: construindo a personagem, no momento de perceber o que ela tem de diferente de mim e o que eu preciso trabalhar. Nem sempre é do dia para a noite que alguma coisa se constrói. É um trabalho de formiguinha. Estou com o Antonio Tigre, que é um professor de ioga que me prepara fisicamente. Leila Mendes é fonoaudióloga e prepara a voz. E tenho feito reuniões com a preparadora de elenco. Trabalhamos corpo e voz, a construção dessa personagem. É muito difícil explicar sem poder dizer o que é (risos).

A atriz, de 28 anos, grandes olhos azuis e cabelo volumoso foge do lugar-comum. Ao se lembrar de outra personagem durante o bate-papo, não diz que "foi um presente", frase desgastada de tão levada à repetição pelos artistas. Trata-se da Professora Juliana, de "Meu pedacinho de chão" (2014), e a recordação surge quando ela argumenta que interpretar a mocinha é, quase sempre, desafiador, o que não significa menor artisticamente. Só que a atriz se delicia com papéis daqueles "esquisitos", palavras dela, como o que ganhou no curta "Alfazema", de Sabrina Fidalgo, que repercurtirá neste sábado (5) no Festival Finos Filmes, do Museu da Imagem e do Som de São Paulo:

— Eu sou uma... Diabo, diaba, diabe. Eu pensei bem e acho que é um diabe, com "e" no fim, porque não tem um gênero. Não importa ali se é uma mulher ou um homem. E talvez não seja nada disso. É uma personagem estranha: cabelo grudado no rosto... Eu gosto do que é esquisito, do que é estranho. Tenho prazer nisso. Mas eu sou esse contraponto de Deus. Tenho particular prazer em fazer personagens que não são completamente lineares, que eu possa inventar absolutamente qualquer coisa para ele e ninguém vai achar absurdo, sabe? Esse tipo de personagem me encanta! Eu acho mais difícil fazer a mocinha da novela, para o meu tipo, para o meu estilo de personalidade. Eu gosto do deslocamento. Em "Meu pedacinho", todo mundo podia criar um monte de coisas. O cenário era todo florido, as figuras tinham um monte de jeito, de sotaque... E tudo o que eu criava o Luiz (Fernando Carvalho), diretor da novela, falava: "Não pode. Não vai fazer. Menos". E todo mundo à minha volta estava inventando. Este é o tipo de coisa que eu tenho facilidade em fazer. Ele falou: "É difícil fazer a mocinha que tem verdade, poder e que não tem nada de esquisito". Eu acho desafiador.

 

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Para a personagem do curta, Bruna trabalhou o corpo e os movimentos com Sol Miranda. E o projeto traz também Elisa Lucinda, que encarna Deus, uma mulher negra e lésbica.

— Deus é uma mulher negra. E não só! Deus também é sapatão, travesti, é uma senhora idosa... Quando a gente pensa na amplitude do que Deus significa na vida das pessoas, de acordo com a religião em que eu cresci, que é católica, Deus acolhe todo mundo. São muitas facetas. Acho poderoso quando a diretora as coloca na cena. Ela joga com estes signos: Deus, Diabo, Anjo, sexualidade, gêneros... Ela é inteligente neste sentido. O deslocamento faz a gente se identificar com alguma facilidade — opina. 

Em 2021, a artista aparecerá também em obras com a temática LGBTQIA+. Está para ser lançado, por exemplo, o filme "Uma paciência selvagem me trouxe até aqui", de Érica Sarmet, que escalou algumas mulheres que são lésbicas também fora da ficção. Neste mês em que se comemora o orgulho da sigla, Bruna explica por que decidiu tomar para si o termo "sapatão" e conta que, ao namorar uma mulher negra, percebe outras discriminações:

— O nosso país é estruturalmente racista. Então, tenho tido cada vez mais oportunidade de estar apta a enxergar como as coisas acontecem. Como mulher branca, as coisas estão acontecendo à minha volta e eu não consigo nem perceber. Nunca vou viver nem saber completamente o que a Marta, minha namorada, sente, nem o que a Shirley Cruz e a Sabrina Fidalgo (suas colegas de elenco em "Alfazema") passam. Mas eu posso me esforçar para perceber e me posicionar sempre que possível. Sou responsável por essa estrutura e sou agente dessas mudanças. Não posso achar que não tenho essa agência. E estar disposta a perceber nem sempre é agradável. É triste e perversa a estrutura racista em que a gente está. Meu esforço é o de me manter apta a perceber as estruturas e sustentar este incômodo para ajudar nas transformações também. E em relação a como me posiciono, as pessoas não vão me ofender me chamando de "sapatão" nem de "anormal". Se normal for ser preconceituoso e rude, prefiro não ser.

Em seu Instagram, vez ou outra Bruna usa seu lugar de fala para levar conhecimento aos seguidores. Ali virou um espaço de informação e acolhimento. A atriz explica:

— Minhas redes têm uma característica especial que fui construindo ao longo dos anos. Quase não chega ódio nos comentários. Se uma foto minha for postada pelo Instagram do jornal, os comentários são uns, e nas minhas redes são outros. As próprias pessoas que me seguem iam respondendo. Vi que nem precisava me preocupar com isso. Uma coisa que é muito dura nas opressões é que elas às vezes são veladas. É tão estrutural que nem sempre é uma frase com uma ofensa desacerbada. Vem entranhado. Muitas vezes quando a gente fala de opressão de raça, de gênero e de sexualidade, e às vezes acontecem situações desconfortáveis, a ficha só cai muito tempo depois. "Ih! O que aconteceu foi lesbofobia!". E isso é muito difícil de lidar. Porque você não tem uma resposta pronta na hora. Ela só vem depois. É isso: eu fico atenta, mas não me deixo impregnar. Se eu for deixar todo esse preconceito colar na minha pele, eu vou viver de ódio. Minha vida não é de ódio. É de amor.

Bruna Linzmeyer fará 'Pantanal' (Foto: Thaysa Paulo)Bruna Linzmeyer fará 'Pantanal' (Foto: Thaysa Paulo)

 

Bruna Linzmeyer e Shirley Cruz (Foto: Divulgação)Bruna Linzmeyer e Shirley Cruz (Foto: Divulgação)

 

Bruna Linzmeyer e a namorada, Marta Supernova (Foto: Reprodução)Bruna Linzmeyer e a namorada, Marta Supernova (Foto: Reprodução)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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