Fake News Não Pod #91: Cuidado com manchetes sobre a relação entre tatuagens e linfoma

Epidemiologista da Escola de Saúde Pública de Harvard diz que é exagerada a conclusão do trabalho publicado na revista “Clinical Medicine” sobre a relação entre tatuagem e linfoma maligno

 05/06/2024 - Publicado há 1 mês
Fake News não Pod - USP
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Fake News Não Pod #91: Cuidado com manchetes sobre a relação entre tatuagens e linfoma
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Muitas manchetes e posts sensacionalistas estão utilizando um artigo científico publicado recentemente para justificar a afirmação de que ter tatuagens vão aumentar os riscos de desenvolver um tipo específico de câncer. Neste episódio do Fake News Não Pod, a acadêmica Beatriz Calasense fala sobre as conclusões do artigo e a necessidade de se pensar criticamente sobre essas notícias sensacionalistas para a sobrevivência no mundo digital.

A acadêmica fala do artigo da revista científica Clinical Medicine, que trouxe resultado de uma pesquisa que avaliou um grupo de 12 mil pessoas que apresentaram um tipo de câncer chamado linfoma maligno e compararam com um grupo de pessoas da mesma faixa etária e sexo que não tinham câncer. Utilizando técnicas estatísticas de regressão logística multivariável a pesquisa concluiu que o risco de um linfoma maligno era 21% maior entre aqueles que tinham, pelo menos, uma tatuagem. “Olhando dessa forma, pode parecer desesperador e muito conclusivo. Mas concluir que a relação entre duas coisas necessariamente significa que uma delas é a causa e a outra é consequência é uma forma comum de engano, porém é, sim, uma técnica muito utilizada para o desenvolvimento de hipóteses que podem inspirar a realização de mais pesquisas.”

A acadêmica dá um exemplo simples. “Certos dados de uma pesquisa fictícia podem apontar para o fato de que os dias que as vendas de sorvete de uma região aumentam são os dias em que mais pessoas morrem afogadas. Isso significa que comprar sorvete é um fator de risco para o afogamento? Não necessariamente. Ambos podem apenas estar relacionados por um terceiro fator em comum. Nesse caso, o calor. Dias quentes vendem mais sorvetes e também fazem as pessoas nadarem mais. Para investigar se tomar sorvete causa afogamentos, outras pesquisas precisam ser feitas.”

Assim, diz Beatriz, o mesmo acontece com o estudo sobre as tatuagens. “Não se pode concluir com tanta convicção que as tatuagens causam o linfoma maligno, pois estes fatores não são necessariamente um par de causa/consequência.”

A acadêmica lembra que o estudo publicado recentemente vem recebendo diversas críticas da comunidade científica pela sua conclusão extrema. “Timothy Rebbeck, epidemiologista do Dana-Farber Cancer Institute e professor da Escola de Saúde Pública de Harvard, acredita que a conclusão foi realmente exagerada.”

Mas, segundo a acadêmica, a relação encontrada pode ser base para estudos futuros para investigar uma possível relação entre tatuagens e resposta imunológica ou desenvolvimento de outras doenças. “Por enquanto, as evidências não são suficientes para confirmar essa relação causa/consequência que está sendo divulgada pela mídia.”

Produção: UP Vacina Projeto João Fake News (bit.ly/JoaoFakeNews). Roteiristas: Beatriz Calasense, Beatriz Cassiano Michelon e Wasim Aluísio Prates Syed Apresentadora: Beatriz Calasense e Beatriz Cassiano Michelon Edição: Rádio USP Ribeirão Preto

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