Existe risco de a Selic voltar a subir? Veja o que esses 3 bancos projetam

Ata do Copom reforçou a necessidade de uma política monetária contracionista para levar a inflação à meta de 3%

Embora o Banco Central não pareça inclinado a corroborar a necessidade de a Selic subir no curto prazo, como tem precificado o mercado de juros, a ata da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) “indica que o BC poderá reagir em caso de maior deterioração das expectativas de inflação”.

É o que observam os economistas do JPMorgan, cujo cenário básico continua a ser o da taxa básica de juros parada. Ou seja, apostam nos atuais 10,5% no futuro próximo.

“A ata soou mais hawkish que o comunicado de semana passada – por exemplo, ao aumentar o juro neutro e discutir novamente a simetria do balanço de riscos -, mas com a notável ausência de um debate sobre aumento da taxa de juros por qualquer um dos membros do comitê”, notam Cassiana Fernandez e Vinicius Moreira.

Para eles, esse é um sinal de que o Copom tentou não sancionar a precificação de mercado. Em relatório enviado a clientes, Fernandez e Moreira observam que o Copom prevê um crescimento econômico mais forte que o esperado neste ano. Isso diante de um hiato do produto próximo da neutralidade neste momento.

“Além disso, o BC reforçou que, embora a inflação não tenha divergido significativamente das projeções, a parte (persistente) dos serviços no IPCA deverá ganhar mais importância dado o fim da desinflação nos preços de alimentos e bens”, apontam os profissionais.

Próximos passos

A ata do Copom trouxe explicações sobre os motivos que levaram o Banco Central a interromper o ciclo de afrouxamento. E, de acordo com o Itaú, reforçou a mensagem de unanimidade dentro do colegiado em vez da possibilidade de a Selic subir.

“Por ora, seguimos com a visão de que o Copom manterá a taxa Selic inalterada em 10,50% a.a. durante todo o horizonte de política monetária. Nada nesta ata sugere que o próximo movimento da Selic será de queda”, afirmam os economistas do banco.

Em relatório enviado a clientes, o Itaú destaca dois pontos do documento publicado pela autoridade monetária. O primeiro deles é que o Copom aumentou sua hipótese de taxa neutra de juros – aquela que não acelera e nem desacelera a inflação. A hipótese foi de 4,75%, ante uma projeção anterior de 4,50%.

Além disso, o comitê considerou que o hiato do produto fechou. Isso, na avaliação da instituição financeira, torna mais difícil equacionar a projeção de inflação de 3,1% para 2025.

O Itaú também nota que, ao abordar o balanço de riscos, o tom das autoridades foi um pouco mais duro do que nas comunicações anteriores.

“Anteriormente, indicaram que alguns membros consideravam os riscos de inflação assimétricos para cima. Agora, afirmam que a maioria decidiu manter o balanço de riscos simétrico nessa reunião. Isso abre alguma margem para o endurecimento da retórica do Copom no futuro”, apontam.

Retomada do ciclo de cortes

O Copom buscou reforçar, na ata da decisão da semana passada, a mensagem de que irá manter a Selic parada em 10,5% por um período prolongado. É o que afirmam os economistas do Santander.

Para eles, a Selic subir não é o esperado. Afinal, o banco continua a projetar a taxa de juros em 10% no fim deste ano, com reduções de 0,25 ponto percentual nas duas últimas reuniões do Copom deste ano.

“Mas sublinhamos um viés de alta significativo na nossa projeção, dadas as últimas comunicações do comitê”, afirma a equipe de economistas do Santander, liderada pela ex-secretária do Tesouro Ana Paula Vescovi.

“Na nossa opinião, o Copom não está buscando apenas estabelecer um sarrafo elevado para aumentar a taxa de juros, mas também para reduzi-la ainda mais. Assim, vemos uma chance crescente de manutenção da taxa por mais tempo que o esperado”. É o que observam os economistas do Santander em nota enviada a clientes.

“Apesar de optar por manter inalterado o balanço de riscos e reconhecer que o atual processo de desinflação está em linha com suas projeções, o Copom citou algumas fontes de preocupação”.

Eles notam as surpresas na atividade econômica e a resiliência do mercado de trabalho. Além disso, as implicações das enchentes no Rio Grande do Sul e alterações no cenário do Copom para o hiato do produto, que está próximo da neutralidade, e para a taxa de juros neutra, que passou de 4,5% para 4,75% em termos reais, em linha com as projeções do banco.

Com informações do Valor Econômico