Filha de lavradores, Kátia Barbosa, do 'Mestre do sabor', conta como lida com a fama, fala do marido e das filhas e diz que reencontrou a irmã desaparecida

Espalhafatosa nas gargalhadas e no tom da voz, Kátia Barbosa já não passava despercebida por onde circulava. Desde a estreia na Globo, no "Mestre do sabor", já em sua segunda temporada, a chef de cozinha vem sendo ainda mais notada:

- Sou uma pessoa completamente espontânea: falo palavrão, rio alto... E as pessoas ficam observando.  A vida mudou porque eu descobri que estou na fila do supermercado e as pessoas ficam cochichando, olhando... No primeiro momento, eu pensava: "Ai, gente, o que essas pessoas estão falando de mim?". Tem gente que até vem dizer: "Menina, a televisão te engorda demais. Você não é tão gorda assim!". E, antes da quarentena, meus restaurantes estavam ficando bem cheios. Muita gente vinha passear no Rio de Janeiro e fazia questão de ir porque a comida é bem típica. Eu brincava que ia pedir para a Globo fazer um boneco grande do meu tamanho para colocar na porta. Eu não estava habituada a pessoas quererem fazer foto (risos). Mas acho legal as pessoas elogiando, se identificando... Que bom que tem isso!

Durante a quarentena, Kátia, de 58 anos, passou por fases diferentes. Ela está confinada com o marido, Ivan Brito, e com a filha caçula, Giovanna:

- Fiquei completamente confinada por 20 dias, enlouquecida, fazendo comida sem parar. Mas no geral ficava cada um num quarto, até porque meu marido continuou indo à rua, ao supermercado, no início. Depois, eu vi a necessidade de voltar porque tinha que pagar os salários dos funcionários e retomamos o serviço de entregas. Então, voltei lá para a cozinha industrial. Ficamos eu, meu sócio e dois funcionários. Mas é grande e a gente pouco se esbarra. Também tenho outra filha, Bianca (de 35 anos), e uma neta, Madalena, que fala mais do que eu.

 

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Há dois meses longe da mãe quase nonagenária, Kátia envia pratos preparados especialmente para ela. Os amigos da chef também recebem outros mimos na quarentena:

- É o que eu gosto de fazer. É um jeito de abraçar. Eu vou para a cozinha, embalo tudo, peço para entregar. É isso que estou fazendo para aliviar a distância. Tem dia que a gente fala com amigo e chora de saudade (a chef se emociona). Eu os escolhi para ser minha família. Meu  jeito é mandar um doce e uma comida que eles gostem. Incentivo todo mundo a fazer o mesmo.

Criada em Ramos, na Zona Norte do Rio, a chef lembra que aprendeu a cultivar o afeto através da alimentação desde a infância:

- Na minha casa era assim: morávamos num terreno grande, mas nunca casa bem simples. Meus pais eram nordestinos e tinham trabalhado como lavradores. Então, no nosso quintal, eles plantavam de tudo: cana-de-açúcar, aipim, goiaba, carambola... Eles eram severos, não deixavam a gente brincar na rua. Então, tudo o que a gente queria a gente encontrava em casa. No café da manhã, comíamos mandioca cozida; no almoço, angu com feijão. Fome a gente não passava. Mas tinha dificuldade: carne, por exemplo, não tinha todos os dias. Lembro da minha mãe picando um bloco de miúdos de boi e dando para comermos com angu.

Ao falar da família, Kátia conta que, após uma reportagem de O GLOBO, reencontrou uma irmã desaparecida, em 2012.

- Janete (68 anos) reapareceu por causa dessa matéria. Logo depois que ela leu, contou que tinha abandonado tudo por vergonha, relatou que tinha entrado em depressão e foi morar longe. Quando ela voltou, eu estava em São Paulo, perto de abrir um restaurante, e minha filha me ligou avisando. Na hora, pensei: "Não posso chorar". Perguntei se ela estava bem. Minha filha disse que ela estava velhinha, de cabelo branco, mas bem e com saudade. Ela é minha segunda mãe. Agora, a gente se fala todos os dias.