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Palco de B.B. King e Nina Simone, Bourbon Street corre o risco de fechar as portas em São Paulo

Casa de jazz e blues sofre com o abre e fecha imposto pela pandemia e procura ajuda de investidores

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São Paulo

Na mesma semana em que o bar Ó do Borogodó —um dos refúgios em São Paulo para quem gosta de samba— anunciou que deve fechar as portas nos próximos dias, o Bourbon Street, outra casa que é referência musical na capital paulista, se juntou ao coro dos que podem não resistir ao abre e fecha imposto pela pandemia.

Conhecida por receber grandes nomes do jazz e do blues como Nina Simone, Ray Charles, Diana Krall e B. B. King, que inaugurou o espaço em 1993 e fez quase dez shows por ali, a casa teve de interromper a programação novamente após o retorno da cidade para a fase vermelha do plano de quarentena estadual anunciado na última quarta-feira (3). Nessa etapa, que vale ao menos até o dia 19, apenas serviços essenciais podem funcionar.

O dono do clube, Edgard Radesca, conta que o local só conseguirá se manter se receber um investimento ou um patrocínio nos próximos meses. "Você aperta aqui e ali, mas essa insegurança mexe na expectativa das despesas. Se eu soubesse quando a pandemia iria acabar, teria um plano. Mas ninguém é capaz de dizer quando teremos uma vida próxima do normal de forma responsável”, diz.

Desde o começo da pandemia, o Bourbon rebola para se manter vivo. Radesca cortou custos, usou os meses de casa fechada para criar o anexo Jazz Café e, desde a reabertura das casas, em outubro de 2020, recuperou o fôlego mesmo atendendo com a capacidade reduzida. O que atropelou os planos de retomada foi novo crescimento nas contaminações por Covid-19, o que endureceu a quarentena neste ano.

“A reabertura na fase verde teve um ótimo desempenho, mas aí veio a volta da fase amarela, o que deixou as pessoas mais preocupadas. Seguimos a vida com dificuldades, mas desde dezembro praticamente não conseguimos trabalhar”, conta.

O BS Jazz Cafe, no Bourbon Street, em São Paulo - Divulgação

Manter uma casa de shows que também funciona como restaurante representa um desafio duplo na hora de se adaptar às mudanças de funcionamento, segundo o empresário. “Perde-se comida, produtos passam da validade. E, quando você tem música ao vivo, depende da agenda do artista e precisa de uma ou duas semanas para se recuperar de uma parada como essa”, explica.

Segundo ele, a dificuldade ainda é somada à falta de medidas de apoio mais vigorosas por parte do governo. “O universo das artes só teve um alento pela Lei Aldir Blanc, que deu uma injeção de recursos. Mas não existiu, para restaurantes, bares e muito menos para quem faz música ao vivo, o tipo de ajuda que aconteceu nos países desenvolvidos, que fosse suficiente para manter as despesas básicas.”

Mesmo com os tropeços, Radesca se mantém otimista e conta que já recebeu algumas ligações com potencial para salvar o local. “Não quero pensar na hipótese de fechar e estou lutando para que alguém nos dê alguma oportunidade de atravessar esse segundo deserto, já que o primeiro atravessamos sozinhos”, afirma.

Edgard Radesca, proprietário da casa de shows Bourbon Street, posa no espaço - Ana Paula Paiva/Valor/Agencia O