PIB do 1º trimestre surpreende e mantém projeções otimistas para 2024

PIB do primeiro trimestre cresce 0,8% e reforça projeções otimistas para 2024; impactos de enchentes no RS devem abalar economia no 2º tri

O PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre de 2024 superou expectativas do mercado financeiro e reforçou projeções mais otimistas de economistas para o crescimento da economia brasileira em 2% até o final do ano.

Entre janeiro e março, a economia expandiu 0,8%, apoiada no forte consumo das famílias, serviços e também investimentos. O resultado levou o banco Goldman Sachs a aumentar a projeção do PIB real de 2024 de 1,9% para 2,1%.

A queda da Selic de 13,25% para 10,50% entre agosto de 2023 e maio deste ano levou a uma participação maior dos investimentos no PIB.

Claudia Moreno, economista do C6 Bank, afirma que a taxa de juros “deixou de atrapalhar parte” da Formação Bruta de Capital Fixo, que cresceu 4,1%. O BNP Paribas espera um ano de maior contribuição de investimentos no PIB.

Surpresas do 1º trimestre jogam a favor do PIB de 2024

Para economistas, o resultado do PIB do primeiro trimestre reforça projeções de crescimento do PIB de 2024 de 2% ou mais.

Dados da produção da economia brasileira vieram acima do consenso formado por analistas, de 0,7%. Assim, é esperado que alguns dos principais setores que puxaram o crescimento da economia entre janeiro e março continuem a ter efeito positivo no PIB pelo resto de 2024.

Para Laiz Carvalho, economista do BNP Paribas, o crescimento do Consumo das Famílias, de 1,5%, é um desses propulsores, assim como o crescimento de Serviços. Entre janeiro e março, o setor expandiu 1,4%.

“O Consumo das Famílias vai acabar suportando o crescimento durante o ano inteiro”, diz. Além do consumo, a Formação Bruta de Capital Fixo (investimentos) se recuperou no primeiro trimestre, com aumento de 4,1% ante 0,5% no primeiro trimestre de 2023.

“Temos a visão de que o investimento terá um desempenho melhor neste ano do que no ano passado. Então tivemos boas surpresas, e isso vai acabar fazendo com que não mudemos nossa projeção de PIB para o ano”, afirma a economista.

O Itaú afirma que o PIB do primeiro trimestre “veio próximo da expectativa” do banco.

Na visão da equipe do economista-chefe Mário Mesquita, o resultado foi construído em grande parte pelo “consumo resiliente e recuperação do investimento”.

O Itaú afirma que o aumento da renda advém do mercado de trabalho aquecido, pagamentos de precatórios e benefícios sociais vinculados ao salário mínimo.

Além disso, “a queda das taxas de juros” contribuiu para o forte crescimento do PIB nos primeiros três meses do ano. O Itaú, assim, projeta um crescimento do PIB de 2,3% para 2024. Mas ressalta que “ainda não incorporou os efeitos das enchentes no Rio Grande do Sul”.

Impacto das enchentes do Rio Grande do Sul devem vir no 2º tri

O mercado, contudo, explica que os efeitos das enchentes no Rio Grande do Sul devem trazer impactos negativos para o PIB no segundo trimestre.

Apesar de rever a projeção do PIB real do Brasil em 2024 para cima, o Goldman Sachs pondera que “danos das enchentes ao patrimônio” gaúcho devem aparecer entre abril e junho.

As enchentes também levam o Itaú a ter projeções mais pessimistas para o PIB deste trimestre.

De acordo com Laiz Carvalho, apesar dos efeitos das enchentes, as surpresas positivas em consumo e serviços afastam impactos da inundação no Sul do país no PIB.

“Impactos do RS poderiam afetar nossa projeção, mas as surpresas positivas acabam pesando a favor e fazendo com que o BNP não altere projeções pelo momento”, diz a economista. O banco de investimento prevê um PIB de 2% ao final de 2024.

Crescimento do PIB reforça visão do Copom, dizem economistas

O crescimento do PIB no primeiro trimestre também reforça que a economia segue com a atividade forte. O resultado vem em linha com a última decisão do BC sobre o corte de 0,25 ponto percentual na taxa de juros.

Esta é a avaliação de Claudia Moreno, economista do C6. Para ela, nada muda na condução da política monetária a partir dos dados divulgados pelo IBGE nesta terça-feira (4).

“Esperamos um corte de 25 bps na Selic para a próxima reunião”, diz Claudia. “Mas achamos que com a piora recente das expectativas de inflação do Focus, o BC não venha a dar esse último corte e termine o ciclo em 10,50%. Mas isso tem mais a ver com expectativas de inflação e dólar do que com o PIB.”

Para Matheus Pizzani, economista da CM Capital, “o resultado do PIB de hoje trouxe mais evidências” de que o chamado hiato do produto, que pode levar a pressões inflacionárias, “talvez não esteja tão fechado quanto os membros da autoridade monetária esperavam e gostariam”.

Pizzani chama a atenção para o crescimento do setor de Serviços. “O setor parece sentir relativamente menos a política de juros da autoridade monetária do país, tornando ainda mais difícil sua missão de restabelecer a normalidade monetária.”

A pressão sobre o BC mantém, segundo o economista, uma perspectiva de que “a Selic tende a permanecer elevada por mais tempo”.