De volta em “Água Viva”, Betty Faria aponta sua personagem como precursora do feminismo e confirma estar em nova trama das 19h


O Verão de 1980 está de volta ao Globoplay. Novela de Gilberto Braga e que lançou o primeiro “quem matou?” da carreira do autor, “Água Viva” traz de volta o Rio de Janeiro de 44 anos atrás. Para Betty Faria, que foi a protagonista, há também o grande debate em cima da questão do feminismo que ainda que hoje seja muito presente na contemporaneidade, era ainda muito incipiente naquela época – especialmente em razão de estarmos em plena ditadura. “Acertando e errando, fazendo coisas condenáveis, mas sendo feliz e independente. Vejo em Lígia um prenúncio feminista”. A novela quando foi exibida tanto aqui como em Portugal auxiliou mulheres a se libertarem das amaras do machismo. Betty confirma que está escalada para “Volta por Cima”, próxima novela das 19h.

*por Vítor Antunes

Um Rio de Janeiro solar, uma cidade charmosa com personagens muito longe de uma idealização novelesca. Todos são erráticos, vacilantes, imperfeitos. Talvez esta seja uma das mais marcantes características de “Água Viva“, novela de Gilberto Braga (1945-2021), que passou a estar disponível na íntegra, no Globoplay. Exibida originalmente há 44 anos e reprisada há 11, finalmente a trama está de volta no streaming global. Para Betty Faria, a personagem Lígia é a precursora do feminismo nas novelas. “Foi muito bom ter uma personagem feminista. Ela teve coragem, em 1980, de sair de um casamento tóxico, mesmo tendo filhos. Lígia não trabalhava, era dona de casa, mas saiu, foi trabalhar, alugou um apartamento, se arriscou, foi à luta. Isso foi muito positivo”.

Eu me lembro da Lígia como uma pessoa em busca da felicidade, acertando e errando, fazendo coisas condenáveis, mas sendo feliz e independente. A vejo como um prenúncio feminista. Ela sempre se manteve à própria custa. Ela casou com o Miguel Fragonard (Raul Cortez [1932-2006]), que tinha uma filha que era contra a união deles, mas ainda assim ela casou por acreditar naquele relacionamento” – Betty Faria

Segundo conta Betty Faria, a novela em Portugal fez muito sucesso por promover àquelas mulheres a contestação e a recusa a se manterem em casamentos infelizes, bem como promover uma maior inteligência – e independência – emocional. “As portuguesas ficaram muitos anos durante a ditadura de Salazar com uma vida oprimida, com muito preconceito. Foi uma liberação. A Lígia foi um exemplo para as mulheres”.

Além de “Água Viva”, que está de volta ao Globoplay, Betty poderá ser vista em breve numa nova novela: “Volta por Cima“, de Claudia Souto, às 19h. Esta é a quarta novela das sete na qual a atriz trabalha. A obra está em pré-produ��ão e o que já se sabe é que a personagem chama-se Belisa e é uma socialite falida. “Estamos em preparação. Temos encontros, estamos vendo os personagens, o visual, as roupas, mas ainda não posso falar muito sobre a novela. Tenho que esperar um start do departamento de comunicação da Globo, mas estou contente de fazer novela e de voltar”.

Betty Faria vivia Lígia em “Água Viva” e ficava viúva no decorrer da trama (Foto: Divulgação/Globo)

Após mais de quatro décadas, para a atriz é difícil apontar as transformações estéticas e narrativas que o gênero sofreu e como a trama será interpretada pelo público jovem. “É difícil eu ter uma postura analítica. Eu sou muito noveleira, faço e assisto. Acho que novela é o carro-chefe brasileiro. O Brasil sempre foi futebol, samba e novela. A Globo fez as melhores sempre e a todo tempo. Claro que hoje é diferente, as cenas são mais curtas, as novelas têm mais núcleos variados. Para mim são novelas diferentes, apenas. As outras tinham o pobre, o rico, o vilão, não tinham muitos núcleos, as cenas eram menores. Tudo está ficando diferente, até mesmo onde filmávamos. Antigamente era no Jardim Botânico, e o Estúdio A ficava com os maiores. Hoje temos o Projac, temos cidade cenográfica, e é uma outra época. Eu sou encantada com o presente”.

Betty Faria foi Lígia em “Água Viva” (Foto: Nelson di Rago/Globo)

BETTY, COM L

Tal como Liza Minnelli batizou sua peça como “Liza com Z“, Betty poderia falar de si da mesma forma, diante de suas parcerias com autores. “Água Viva” é a primeira novela em que Betty Faria estabelece parceria com Gilberto Braga. Antes desta, já houve um convite do novelista, que queria que ela desse vida à Júlia Mattos, papel que acabou ficando com Sonia Braga em “Dancin’ Days“. Inclusive, depois da trama que estreou na última segunda no Globoplay, Betty faria outros trabalhos com Gilberto, como as séries “Labirinto” e “Anos Dourados“. Nesta última, houve uma exceção, pois sua personagem chamava-se Glória. As demais, todas personagens com nome iniciado com a letra “L” – além de Lígia em “Água Viva”, e Leonor em “Labirinto”. Janete Clair (1925-1983) também manteve a brincadeira de iniciar as personagens com a letra L. Foram Lucinha em “Pecado Capital” e Leda em “Duas Vidas“. A tradição foi iniciada com Janete e mantida por Gilberto, segundo Betty conta.

A atriz relata que ela e Gilberto Braga não tinham uma amizade próxima, mas uma relação profissional, afetiva. “Com muito amor e gratidão. Tenho muito apreço por ele, por Aguinaldo Silva, por Glória Perez, pela minha querida e falecida Janete Clair, e outros autores que me deram chances, acreditaram em mim e pensaram em mim para seus projetos, o que me deixa muito feliz”.

Betty Faria e Raul Cortez eram casal, nesta que é a primeira novela dele na Globo (Foto: Divulgação/Globo)